sábado, 15 de setembro de 2012

Campanhas sem dinheiro


Campanhas quase à míngua

Crise e exposição de doadores levam comitês a não atingirem as metas
Publicado no Jornal OTEMPO em 14/09/2012
GUSTAVO PRADO
Além da disputa por votos, a eleição para prefeito de Belo Horizonte também se dá na busca por recursos. E, nessa corrida, todas as campanhas estão sendo derrotadas. A arrecadação dos dois principais candidatos na capital está muito abaixo do projetado pelos comitês, mais de dois meses após o início do período eleitoral. Restando apenas 23 dias, Marcio Lacerda (PSB) e Patrus Ananias (PT) captaram aproximadamente 10% da previsão inicial.

O socialista, que tenta a reeleição, arrecadou pouco mais de R$ 17 milhões no pleito de 2008. De acordo com a segunda parcial da prestação de contas desta ano, a receita, até 2 de setembro, foi de R$ 3,1 milhões - valor superior à segunda prévia de 2008 -, mas muito distante da meta total de R$ 35 milhões previstos para a disputa atual. Nos últimos quatro anos, a inflação geral acumulada gira em torno de 25%.

Marcelo Ab-Saber, coordenador financeiro da campanha de Lacerda, admite que o valor não será alcançado. "Existe uma certa inércia na arrecadação, que, neste ano, está um pouco mais acentuada. Está difícil aproximar daquele valor", afirmou.

A campanha de Patrus também vem encontrando mais dificuldade para captar verba do que previa. O petista, que agora conta com o apoio do PMDB, conseguiu arrecadar mais do que o peemedebista Leonardo Quintão na segunda parcial de 2008. Agora, o ex-ministro obteve R$ 2,1 milhões, enquanto que, em toda a campanha de quatro anos atrás, Quintão teve receita de R$ 2,7 milhões.

O valor obtido por Patrus até o momento, porém, também está distante do total de R$ 25 milhões esperados. "Devemos fechar bem abaixo deste valor. As doações para o Patrus ficaram muito aquém. É uma campanha humilde, do tamanho que dá para a gente fazer", afirmou Gleide Andrade, coordenadora das finanças da campanha petista.

Leitura. Para o cientista político Rudá Ricci, uma série de fatores influencia esse cenário, como a crise econômica e a exposição das empresas que financiam as candidaturas. "As empresas estão preocupadas em como será o ano que vem, se a crise econômica estará totalmente superada. Elas estão com o freio puxado", afirmou.

O professor alerta ainda para a reta final da campanha, quando doações não-oficializadas podem aparecer. "O dinheiro não está entrando como se imaginava. A preocupação vai ser nos dez ou 15 dias finais, quando as campanhas começam a entrar no desespero, e arrecadações não-oficiais podem surgir", analisou.

Os repasses feitos pelos próprios partidos são apontados como passíveis de irregularidades por Ricci. Os valores, transferidos através de doações, não têm origem demonstrada nas prestações.
Mensalão pode não ser mera coincidência
A coincidência entre o julgamento do mensalão e as eleições municipais pode ter influenciado na arrecadação de verba para as campanhas abaixo das expectativas. O escândalo político teve como principal ponto de partida o financiamento de candidaturas.

"O mensalão criou uma intimidação nas grandes empresas, por ficarem expostas. A judicialização da política mineira também contribuiu nesse processo. As empresas não querem aparecer", afirmou o cientista político Rudá Ricci.

Mesmo sem admitir o peso do julgamento, as campanhas admitem que o apoio financeiro das empresas diminuiu. Segundo os coordenadores, mesmo dentro da legalidade, as empresas estão receosas em se expor. (GP)

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