sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Ainda sobre a nova classe média

Embora instigante, Marcio Pochmann trava um debate, no início de seu livro (veja nota anterior), de ordem moral e não acadêmica. Afirma que se trata de uma "orientação alienante" naqueles que sugerem a emergência da Classe C. O conceito de Classe C é frágil, mas não se trata de um descuido, mas de orientação política e acadêmica.
O conceito de classe social utilizado por Pochmann se aproxima dos termos marxistas, onde a classificação social se relaciona com os meios e nas relações de produção.
Já o conceito de Classe C se relaciona com o posicionamento no mercado de consumo. Algo mais reduzido que a noção de classe social em Weber, embora se aproxime. A Classe C está na mediana entre estratos de renda e consumo.
Pochmann evidentemente tem consciência desta distinção conceitual, mas resvala no embate teórico. Evidentemente que exigiria um trabalho de maior fôlego. Mas parece ser fundamental que este debate seja travado. Caso contrário, ficam camufladas as políticas que nascem desta distinção. Confusão que parece presidir a escolha do comando do IPEA no governo Dilma.

8 comentários:

Gustavo disse...

Confesso que estou com dificuldade para entender o seu ponto, e as perguntas que seguem talvez estejam contaminadas pela minha confusão e portanto, sem sentido. Mesmo assim, arrisco.
Por um lado, você expõe o fato de Pochmann ter partido de Marx para localizar a sua leitura dos índices econômicos, ao recusar a classificação "Classe C", que seria mais frágil e de amplitude reduzida.
1 - Qual é a questão nisso?
2 - O que você está tentando apontar é que Pochmann pretende "reaproximar" o PT de bases ideológicas mais consistentes - as que talvez existissem na origem do partido - e com isso servir de contraponto aos que dizem que o PT nada mais fez (faz) do que cumprir os mandos do capital? É este o seu ponto?
3 - E o que haveria de problemático nessa "reaproximação", se o exposto no item anterior proceder?
Obrigado.

Rudá Ricci disse...

Gustavo,
1) Estou afirmando que o debate acadêmico no Brasil está abaixo nível que poderia ser considerado razoável;
2) Pochmann desqualifica moralmente o argumento de Neri, mas não entra no debate teórico e político. Está sendo uma constante em nosso país: trata-se do efeito Lula que didatiza tudo e joga o embate para questão meramente moral;
3) a questão não é de juízo de valor (marxismo, weberianismo ou lógica de mercado na classificação social), mas epistemológico, de teoria do conhecimento;
4) Minha tese sobre o PT é que se tornou o partido da ordem, da ordem vigente. Aumentar o número de consumidores é excelente, mas não muda ordem alguma. Não trabalhou a inserção pelo direito ou pela política. Aliás, a atual fase petista é deplorável porque só pensa em ser popular, em se rebaixar ao processo eleitoral;
5) Não fiz crítica à reaproximação. Fiz crítica ao rebaixamento do embate teórico. Ao invés de adjetivos, seria importante Pochmann entrar no mérito da diferença.
Que fique claro: admiro Pochmann e denunciei a articulação da FGV-RJ e do Mangabeira Unger para derrubá-lo do IPEA (vejam várias notas neste blog, colocando o nome do Mangabeira na janela de busca)

Gustavo disse...

Obrigado por tentar esclarecer um evidente leigo como eu.
O que acho que está me causando confusão é que Pochmann parece compartilhar da mesma reclamação que você faz.
Diz ele no tal trecho da "orientação alienante":
" O que há, de fato, é uma orientação alienante sem fim, orquestrada para o sequestro do debate sobre a natureza e a dinâmica das mudanças econômicas e sociais, incapaz de permitir a politização classista do fenômeno de transformação da estrutura social e sua comparação com outros períodos dinâmicos do Brasil" (grifo meu)
E diz num trecho adiante:
"Percebe-se sinteticamente que a despolitizadora emergência de segmentos novos na base da pirâmide social resulta do despreparo de instituições democráticas atualmente existentes para envolver e canalizar ações de interesse para a classe trabalhadora ampliada. Isto é, o escasso papel estratégico e renovado do sindicalismo, das associações estudantis e de bairros, das comunidades de base, dos partidos políticos, entre outros."
O que você está tentando dizer na sua análise, portanto, é que Pochmann diz que vai fazer o debate para permitir essa politização classista que ele e você demandam, mas não o faz?
E em que medida, exatamente, deixa de o fazer (ou, em outras palavras, o que é, então, que dizem as 127 páginas desse livro?)

AF Sturt Silva disse...

Rudá tem como vc escrever sobre a diferença entre o grupo da UNICAMP e FGV-RJ. Quais as diferenças?

Por que o governo prefere a turma de Campinas no IPEA?

Rudá Ricci disse...

Sturt,
A diferença é que o CESIT/Unicamp é marxista (além de Pochmann, a equipe contava com Jorge Mattoso e DeDecca). A FGV-RJ é majoritariamente liberal. O governo federal tinha dado o comando do IPEA para Pochmann, mas há duas semanas, assumiu o IPEA o economista Marcelo Neri, da FGV-RJ, apoiado por Moreira Franco (que preside a SAE) e Mangabeira Unger (idolatrado pela FGV, mas que considero pouco sério em suas análises sobre o Brasil).

AF Sturt Silva disse...

Mas não é por que o IPEA é candidato não? Quer dizer que isso não tem nada a ver...

Então, vc acha que o governo prefere a FGV-RJ, mais então por que manteve o Pochmann tanto tempo?

Mas deixa eu ver se entendi: o Pochmann não que travar um debate acadêmico por que isso refletira na política do (seu) governo?

Rudá Ricci disse...

Não, Sturt. O lulismo é contraditório porque é uma coalizão, ou seja, tem certa inspiração parlamentarista (ou quer incluir todo e aniquilar qualquer tipo de oposição). Daí oscilar entre liberais e social-democratas desde o primeiro governo Lula (ver composição do Ministério da Fazenda em 2003 e documentos que produziram sobre políticas sociais).

AF Sturt Silva disse...

Mas então por que vc insiste em 'bater' no Pochmann, em relação a ele não querer travar um debate acadêmico e sim moral...?