Do livro "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda:
"A expressão é do escritor Ribeiro Couto, em carta dirigida a Alfonso Reyes e por este inserta em sua publicação Monterey. (...) a palavra "cordial" há de ser tomada, neste caso, em seu sentido exato e estritamente etimológico (...)"
"(...) cabe dizer que, pela expressão ´cordialidade´ se eliminam aqui, deliberadamente, os juízos de valor éticos e as intenções apologéticas (...). Cumpre ainda acrescentar que essa cordialidade, estranha, por um lado, a todo formalismo e convencionalismo social, não abrange, por outro, apenas e obrigatoriamente, sentimentos positivos e de concórdia. A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, nisto que uma e outra nascem do coração, procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado"
"(...) horror às distâncias que parece constituir, ao menos até agora, o traço mais específico do espírito brasileiro. Note-se que ainda aqui nós nos comportamos de modo perfeitamente contrário à atitude já assinalada entre japoneses, onde o ritualismo invade o terreno da conduta social para dar-lhes mais rigor. No Brasil é precisamente o rigorismo do rito que se afrouxa e se humaniza."
"Essa aversão ao ritualismo conjuga-se mal - como é fácil imaginar - com um sentimento religioso verdadeiramente profundo e consciente. (...) No Brasil, ao contrário, foi justamente o nosso culto sem obrigações e sem rigor, intimista e familiar, a que se poderia chamar, com alguma impropriedade, ´democrático´, um culta que dispensa no fiel todo esforço, toda diligência, toda tirania sobre si mesmo, o que corrompeu, pela base, o nosso sentimento religioso."
"A uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto e em sua rancorosa incompreensão de toda verdadeira espiritualidade; transigente, por isso mesmo que pronta a acordos (...)"
"Assim, nenhuma elaboração política seria possível senão fora dela, fora de um culto que só apelava para os sentimentos e os sentidos e quase nunca para a razão e a vontade."
"Auguste de Saint-Hilaire (...) conta-nos como lhe doía a pouca atenção dos fiéis durante os serviços religiosos. ´Ninguém se compenetra do espírito de solenidades, observa. Os homens mais distintos delas participam apenas por hábito, e o povo comparece como se fosse a um folguedo."
Um comentário:
Isso lembra-me muito aquele Brasil colônia que pensei não existisse mais. Porém quando voce resolve dar um giro observa que muitas localidades brasileiras ainda estão imersas no século XIX em muitos aspectos. É como se a vida tivesse estacionada, parada no tempo.
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