Quando eu estudava na PUC-SP, andar nas ruas frias de São Paulo, de madrugada, era quase um esporte juvenil. Quase que se comparava à beber na "prainha" (perto da Paulista) até ver o sol raiar. Havia adornos para as caminhadas, principalmente após um show (lembro de Caetano Veloso no Teatro Municipal). E era comum o som de Ronda. Assim como Sampa, era quase uma identidade. As duas pareciam dialogar com o velho Adoniran Barbosa, que fazia melodias chorosas. Quase sempre faziam contraponto às experimentações que o Maurício Kubrusly listava num programa de rádio na Excelsior (se não me engano): do Arrigo Barnabé e Itamar Assunção, passando pelo Rumo, Premeditando o Breque, quase sempre passando pela Praça Benedito Calixto (Vila Madalena), o point libertário, que fazia par com seu irmão mais intelectualizado, o Spazio Pirandello, e o mais escrachado, o Riviera (na Consolação). Tenho a impressão que somente mais tarde a Praça Vilaboim foi se tornando um outro point, muito mais refinado, construído à imagem e semelhança da alta cúpula do tucanato.
Mas, voltando àquele tempo de estudante, Ronda fazia parte de nossas passagens, de bar em bar.
E era sempre uma surpresa quando alguém informava que o autor daquele hino era um professor da USP, zoólogo. Paulo Vanzolini passou a ser fonte de pesquisa de jovens dos anos 1980 a partir daí. Descobríamos "Volta por Cima" e "Praça Clóvis" que engatilhava com Paulinho da Viola e, sempre, Adoniran. Quando reabriu o Ponto Chic, que Adoniran gostava de tomar umas acompanhadas pelo verdadeiro bauru, fui bater cartão. Em grande estilo, já que era "foca" do Jornal da Tarde (outro que se foi) e fui escalado para acompanhar uma jornalista e um fotógrafo para a reinauguração daquele marco paulistano. Ganhamos chopp e bauru, de lambuja (um dia escrevo mais sobre minhas "matérias" como foca do JT, uma página interessante do meu aprendizado).
Vanzolini era nosso amigo de noitadas, sem nunca ter sido convidado e nem mesmo saber.
Acho que é este o sentimento que fica quando soube do seu falecimento, ontem, aos 89 anos, vítima de pneumonia.
Fiquei pensando o que teria levado um baita compositor de sambas tristonhos a se dedicar aos estudos dos répteis. Uma questão absolutamente sem sentido, mas que me surgiu porque havia algo na alma deste personagem paulistano que sempre me pareceu recatado e enigmático como seu objeto de estudo.
Evidentemente, uma questão sem nexo. Aliás, quem encontrou a melhor tradução para o compositor foi Ricardo Dias, que em 2009 produziu um comentário sobre Vanzolini cravando o títluo: "Um homem de Moral".
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