segunda-feira, 1 de abril de 2013

Excelente pessoa, péssimo político

A frase é de Pedro Nava sobre Duarte de Abreu. Está no último livro de Gabeira, "Onde está tudo aquilo agora?", publicado pela Cia das Letras no ano passado. Quando li esta frase, logo me veio à mente que se tratava de um ato falho de Gabeira. Porque o político carioca é evidentemente pior que o escritor e jornalista mineiro/carioca. Gabeira escreve fácil, é cativante, sincero, meio saudosista.
O político é errático e rancoroso, tanto que se aliou com o que criticava no ex-aliado.
Pouco depois, percebi que a frase cabe a quase todas lideranças de oposição ao lulismo, o que me confunde. Vários expoentes anti-lulistas são boas pessoas. Alguns, até excelentes. Mas são péssimos políticos porque acreditam que são traídos por seu tempo. Na verdade, não conseguem fazer uma leitura realista do Brasil contemporâneo e quase jogam a toalha. Se pararmos para pensar, fora a vertente DEM, os oposicionistas são majoritariamente oriundos da esquerda. Portanto, é de se imaginar que levem, em algum lugar da memória, os vícios antigos da utopia quixotesca e da eterna esperança de se redimirem pela história, que os absolverá dos fracassos momentâneos.
Não consigo me convencer que a oposição que está aí seja melhor, efetivamente, que a situação (que não me agrada). Não sei nem mesmo se seria a troca de seis por meia dúzia. Minha intuição sugere que seria pior, quase uma corrida de sedentos ao pote de água que parecia intransponível. O discurso que carregam, vazio de sentido real, rancoroso e personalista sugere que a justiça divina tarda, mas não falha, e que se veem na fila de espera, que está encurtando a cada eleição. Ora, este é o mesmo discurso dos agrupamentos de esquerda que não passavam das agremiações estudantis e, no máximo, atingiam algum sindicato marginal. Mas logo os anos de penúria seriam superados pela justiça abstrata da história (escreviam com "H" maiúsculo, lembro bem).
Esse pessoal tem algo de passadista, emocionalmente anacrônico. Mas são excelentes pessoas.

4 comentários:

Brega Legal disse...

Pelo que eu entendi, só existem duas opções: ou a situação atual que subsiste graças à corrupção; ou a oposição atual que subsistiria graças à corrupção. Melhor dizendo, ou a situação atual com a base de apoio formada por Renan, Collor, Borges, Maluf, Jader e a família Sarney; ou a oposição com a base de apoio formada por Renan, Collor, Borges, Maluf, Jader e a família Sarney.
Acho que não. Existem outras opções, algumas piores, mas muitas melhores. Basta QUERER.

Rudá Ricci disse...

Brega,
Existem duas opções, no momento, em relação à disputa institucional. É óbvio que a sociedade gera muitas outras opções e o mundo da política não se reduz à luta institucionalizada em partidos. Porém, neste campo mais restrito da disputa (que a minha nota se concentrou) temos realmente, até o momento, duas opções. Gostaria que surgissem outras, mas veja que até o momento, até porque é muito inicial, a candidatura de Eduardo Campos está sendo capturada (ou disputada) por vários ícones da aliança oposicionista majoritária (PPS, PSDB e DEM). Marina Silva ainda é uma promessa (bem factível), já que ainda não registrou formalmente a Rede. Mas temo que a candidatura (não a candidata) seja impelida ao discurso eleitoreiro fundamentalista, angariando simpatias ultraconservadoras e populares. É, contudo (reafirmo), uma promessa, uma incógnita. No campo mais à esquerda, PSTU, PSOL e outros partidos não chegam a atingir 2% do eleitorado do país, sendo o que denominamos de traço estatístico.
Há, evidentemente, dificuldades colossais em relação à formatação de algo que seja efetivamente original e alternativo aos dois polos (Lulista e Tucano).

Fernando "de La Mancha" Magno disse...

Show de esclarecimento Rudá! Mas gostaria de acrescentar um importante detalhe: haverá renovação significativa no poder legislativo. É uma das saídas para sair desse jogo do trocar seis por meia dúzia. Abç

Brega Legal disse...

Não discordo de seus comentários sobre Eduardo Campos, Marina, a Rede, PSOL, etc... Mas dentro do quadro atual, nada mudaria.
Ou seja, depois de 12 anos no poder, o PT e sua valorosa base aliada o que conseguiram objetivamente? Alguma reforma política ou eleitoral que melhorasse a representatividade popular? Alguma reforma estrutural no sistema de saúde pública? Alguma reforma nas bases do sistema educacional que permitisse ao Brasil melhorar o desempenho de seus alunos no mercado de trabalho? Alguma reforma importante no sistema jurídico que permita ao brasileiro comum confiar mais na justiça de seu país? E alguém acha possível esse nosso Legislativo adentrar as esferas de mudanças estruturais que extinguiriam seus enormes e injustos privilégios?
Portanto - e esse é meu ponto específico - depois de 12 anos no poder, toda a esperança da nação e do povo brasileiro em ver mudanças reais desapareceu. Escafedeu-se. Tomou Doril. Sumiu. Mas os 300 picaretas aumentaram seu poder e su riqueza.
Ah sim... Esqueci! Tem o Bolsa Família. 140 reais por mês acabaram com a miséria no país. (mas não conte a ninguém que o Fundo da Pobreza que foi criado para financiar o início disso tudo foi assina durante o período que ACM era Presidente do Senado. Ideia dele. Ssshhhhh!!!)