sábado, 13 de abril de 2013

Entrevista à Paulo Filho sobre antecipação da campanha eleitoral


1) Faltando ainda quase dois anos para a eleição presidencial, o governo Dilma se movimenta e se reorganiza priorizando a disputa. Nesse caso, a estratégia eleitoral não se sobrepõe assustadoramente sobre as necessidades da administração do país?
Rudá Ricci: Em parte. Seria totalmente verdade se um governo só pensasse em eleição em ano eleitoral. O que é uma inverdade em função, inclusive, do calendário eleitoral. Temos eleições a cada dois anos no Brasil, que se articulam muito fortemente. O prefeito eleito que recebeu apoio de um deputado ou governador, terá que retribuir dois anos depois, quando deputados e governadores se candidatam à reeleição ou procuram fazer seu sucessor ou apadrinhado. Esta roda eleitoral gira nos intervalos eleitorais, quando obras e convênios são conquistados, justamente porque não há recursos minimamente suficientes para municípios e maioria dos governos estaduais. Em segundo lugar, a disputa entre lulismo e tucanos está virando caso de sobrevivência real. PT sem governo federal, em função da centralização do orçamento público na União, seria pouco e teria pouco a oferecer aos municípios. PSDB, por seu turno, sem MG e SP, estaria fadado a ser um partido nanico. O embate está levando os dois partidos a mobilizar todos seus recursos, ano a ano, o que vem aumentando os custos políticos e eleitorais. A antecipação da campanha eleitoral se deve, do ponto de vista governamental, aos indicadores econômicos que poderiam gerar impacto negativo na população mais carente, algo que parece que até o momento não parece ocorrer.

2)  Está muito claro que a reorganização do governo busca garantir alianças que, mais do que "ganho político", apenas auferem maior tempo na propaganda eleitoral gratuita (rádio e tv). A presidente Dilma, trazendo de volta ao seu governo pessoas que foram afastadas por fraudes e corrupção, não corre risco de perder apoio em setores da sociedade que acreditaram na "faxina ética"?  
R: Sim. O problema é que esta parcela social não tem peso político significativo. Estudo recente de André Singer (ver o livro “Os Sentidos do Lulismo”) revela que o voto popular (de baixa renda) é o que dá suporte ao lulismo, principalmente a partir de 2006. Pesquisas do IBOPE, em especial a realizada em 2006 sobre valores e corrupção, indicam que 75% da população brasileira não se interessa sobre questões éticas e morais no campo político, possivelmente porque não acreditam que esta dimensão possa ser ética (ou porque historicamente não demonstrou qualquer aptidão ética). Assim, a relação com a política e governo é utilitarista, cínica e pragmática. Nunca o dístico “rouba, mas faz” teve tanto significado para a maioria dos brasileiros como agora. Sinteticamente: o PT, há anos, não se interessa pelo público de classe média, que é o segmento social mais envolvido com questões éticas e avaliações morais na conduta política.

3) Essa necessidade imensa de garantir alianças com "qualquer um" não põe uma pitada de dúvida nas pesquisas de popularidade da presidente? Ou seja: as pesquisas têm resultados reais (a avaliação do governo e da presidente é de fato positiva), mas sem "lastro" —a opinião da população pode mudar "sem muito esforço" (o governo é fraco). 
R: A questão central, para o governo, é o consumo popular como alicerce para a sua popularidade. Assim, os indicadores econômicos de emprego, poder aquisitivo, inflação e crédito, que rebatem diretamente no consumo popular, são indicadores que sugerem tendências de popularidade. Ora, estes indicadores fornecem sinalizações contraditórias sobre tendências (inflação crescente, mas queda nos índices de desemprego e aumento real de salários no último ano; movimentos erráticos da inadimplência com queda do crescimento de vendas e produção industrial). A reação do governo está sendo pontual e seletiva, produzindo medidas anticíclicas, como desoneração dos produtos da cesta básica de consumo, diminuição do valor da energia elétrica paga pelo consumidor e indústria, extensão da redução do IPI no setor automobilístico. Os efeitos econômicos são tímidos, mas o impacto político parece muito significativo, segundo dados do Datafolha.

4) Mesmo com os fatos mais recentes —novo depoimento do Marcos Valério e a consequente abertura de investigação pela PF e o caso da amante corrupta no governo, dentre outros—, o ex-presidente Lula ainda é um cabo eleitoral "imbatível"?
R: Parece que sim, inclusive pela tentativa da oposição em transformar a disputa com o PT em embate pessoal, personalizado. Houve uma tímida reação à gestão Dilma no início do ano, mas os líderes oposicionistas retornaram a focar Lula como alvo preferencial. Algo deve ter movido a mira oposicionista. O fato é que as pesquisas de opinião confirmam sistematicamente que Lula é mais popular e confiável que a Presidente Dilma Rousseff, a despeito de não estar sob os holofotes. Lula, enfim, parece ter conseguido colar sua imagem às das populações mais pobres e, inclusive, deslocando sua identidade com o PT.

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