sábado, 6 de abril de 2013

O escorregão de Aécio

Ainda não consegui entender claramente o maior escorregão político de Aécio como pré-candidato, até o momento. Em encontro com prefeitos paulistas realizado em Santos (57o Congresso Estadual de Municípios), citou a "revolução de 64" em seu discurso. A reação foi imediata, em especial, porque Santos foi palco da ação de organizações de esquerda (em especial, do PCB) e terra de Mário Covas. Os jornalistas perguntaram ao senador mineiro o motivo de ter utilizado tal expressão e a resposta foi ainda pior: disse que poderia ser ditadura, regime autoritário ou revolução, "como quiserem". Tentou emendar, dizendo que todos lutamos para que fosse vencido. Não dá. Alguém que está há tempos na política e quer dirigir o país, não pode tratar um momento dos mais agudos e dramáticos da vida brasileira como uma questão semântica sem maior importância. Mesmo porque, se confunde revolução com ditadura é porque está despreparado para entender as diferenças entre dois conceitos básicos para a democracia de um país.
Revolução, como nos ensinou Florestan Fernandes, é um processo de transformação econômica, social e política, uma mudança na estrutura de poder e até de classes sociais. O regime militar instaurado em 1964 foi um golpe para evitar justamente o que considerava esta mudança em curso. Não que o regime de João Goulart estivesse desencadeando uma revolução, mas era este o pensamento reacionário (de reação) militar.  Portanto, tratava-se da defesa do status quo e não sua transformação.
Golpe político é mudança de governo pela força, justamente o que ocorreu em 1964. O regime militar, autoritário (não totalitário), se instalou a partir de um golpe antidemocrático.
Aproveito para fazer uma breve explicação que diferencia ditadura/autoritarismo de totalitarismo. Os regimes totalitários mobilizam a sociedade, impedem a disputa ou competição política e vinculam os conceitos de nação com Estado e governo, procurando criar uma noção de corpo nacional unitário. Este foi o caso do nazismo e fascismo e muitos autores sugerem que pode ser empregado para caracterizar o mundo soviético, em especial, em sua fase stalinista. Já o regime autoritário se caracteriza pela desmobilização da sociedade, pela competição política limitada ou restrita e pelas seletividade de respostas às demandas econômicas e sociais. Este é o caso do regime militar brasileiro que admitiu disputa entre ARENA e MDB, mantendo eleições parlamentares, por exemplo.
Aécio parece ter escorregado, efetivamente. Utilizou a expressão revolução de 64 para dizer que, como agora (com o lulismo), inaugurou um período de concentração de poder no governo federal. Fiquei pensando se teria sido um descuido, demonstração de despreparo ou aceno ao ideário mais conservador.
Ainda não tenho total certeza, mas me parece, pelas circunstâncias (acenar para a direita em evento de prefeitos não me parece algo muito inteligente), me parece mais despreparo.
Que coisa!

2 comentários:

Djalma Eudes disse...

Aécio me parece mais aquele filho que herdam uma lojinha do pai (que por vezes a construiu com muita luta), porém não sabe muito bem o que fazer com isso e nem busca formar a competência para administrar o passivo. Independente do que possa ter sido Tancredo Neves para o sistema político, é inegável que ele consignou uma herança que, no entanto, não teve sustentação na figura dos filhos e, tampouco, do neto. O que ele tem é um legado eleitoral (prático, mas axiologicamente vago), em Minas, incapaz de sustentar algum valor social realmente defensável.

Marcus Vinícius disse...

Ato falho, meu amigo...


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