A questão não é, nem de perto, esta.
Há duas preocupações gerais, no campo da esquerda:
a) Os preços de alimentos são sazonais. Em pouco tempo cairão. Parte significativa dos economistas lulistas (alguns, nunca chegaram perto de nada que se pareça com pensamento de esquerda) jogam suas fichas neste vaticínio;
b) A inflação tupiniquim tem relação com as pressões externas, em função do modelo de crescimento econômico adotado pelo país. Esta é a tese de Guilherme Delgado, economista, consultor da Comissão Justiça e Paz. Vou reproduzir a tese central deste argumento:
(...) há tensões inflacionárias intermitentes, aparentemente oriundas do setor agrícola. Essas pressões na verdade decorrem da dependência estrutural do sistema econômico de encontrar equilíbrio externo pela via das exportações primárias, em especial de alimentos relevantes na cesta básica. Isto ocorre quando os preços externos das “commodities” se elevam ou mesmo quando ocorre crise cambial (conjunturas de 2003 e 2007); ou ainda mesmo quando os preços externos declinam (2013); mas não os preços internos, puxados pela pressão física por exportar e pela demanda oriunda da massa salarial interna de uma economia que se programa para crescer. Em síntese, e visitando o pensamento clássico de Celso Furtado, tão combatido e pouco lido pela ortodoxia econômica, as tensões inflacionárias de tipo estrutural, como as que ora se recolocam na economia brasileira, precisam ser equacionadas. Políticas monetárias e fiscais ortodoxas afetam suas aparências porque podem até cortar conjunturalmente pressões inflacionárias à custa de desemprego, recessão, desoneração etc., mas não resolvem a questão, porque não atacam as raízes da dependência externa e da desigualdade distributiva interna, causas mais profundas do problema em discussão.
Seria pedir muito que os cães de guarda envolvidos neste Fla X Flu elevassem esta discussão ao plano do humano?
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