Começo a leitura do livro de Ruy Braga, "A Política do Precariado" (Boitempo, 2012). Uma obra interessante que, a despeito de certos esquematismos conceituais, aprofunda o debate sobre o advento do lulismo (termo que vai se consolidando, pouco a pouco, na literatura especializada, envolvendo várias correntes teóricas).
O autor se baseia nitidamente nas provocações de Chico de Oliveira e, como Michael Lowy afirma no prefácio, se alinha com o que denomina de "trotsko-gramscianismo". Se não conhecesse a obra e história de Lowy, diria que este termo veio ao mundo carregado por uma boa dose de ironia. Não é o caso. Braga invoca os conceitos de hegemonia, fordismo e transformismo, tal como empregados pelo comunista italiano, e retoma a tese de capitalismo tardio, sugerido por Ernest Mandel (esta última sugestão é suposição minha).
Os insights mais interessantes são a construção do conceito de precariado (proletariado precarizado, que Braga distingue de lumpensinato e setores profissionais mais qualificados do proletariado brasileiro) e a periodização da história política recente do país a partir do conceito francês de regulação fordista (quem lê meu blog sabe que estou procurando explorar este conceito para analisar o lulismo).
Braga sugere a seguinte periodização: a) regulação autoritária (Estado Novo e Regime Militar); b) regulação neopopulista (período inicial da redemocratização); c) regulação neoliberal (também denominado pelo autor de "pós-fordismo financeirizado"); e d) hegemonia lulista. Interessante como o autor não enquadra o período lulista a partir do conceito de fordismo. Prefere denominá-lo de transformista, que Gramsci teria sugerido ser uma "antecipação da classe dominante", aumentando os ganhos sociais das classes subalternas para manter a estrutura de poder dominante.
Vou comentar outras passagens do livro neste blog, mas para aqueles que desejarem compreender um pouco mais os conceitos de Braga, acesse AQUI sua entrevista ao site do IHU/Unisinos.
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