Publiquei, dias atrás, a notícia divulgada pela Carta Capital a respeito do envolvimento do deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB/MG) num suposto caso de tráfico de órgãos. Deixei clara minha surpresa em virtude de conhecer a prática do deputado e de sua assessoria, sempre corretos. O embate político é duro e para quem desconhece este meio, não é raro excessos que visam o fígado do adversário. "Passar feito trator sobre adversários" é frase comum. Enfim, solicitei e recebi, hoje, uma resposta do gabinete do deputado Mosconi, até mesmo para que pudesse ter um panorama mais geral desta história.
Reproduzo abaixo, na íntegra, a resposta que recebi.
Em algum momento, o Brasil precisa criar limites para o embate político. Não dá para jogar tudo na fogueira e ver o que resta. Se um lado alimentar esta chama, será fatalmente atingido por alguma faísca e nada mais restará para se crer.
Que o leitor deste blog tire suas conclusões:
Carta-resposta do deputado Carlos
Mosconi
Eu, deputado estadual Carlos
Mosconi, esclareço que não fui réu, processado ou sequer investigado em nenhum
procedimento relativo ao tema tratado. Eu fui apenas testemunha de defesa dos médicos citados no processo.
Realmente, sou pela 4ª vez
presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG). Anteriormente, fui quatro vezes deputado federal, duas vezes presidente
da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, relator da Saúde na Assembleia
Nacional Constituinte, quando da criação do SUS.
Fui secretário de Saúde do
Distrito Federal. Também fui presidente do Inamps, no governo Itamar Franco,
propondo e conseguindo sua extinção para prevalecer o SUS. Na mesma época,
exerci a função de Secretário Nacional de Assistência à Saúde.
Em Minas, presidi a Fundação
Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig). Como professor universitário, lecionei na
Faculdade de Medicina de Itajubá e na Escola de Medicina da Unifenas. Eu sou
médico urologista, com especialização no Hospital das Clínicas da Universidade
de São Paulo.
Eu sou o autor da Emenda
Constitucional 29, que estabelece maior aporte de recursos para a saúde.
Durante minha atividade na Câmara Federal, participei ativamente, como autor ou
relator, da elaboração das leis de transplantes no Brasil, sendo de minha
autoria o parágrafo 4º do artigo 199 da Constituição Federal, que proíbe a
comercialização de órgãos no Brasil.
No exercício da presidência
do Inamps, participei da regulamentação e credenciamento de diversos serviços
de transplantes no país, como, por exemplo, o serviço de transplante cardíaco
do professor Zerbini, o mais notável da época.
O doutor Celso Scafi,
urologista da Unicamp, nunca foi meu sócio. Tendo ido trabalhar em Poços de
Caldas, ele passou a usar o meu antigo consultório, quando deixei o exercício
da medicina, nos anos 90.
Realmente, fui presidente do
Conselho Curador da Santa Casa de Poços de Caldas, em 2003 e 2004, quando o
serviço de transplante não mais existia naquela instituição.
Agora, as informações
relatadas abaixo são frutos de fontes oficiais. Informo que o serviço de
transplante de Poços de Caldas nunca foi uma ONG, mas, sim, um serviço oficial
e credenciado pelo Ministério da Saúde e pelo MG Transplantes (órgão regulador
de transplante no Estado mineiro), assim como todos os outros serviços de
transplantes de Minas Gerais. Os procedimentos eram pagos regularmente pelo
Ministério da Saúde, mostrando que o serviço era oficial e não clandestino.
Sobre a suposta solicitação
de um rim para um amigo do prefeito de Campanha, além da carta não ter sido
apresentada em momento algum, a sentença não informa se o documento seria de
autoria do prefeito ou minha.
A organização de uma lista
de receptores de rins era regional, com supervisão do MG Transplantes, sendo
que todos os transplantes eram realizados pelo SUS, sem recebimento de qualquer
tipo de honorários além desses, não tendo ocorrido nenhuma denúncia de
pagamento ilícito. Isso demonstra, com clareza, a inexistência de tráfico de
órgãos.
Os 204 transplantes
realizados em Poços foram auditados pelo Ministério da Saúde, Polícia Federal e
Ministério Público Federal, entre esses, nove foram objeto de investigação,
como os casos do menino Paulo Pavesi e do trabalhador rural João Domingos. Como
consta nos autos, não há nenhum envolvimento meu, seja médico ou
administrativo, nesses episódios. Nessa época, eu não mais exercia a medicina.
Na CPI dos Transplantes,
realizada em 2004, na Câmara dos Deputados, eu não fui, em nenhum momento, convocado,
seja como depoente, testemunha ou acusado.
Finalmente, o registro de
criação do serviço de Transplantes em Poços de Caldas,
publicado no Jornal Brasileiro de Transplantes (volume 1, número 4), mostra a
legalidade e a transparência do processo, afastando, definitivamente, qualquer
tipo de suspeita de clandestinidade.
Diante do exposto, eu espero
ter esclarecido os fatos. Mas também manifesto minha profunda indignação pelo
injusto envolvimento do meu nome nesta lamentável situação, que visa denegrir minha
imagem conquistada por mais de 30 anos de dedicação e trabalho em benefício da
saúde do povo brasileiro.
Deputado
Estadual Carlos Mosconi (PSDB/MG)