sábado, 30 de junho de 2012

Ainda sobre o racha PT-PSB em Belo Horizonte

Muita calma nesta hora.
A história do PT de BH para as eleições de outubro ainda não está finalizada. Não entregarão tantos cargos de confiança (que, no frigir dos ovos significa militância profissional) de graça. Há muitas possibilidades que podem surgir até dia 5, data do registro oficial das chapas. Mas o grande problema continua o de sempre: chapa de candidatos a vereador. Coligado, o PSB não elege vereador. E o PT, sozinho, elegerá poucos. Se aliado ao PMDB (PT e Leonardo Quintão estão conversando neste momento), o Partido dos Trabalhadores continuará no mesmo dilema.

PT racha com PSB em Belo Horizonte

Ilustra esta nota a carta do PSB que provocou a reação do PT nesta tarde de sábado. Muita água rolará pela ponte até o final deste dia. Mas é surpreendente como a aliança costurada por Lula e Eduardo Campos deixou buracos país afora.

Catolicismo em queda no Brasil

Demorei para analisar os dados do último Censo a respeito da religiosidade dos brasileiros. Estou mergulhado em vários projetos importantes, que demandam a articulação de vários profissionais. Mas o dado revelado em vários órgãos da grande imprensa (em especial, a Folha e Estadão, que debulharam vários aspectos dos dados divulgados pelo IBGE) indica que a emergência da Classe C já impacta nossa identidade social. A emergência do grande mercado consumidor (ou a ascensão pelo consumo) já libera seus frutos: o sentimento de exigência de garantias para a manutenção do novo status social (tanto na busca da educação - num sentido pragmático que vincula diploma com emprego mais qualificado  e não como aprofundamento dos conhecimentos pessoais -, como na escolha de candidatos que comprovadamente defendem o direito ao consumo de massas) e valores vinculados ao "espírito do capitalismo". Weber já sugeria a proximidade entre a ética protestante e a ética do trabalho, do esforço pessoal e do anúncio da escolha correta pelo sucesso profissional e a opulência. Riqueza, então, não seria mais pecado, mas aprovação religiosa.
Ora, analisando a curva ascendente dos evangélicos a partir dos anos 1980, mas mais acentuadamente a partir do ano 2000 (atingindo 22,2% da população brasileira), é possível que a tese weberiana encontre ilustração no Brasil Potência que emergiu nos últimos oito anos.

O que chama a atenção é a Geografia das Crenças, título das ilustrações que reproduzo acima que foi cunhado pelo jornal Estado de São Paulo. São dois mapas que criam certo paradoxo. Centro-oeste, região do crescimento econômico catapultada pelo agronegócio, tem média de evangélicos acima da média nacional. Por outro lado, o nordeste, Minas Gerais e região sul são as regiões que possuem maiores médias de católicos. Ocorre que se o nordeste foi (e é) região central de atuação da igreja católica, fartamente apoiada em ações assistenciais e ONGs (enfim, dois polos ideológicos de uma mesma organização confessional), também é a região com maiores índices de crescimento econômico do país, registrando o dobro da média nacional em relação ao crescimento do PIB (atingindo médias ao redor de 7%).
Enfim, os dois mapas sugerem um freio na hipótese weberiana que levantei no início desta nota.
O fato é que os evangélicos pentecostais crescem mais que os tradicionais (ou "de missão"). Algo que poderia ter sido explorado em relação às diferenças internas na Igreja Católica. Há forte projeção da Renovação Carismática no interior da Igreja Católica, o que inclui grande parte dos prefeitos católicos do PT em Minas Gerais. Os carismáticos, sintomaticamente, acreditam no Pentecostes e na relação direta daquele que tem fé com o toque do Espírito Santo. Uma relação individual com Deus, cujas manifestações são espetaculares.
Há algo que une as vertentes cristãs emergentes (Igrejas Pentecostais e Renovação Carismática): o peso do individualismo na obtenção do desejo (ou Graça) pessoal ou familiar. Esta é a nova ideologia brasileira: a ideologia da intimidade.

Registro do seminário em Praia Grande


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ensinar os filhos em Casa (1)

Educação em Casa (2)

Educação em Casa (3)

Kassab reprovado no quesito educação

Na próxima semana o sindicato de diretores e especialistas do ensino municipal de São Paulo divulgará seu Índice SINESP, uma importante inovação na prática sindical. Trata-se de um índice que avalia a qualidade da educação paulistana. Foram meses de preparação e testes técnicos. O índice é composto por seis indicadores: prédios equipamentos, apoio técnicos da secretaria de educação, capacitação, violëncia e gestão de pessoas.
De zero a dez, o índice 2012 não chegou a 5 pontos.
Em outras palavras, Kassab foi reprovado.
Na próxima semana, a diretoria do SINESP divulgará os detalhes deste índice, a metodologia utilizada, a pontuação para cada indicador e o índice por regional. Uma profunda inovação na ação sindical que apresenta dados concretos para o cidadão se posicionar e compreender com maior rigor o que passa nos seviços públicos.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Os 60% dos petistas que não querem aliança com Maluf

Leio que o Datafolha colheu a avaliação negativa de 63% dos petistas paulistanos sobre a aliança Haddad-Maluf. Também leio, já lamentando, que o marketeiro de Fernando Haddad tentou tanquilizá-lo, dizendo que terá todos votos petistas e malufistas somados. Uma leitura absolutalmente despolitizada do contratado procurando motivar o cliente. Deve confiar no taco. Se é isto, está dizendo que a opinião espontânea dos petistas será desconstruída pela sua varinha de condão. A política e a ideologia cercadas pela publicidade.
O interessante é que o índice dos petistas que rejeitam a aliança PT-Maluf é similar á rejeição geral dos paulistanos (petistas e não petistas) a respeito desta aliança. O que tal dado sugere? Que existe um estranhamento coletivo (dialogando com certo incosciente?), que se alimenta de valores morais ou senso de limite, a respeito do tudo ou nada da matemática eleitoral.
Do ponto de vista político, o que decepciona na leitura do marketeiro da campanha petista, é a lógica na contramão de farta produção do PT a respeito da construção paulatina da hegemonia cultural, o que já foi denominado de "consenso progressivo". A pobre matemática eleitoral estaria usando este conceito ao contrário: para ganhar busca-se construir um consenso mosaico, em que as peças não se encaixam. Assim, só o marketing mágico para resolver esta equação.

O cara da Euro


Timão goleia Boca Juniors

1 X 1

quarta-feira, 27 de junho de 2012

PSB e PT, o casamento tortuoso

Reproduzo, abaixo, a avaliação de Gaudêncio Torquato. Desta vez (deve ser a única), não compartilho da sua análise. Tenho a impressão que Lula adota a mesma tática que adotou ao dividir terreno entre Zé Dirceu e Palocci no seu governo. Procura criar uma gangorra entre PMDB e PSB. Contudo, o preço que Eduardo Campos está impondo é tão alto quanto o do PMDB, sendo um partido muitas vezes menor. Lula começou aceitando o preço, depois tergiversou e o presidente do PSB endureceu a negociação. São ações de valorização do seu lugar no jogo do poder. Arrisco a dizer que ainda não há nenhum sinal claro de ruptura ou distanciamento envolvendo os três partidos. Apenas movimentações inteligentes. Como se diz em política: "ninguém negocia com quem não tem força".


PSB e PT tomam distância  
O PSB e o PT começam a tomar distância no espaço político-partidário. A partir deste último. Os partidos se afastam em pleitos, onde, até então, caminhavam juntos : Fortaleza, João Pessoa e Recife. O caso mais impactante é o do Recife, onde o PSB garantira o apoio ao PT, caso o candidato fosse o ex-deputado Maurício Rands. João da Costa ganhou as prévias. O PT acabou pedindo aos dois que se retirassem do pleito. Rands aceitou, o prefeito João disse não. O PT, então, decidiu afastá-lo na marra, escolhendo o senador Humberto Costa como candidato do partido. Ante a confusão formada, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos tira do bolso do colete o nome de Geraldo Júlio, o golden-boy da administração pessebista, e o lança como candidato do PSB. Atrai para a aliança o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos.
Visão de futuro
Em Fortaleza e em João Pessoa, o PSB também sairá com candidatos próprios. O partido demonstra não querer ser apertado em abraço de afogados, como lembra seu vice-presidente, Roberto Amaral. Aplaina caminhos do presente com vistas ao futuro. Eduardo Campos é ambicioso e gostaria de juntar em torno dele o que chama de "geração pós-64".
PMDB, o coringa
Qualquer cenário que se projete para o amanhã deve levar em consideração o papel do PMDB. Trata-se do maior partido nacional, com alta taxa de união interna graças à articulação realizada pelo presidente licenciado do partido, o vice-presidente da República Michel Temer. Todos os sinais apontam para uma performance altamente positiva do partido, o que o conduzirá novamente ao pódio municipal. Ou seja, deverá continuar com o maior número de prefeitos. Com a planilha nas mãos, o partido deverá ser um coringa. Se pender para um lado, este lado ganha o jogo. Se o PT, por exemplo, der uma guinada e quiser caminhar em faixa própria - posicionando-se como poder hegemônico - arrisca-se a entrar em parafuso. PT diz que fará 1.000 prefeitos. PMDB deverá ultrapassar esse número.

Mensalão: Lewandowski e site do PT

Mais uma reviravolta. E o que escrevi ontem sobre certa prudência no julgamento do mensalão, esqueçam. O ministro do STF, depois de afirmar que não aceitar pressões para apresentar sua revisão e liberar o processo do Mensalão antes do final desta semana, apresentou ontem seu parecer. No Diário da Justiça desta quarta, já se formaliza a convocação de 13 sessões extraordinárias do Plenário no mês de agosto, sempre as 14h00 (dias 2, 3, 6, 7, 9, 10, 13, 14, 16, 20, 23, 27, 30).  Os ministros Cezar Peluso e Ayres Britto se aposentam este ano (em setembro e novembro, respectivamente). Se o julgamento do mensalão atingir estas datas, o atraso será inevitável. Este é o argumento formal para a correria.
Na outra ponta, o PT criou um site dedicado ao tema do julgamento do Mensalão. Colocou as barbas de molho e se antecipou ao julgamento. Quem desejar acerrar, clique AQUI

terça-feira, 26 de junho de 2012

Ao menos um na chapa de Haddad é campeão

A presidente estadual do PC do B, Nádia Campeão, será anunciada nesta quarta-feira como vice na chapa de Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Cá entre nós, pode não ser uma solução, mas rima. 

Filosofando no Cinema

Ainda na fase "final de dia", indico o livro que leva o título desta nota, escrito por Ollivier Pourriol. Para cinéfilo ou não, o livro é uma delícia, flui. O autor tem sagacidade e sabe claramente o timing do leitor. De vez em quando aprofunda um conceito da filosofia ou filosofa sobre um conceito, como o de abertura do livro, o desejo. O Nouvel Observateur denominou esta incursão de "filosofia pop". Acertou em cheio. Morde e assopra. Afirma que o desejo é claro (porque visível) e obscuro (porque nada é explícito). Daí, incorre sobre o desejo como avesso à razão, já que sua luz não é a do entendimento, mas do movimento. Logo salta para Sartre ("o desejo me compromete") para, num looping final, descrever um diálogo de Brigitte Bardot no filme "O desprezo". E traça, ainda, um paralelo com "De olhos bem fechados", numa cena estonteante com Nicole Kidman. Uma delícia de leitura.
Desfilam Sartre e Deleuze, Cassino e Fogo contra Fogo, Hegel e Beleza Americana, além da A Fantástica Fábrica de Chocolate.

sahlab junal

Confort food (ou, comida da mamãe, para os íntimos) me atrai de tempos em tempos. Outro dia, fiquei procurando a receita daquele mingau de maisena que comia na minha infância. Minha esposa, vendo que eu parecia uma grávida sob possessão alimentar, salvou o dia (não só o meu, mas o dela também).
Até que acho no supermercado este preparado libanês, com sabor de flor de laranjeira, o sahlab junal. Simples de fazer: uma xícara de leite quente, duas colheres do preparado (a caixa ilustra esta nota) e canela por cima. Forma aquele delicioso mingau, com mais sabor que o tradicional tupiniquim. Tenho a impressão que minha esposa suspirou aliviada. 

Resumindo o caso Paraguai

Foi um golpe paraguaio. 


Sejamos sinceros. Esta Constituição é a coisa mais confusa do mundo. Não define o rito democrático da defesa do acusado.
Pior: Lugo terminou o governo da mesma maneira que atuou ao longo da sua gestão. Indeciso, oscilando. Disse que acatava o impeachment e agora forma um governo paralelo?
Os mais coerentes são os governos que formam o Mercosul. Podem chiar que tomam decisão ideológica. Mas tomam. Não deixam dúvidas. E utilizam suas prerrogativas regimentais. Bloqueio econômico é bobagem, mas pressão política é legítima.
O que me deixa pasmo é a falta de coerência de certa esquerda que se diz democrática. Fiquei, neste campo, positivamente surpreso com a postura de Míriam Leitão, deixando claro que nem sempre o que é legal é legítimo. Algo que Habermas já nos ensinou faz tempo. Numa entrevista magistral ao ex-ministro Rouanet (no antigo Mais!, da Folha), dizia que a defesa da vida é mais importante que o respeito à cultura e tradição local. Porque ninguém tem direito de tirar a vida ou mutilar um filho em nome da tradição.
Esta é a base do pensamento moderno, do humanismo.
Fico chocado com o relativismo pós-moderno de alguns que acham que a Constituição foi respeitada e que, portanto, pode tudo. É a estética acima da ética. O fim do humanismo. Algo, por sinal, que já contaminou Lula. É triste ler seus críticos argumentarem com o mesmo relativismo no caso paraguaio.
E é triste um país não se levar a sério.

Charge sobre nova logomarca de alguns partidos e governos


Demóstenes e Mensalão

Ontem, tivemos duas notícias coerentes entre si. 
A Comissão de Ética do Senado aprovou  o relatório do senador Humberto Costa (PT-PE) que pede a cassação de Demóstenes Torres por falta de decoro parlamentar. Agora, o relatório vai para a Comissão de Constitucionalidade e Justiça (CCJ) e, de lá, para o plenário do Senado. Após o envio do relatório para a CCJ, o presidente da comissão, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), terá de aguardar um prazo de cinco sessões plenárias antes de colocar em votação a constitucionalidade do relatório aprovado no Conselho de Ética. 
Na mesma toada, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, afirmou ontem que tem até sexta-feira para concluir seu trabalho. A decisão de usar todo o prazo deverá provocar um atraso de cinco dias no julgamento, adiando seu início do dia 1º de agosto para o dia 6. Assim, todo processo previsto para esta semana (liberação do processo para publicação, dois dias para a notificação do Ministério Público e dos 38 réus, mais 48 horas para o início do julgamento) ficou para depois do recesso do Judiciário.
Os dois casos tem algo em comum, em relação à velocidade do processo: não tão rápido que pareça alguma intenção de punição; nem tão lento, que pareça alguma intenção de auxílio aos réus. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O papel dos deputados nas eleições municipais

Venho defendendo que as eleições municipais são, a cada ano, menos locais e mais estadualizadas. Há dois motivos claros para esta situação. A primeira, a dependência crescente dos prefeitos com convênios com órgãos federais e estaduais frente à penúria orçamentária. O orçamento público está cada vez mais concentrado na União e nos Estados mais ricos da federação. Os deputados aparecem, assim, como captadores de convênios, facilitadores de contatos e, consequentemente, lideranças expressivas nas regiões. O segundo motivo é que todos partidos brasileiros são, hoje, comandados por deputados. Assim, a formação de chapas, o financiamento de pesquisas, a disputa pela paternidade de obras locais aumenta consideravelmente o peso dos parlamentares nas eleições locais.
Abaixo, reproduzo uma matéria publicada, hoje, no jornal Estado de Minas



Deputados com mais da metade dos votos têm grande chance de eleger seus candidatos


Publicação: 25/06/2012 06:53 Atualização: 25/06/2012 08:58

Clique e veja a lista completa

Reis do voto em seus redutos políticos, 27 deputados estaduais e 23 federais tentarão eleger seus candidatos a prefeito em outubro. Em tese, para ter sucesso bastaria convencer seus eleitores a digitar na urna eletrônica o nome que eles, parlamentares, escolheram para comandar a cidade. Isso porque, há dois anos, esses deputados conseguiram a aprovação de mais da metade dos moradores aptos a votar. Alguns podem até se gabar de ter conquistado a maioria dos votos válidos em vários municípios.

É o caso dos deputados estaduais Doutor Viana (DEM), que obteve entre 50,2% e 57,9% dos votos em oito municípios; José Henrique (PMDB), entre 50,5% a 60,9% em seis cidades, e Dinis Pinheiro (PSDB), 51,3% a 66,9%, e Arlen Santiago (PTB), entre 50,21% e 59,64%, em cinco cidades cada um. Entre os federais, lideram a lista João Magalhães (PMDB), com 50,75% a 63,96% dos votos, e Lael Varella (DEM), entre 55,24% e 62,11%.


Em termos percentuais, o campeão das urnas é o deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB), que já foi deputado federal e secretário de Saúde do governo Eduardo Azeredo (1995 a 1998). O tucano foi votado por 75,61% dos eleitores de Andradas, cidade localizada na Região Sul. Levando-se em conta o número absoluto, Hely Tarquínio (PV) pode se gabar de ter recebido 52.775 (68,1%) dos 83.298 votos válidos em Patos de Minas, no Alto Paranaíba.

O petebista Arlen Santiago recebeu votos de mais da metade dos eleitores de Jequitaí, Gameleiras, Patis, São João da Ponte e Miravânia. E em todas elas viu serem eleitos os prefeitos que apoiou. Em outubro, espera repetir o feito, dividindo o tempo entre o trabalho na Assembleia Legislativa mineira e as ruas. “Estarei presente nas reuniões, comícios e conversas com a população”, avisou o parlamentar, que não se sente responsável pela eleição dos companheiros. “Eles é que transferem os votos para mim.”

O deputado federal Lael Varella (DEM), eleito para o sétimo mandato, foi majoritário em seis cidades. Em número absolutos, a votação mais expressiva foi em Muriaé, na Zona da Mata, onde foi votado por 33.718 dos 56.725 eleitores que compareceram às urnas – o equivalente a 59,4% dos votos válidos. Ele é outro que mantém o pé atrás quando se trata de transferência de votos, mas se diz confiante na candidatura de Grego (DEM), que terá seu filho Misael Artur Varella (DEM) como vice na chapa.

“A gente nunca sabe, porque o sentimento nas eleições municipais é um e nas eleições estaduais é outro, mas acho que nosso apoio é importante e pode definir as eleições lá”, afirma. Em 2008, Lael apoiou Odilon Carvalho (PMDB) para a prefeitura da cidade, mas o vencedor foi o então prefeito José Braz (PP), que foi reeleito. Braz vai defender agora o nome de Aloysio Navarro de Aquino (PSDB), atual vice-prefeito, que concorrerá ao comando do Executivo municipal.

Local
A aprovação dos eleitores nem sempre significa transferência certa dos votos. O tucano Carlos Mosconi, por exemplo, não conseguiu ver eleita a sua candidata em Andradas na disputa de 2008, a então prefeita Margot Pioli (PPS). “Ela tinha uma boa avaliação (da gestão), mas por uma questão da política local não conseguiu transformar essa boa avaliação em votos”, afirmou o parlamentar. Para as eleições deste ano ainda não está definido se o grupo dele terá candidato próprio ou se apoiará a reeleição de Ademir dos Santos Peres (PT). Seja qual for a decisão, ele diz que participará ativamente da campanha.

Quem também não pode comemorar a vitória de seu aliado é o Dr. Viana (DEM), ex-prefeito de Curvelo, na Região Central, que obteve 22.938 dos 44.270 votos válidos da cidade nas eleições de 2010. Em 2008, o deputado esteve no palanque do então vice-prefeito Dalton Canabrava (PP), que acabou perdendo para o atual prefeito, dr. José Maria Penna Silva (PMDB). A razão, para ele, é que as eleições municipais são diferentes das estaduais. “Na minha vida pública, percebi que é muito difícil transferir votos, mas o apoio é sempre importante”, afirmou. Nas eleições deste ano, pedirá votos para Maurílio Soares Guimarães (DEM).

Palavra de especialista
Rudá Ricci - Cientista Político
Dependência dos municípios


“O apoio de deputados pode definir as eleições em algumas regiões. Atualmente o poder deles é muito grande em cidades que dependem fortemente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), porque há anos existe uma tendência de centralização do Orçamento na União. Para se ter uma idéia, 80% dos municípios têm 60% de sua receita vinculada ao repasse do FPM. Por isso, deputados populares têm votos não só pela simpatia, mas porque são interlocutores com os governos estadual e federal e conseguem levar verbas e obras para as cidades. Eles fazem essa ponte, e os prefeitos no Brasil nesse momento são meros gestores de projetos. As cidades dependem profundamente de convênios com ministérios, com a Caixa Econômica Federal e com outros setores da administração.”

O peso de evangélicos e Lula nas eleições paulistanas

Datafolha, segundo César Maia:


Entre os Evangélicos Pentecostais, Serra e  Celso Russomano estão empatados com 28%.

Em torno de 60% dos eleitores não sabem quem Lula, Dilma,  Alckmin ou Kassab estão      apoiando.

domingo, 24 de junho de 2012

Apoiadores ocupam TV pública e acusam Franco de censura




Apoiadores ocupam TV pública e acusam Franco de censura



     
A rua Alberdi, onde está a sede da TV Publica do Paraguai, tornou-se o foco da resistência à deposição do presidente Lugo. Desde o início da noite desse sábado, centenas de manifestantes, entre estudantes, artistas e militantes de movimentos sociais, se reúnem no local para protestar contra o governo de Federico Franco. Eles acusam o novo mandatário de tentar censurar a emissora. Hoje, o sinal do canal foi tirado do ar por cerca de 20 minutos. Reportagem: Guilherme Balza. Imagens e Edição: Derek Sismotto


Mercosul suspende participação do Paraguai da próxima cúpula do bloco


Do UOL, em São Paulo



O bloco comercial Mercosul suspendeu neste domingo (24) a participação do Paraguai na próxima cúpula regional que o grupo realizará na semana que vem, informou a chancelaria argentina.
Em comunicado, a chancelaria argentina informou que os países-membros do Mercosul e os Estados associados expressaram "sua mais enérgica condenação à ruptura da ordem democrática na República do Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo".

Os bastidores da queda do presidente paraguaio


Entrevista do chanceler argentino, Héctor Timerman. 


A oposição a Lugo se recusou a prorrogar o processo e a fazer qualquer acordo. Mandou os chanceleres da Unasul irem embora e disse que, caso não viesse o "impeachment", a violência começaria no dia seguinte.

"No fim, eu e o Patriota saímos, dizendo por fim que o Paraguai estava prestes a concretizar um golpe de Estado". 

"É triste o que ocorreu"
Página 12 – Como a Argentina caracteriza a mudança de governo no Paraguai?

O governo argentino caracteriza que estamos frente a uma quebra da ordem democrática.

Por que, se a destituição de Fernando Lugo se baseou em juízo político?

No Paraguai, foi utilizado um mecanismo previsto na Constituição, mas que foi aplicado de tal forma que feriu não só o espírito desta mesma constituição como de toda a prática constitucional do mundo democrático.

Qual foi a violação?

Praticar uma execução sumária. Dar horas de defesa a um presidente democraticamente eleito. Um tempo menor a um motorista que atravessa um sinal vermelho. É triste ver o que aconteceu no Paraguai. Foi triste ver Lugo despachando em sua mesa, sem papéis, no momento em que o Congresso o destituía.

Os chanceleres da Unasul estavam com ele naquele momento?

Sim. E isso depois de termos buscado todas as alternativas. Mas não encontramos interessa algum na oposição em dialogar conosco e em buscar alternativas à execução sumária de um presidente. O que dizíamos era claro: estávamos ali para respeitar ao mesmo tempo a soberania do Paraguai e os acordos internacionais que todos nós firmamos.

Os textos da Unasul e do Mercosul?

Ambos. E dissemos isso tanto à oposição quanto a Lugo. Não só o Paraguai, mas todos nós estamos obrigados a cumprir os acordos que assinamos.

Em algum momento, os chanceleres da Unasul enxergaram a possibilidade de acordo?

Quando chegamos e falamos com Lugo ainda havia esperança. Mas depois fomos trombando com a realidade. Primeiro, nos reunimos com dirigentes do Partido Colorado, que nos disseram que o governo Lugo era inviável e tinha que partir. Depois, com membros do Partido Liberal e um dos seus líderes nos disse: "O melhor que os chanceleres da Unasul podem fazer é partir".

Qual foi a resposta?

Esta: "Senhor, são 11 da manhã e o juízo começa em uma hora. O que podemos fazer para impedir que a situação não se agrave?" Ele respondeu: "A Constituição define formas de fazer um juízo, não prazos". E eu insisti que se tratava de um chefe de Estado que assumiu com representação popular. (...) Depois insistimos com o argumento de que viriam tempos duros para o Paraguai, porque teríamos que aplicar a cláusula democrática. Mas nada os comovia. Ali se decidiu que eu e Antônio Patriota, o chanceler brasileiro, falaríamos com Federico Franco.

Ele ainda era vice.

Sim. Eu disse: "Falta pouco tempo. O senhor acredita que é justo o que estão fazendo? Pensa que o mundo vai reconhecer a destituição desta maneira como um procedimento correto?" Eu me lembro da sua resposta: "No Paraguai, um vice-presidente tem três tarefas: participar das reuniões de gabinete, fazer a relação com o Congresso e assumir em caso de morte, enfermidade ou destituição do presidente. Vou cumprir a constituição paraguaia." Um de seus assessores lembrou o caso do ex-presidente brasileiro Fernando Collor, que teve licença de seis meses. Perguntamos se dariam esse tempo a Lugo. E eles nos disseram que se não houvesse a mudança a violência começaria no dia seguinte.

Pelo visto, Franco estava muito decidido.

Ele afirmou: "Sou médico e estou acostumado a tomar decisões". Respondi que um médico tenta causar o menor dano possível ao paciente e que ele estava causando o maior prejuízo ao Paraguai e à democracia. No fim, eu e o Patriota nos despedimos calmamente, não sem antes dizer que ele estava concretizando um golpe de Estado.

O Mercosul vai castigar o Paraguai?

O Mercosul vai aplicar todos os tratados que assinamos. A Unasul também.

Ato contra o Golpe no Paraguai


Produção do Instituto Cultiva para o Seminário da Fecomerciários SP


Elaboração do José Cerozi

César Felício, correspondente do Valor Econômico na Argentina, analisa crise no Paraguai

  • Cesar Felicio Dos Santos 
    Cristina está muito alinhada com a Venezuela, diretamente interessada na exclusão do Paraguai no Mercosul, já que o legislativo paraguaio impede que Chavez consiga ser membro plano. Para a Argentina, interessa aumentar o bloco, para reduzir o peso relativo do Brasil. O Brasil, como vc deve ter visto, fez uma nota forte do Itamaraty, classificando o processo como ruptura do processo democrático, mas sem antecipar o que vai acontecer.O Uruguai bem calado, porque sempre joga junto com o Paraguai no processo do bloco.
    há 11 horas · 
  • Cesar Felicio Dos Santos Complementando, acho que a tendência, pela nota do Itamaraty e pela reação da Cristina, é de suspensão do Paraguai na Unasul e no Mercosul, com a aplicação da cláusula democrática , aliás, diga-se de passagem, nunca ratificada pelo congresso paraguaio.
    há 11 horas · 

Ministra Izabella Teixeira em um barraco ambiental, por Miriam Leitão


Era um evento que tinha tudo para ter conteúdo sustentável. Até que virou um insustentável barraco. Discutiria economia com o BNDES, Banco Mundial, ministros da Alemanha, Noruega. O tema era o que o Brasil tem feito de combate ao desmatamento.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, não gostou quando uma pessoa da plateia levantou um cartaz com um desenho de uma motoserra. Relatos de quem estava lá e que recolhi depois informam que além de levantar cartaz algumas pessoas da plateia fizeram intervenções aos brados. A ministra Izabella Teixeira interrompida foi ficando cada vez mais nervosa. Os manifestantes levaram cartazes que diziam: "Dilma, o jogo do Codigo Florestal ainda não acabou" ou "Belo Monte, com meu dinheiro não". Gritavam para o Luciano Coutinho que vissem o cartaz. A ministra foi reagir e se destemperou.
Ela passou dez minutos aos gritos para a perplexidade de todos. Mostro no video abaixo apenas os dois minutos finais da fala dela, mas foi toda assim aos gritos.
Há um momento em que até o tradutor de libras (linguagem dos sinais) desiste. Não tinha mãos para traduzir toda aquela eloquencia.
Estavam lá o presidente do BNDES, Luciano Coutinho; Maria A. Barton-Dock, diretora do Departamento de Meio Ambiente da Rede de Desenvolvimento Sustentável do Banco Mundial; Dirk Niebel, ministro da Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha; Bård Vegar Solhjell, ministro do Ambiente da Noruega; Tasso Azevedo, consultor ambiental. A Noruega é a financiadora do Fundo Amazônia. Todos estes estavam no painel, mas os ministros da Alemanha e Noruega já tinham falado e saído. Felizmente, mas mesmo assim foi uma reação exagerada.
A ministra representava o Estado brasileiro num debate dos muitos dos eventos paralelos da Rio+20. Pelo visto, o estado de nervos.


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sábado, 23 de junho de 2012

Finalmente o governo brasileiro condena a deposição de Lugo


Brasil condena deposição de Lugo e convoca embaixador


DE SÃO PAULO
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
Atualizado às 21h52.
O Brasil condenou neste sábado à noite o impeachment do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, ocorrido nesta sexta-feira (22).
Em nota, o Itamaraty disse que o "governo brasileiro condena o rito sumário de destituição do mandatário do Paraguai" decidido pelo Senado por 39 votos a quatro.
O embaixador brasileiro em Assunção foi convocado para consultas em Brasília.
Segundo o Ministério de Relações Exteriores, "não foi adequadamente assegurado o amplo direito de defesa" ao ex-mandatário da nação. Lugo foi destituído em apenas 30 horas.
O comunicado do ministério diz que "o procedimento adotado compromete pilar fundamental da democracia, condição essencial para a integração regional".
Para o Itamaraty, a democracia foi conquistada com esforço e sacrifício pelos países da região e deve ser defendida sem hesitação. "Medidas a serem aplicadas em decorrência da ruptura da ordem democrática no Paraguai estão sendo avaliadas com os parceiros do Mercosul e da Unasul."


Formada a Frente de Defesa da Democracia, no Paraguai


Frente por la Defensa de la Democracia (FDD)

Por la recuperación de la democracia y la soberania popular

El FDD, reunido en asamblea general de sus miembros, partidos políticos y movimientos sociales, dirigentes pol[iticos y de la sociedad civil, denuncia el quiebre institucional y del Estado de Derecho en Paraguay por parte del sector más conservador y reaccionario del Parlamento Nacional, que desconoció el principio fundamental del derecho a la legítima defensa y debido proceso, utilizando conceptos y prácticas de la dictadura stronista, y así provocó el derrocamiento del gobierno constitucional del presidente Fernando Lugo. Tal violación de la Constitucional Nacional está basado en acusaciones sin prueba alguna y utilizando métodos nazi fascistas sustentados en intrigas y calumnias con herramientas pseudo legales.
Este grave hecho, con nefastas consecuencias en la economía, en la sociedad y en la vida institucional de la República, debe ser revertido en forma inmediata. Se debe restabelecer la convivencia civilizada y democrática, basada en la justicia y en el respeto a la soberania popular.
Por estas razones, el FDD rechaza y condena al gobierno golpista de Federico Franco y convoca a todo el pueblo paraguayo a defender el proceso democr[atico y la institucionalidad de la República con una movilización permanente, a fin de evitar el avasallamiento de los derechos humanos fundamentales. Llamamos a la unidad de todo el pueblo paraguayo, de adentro y de afuera, así como a la solidariedad de los demás pueblos hermanos de Latinoamérica, a movilizarnos coordinadamente por la restitución del Estado de Derecho y el respeto a la soberanía popular en el Paraguay.

¡Por la vigencia de la Constitución Nacional!


¡Por el respeto pleno de la justicia social y los derechos humanos en el Paraguay!
 ¡Fernando Lugo es el único Presidente Constitucional de la República del Paraguay!
 ¡No al gobierno golpista de Federico Franco!
 ¡Por la recuperación de la democracia en el Paraguay!
 
Mas informacion: http://alainet.org 

Artigo sobre contratos públicos sem controle

Artigo de Suely Caldas publicado no Estadão com o título "Saindo do faz de conta" ressalta os contratos governamentais sem licitação ou controle mais rigoroso. Cita esta triste sina de muitas ONGs brasileiras, que se prestam à terceirização do serviço público.
Reproduzo parte do artigo:

No auge dos escândalos de desvios de dinheiro público, o governo Lula determinou aos ministérios prioridade ao uso de pregões eletrônicos em seus contratos de compra, supostamente para dar maior transparência aos gastos do governo. Pois bem, em 2011 quase metade (de 45,2%, em 2010, passou para 47,8%) de todas as compras do governo foi efetuada sem licitação alguma, nem eletrônica, nem disfarçada, nem de cartas marcadas, simplesmente com o fornecedor escolhido. Já no governo Dilma, no auge de repasses milionários de verbas do Ministério do Esporte para o PC do B por meio de ONGs fantasmas, a presidente ordenou o fim dos convênios com essas organizações. A prática voltou e prolifera em praticamente todos os ministérios. E o Congresso não fica de fora: acaba de aprovar mais R$ 1 bilhão (a proposta inicial do Executivo era de R$ 2,4 bilhões) em repasses do Orçamento de 2012 para as ONGs. Afinal, elas não seriam "não governamentais"? 

Paraguai, paraíso do Estado mínimo, artigo de César Felício



Com uma população de 6,3 milhões de habitantes e um PIB cem vezes menor que o brasileiro, o Paraguai está habituado a viver suas tragédias de forma subterrânea, longe das atenções mundiais. Dificilmente o desastre ocorrido na sexta-feira, em Curuguaty, próximo da fronteira com o Brasil, fugirá dessa regra. O episódio em que morreram 18 pessoas, sendo 11 militantes sem terra e sete policiais, merecia um destino diferente do esquecimento. Serviria como advertência do que pode ocorrer quando se entrecruzam concentração de renda e um Estado débil.
Na manhã de sexta-feira, o grupo especial de operações da polícia paraguaia, uma espécie de Bope local, foi deslocado para a fazenda de um ex-senador do Partido Colorado, Blás Riquelme. A propriedade está ocupada há alguns anos por cerca de 500 famílias. Foram recebidos à bala e devolveram o fogo. Entre os mortos, estava o comandante do grupo policial. O confronto gerou uma crise institucional: caiu o ministro do Interior e o chefe da polícia, a oposição tenta articular um pedido de impeachment contra o presidente Fernando Lugo e os ruralistas irão promover um “tratoraço” na segunda-feira.
Liderança histórica na área de direitos humanos do país, o advogado Martín Almada lembra que a tragédia de Curuguaty faz parte da herança que o país recebeu da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). O ditador, que morreu exilado no Brasil em 2006, estruturou seu poder distribuindo terras fiscais do Estado de maneira discricionária, gerando um caos fundiário. A prática continuou, em menor escala, nos governos seguintes, até 2003.
Fez parte desta indústria de transações escusas a titularidade de 7,851 milhões de hectares, ou 64% do total adjudicado em 50 anos. Dentro deste universo, foram beneficiados milhares de brasileiros que tornaram-se produtores de soja no Paraguai em circunstâncias pouco transparentes.
“É neste contexto que a propriedade de Riquelme se situa”, afirma Almada. O que aconteceu no Paraguai foi uma reforma agrária às avessas: em 1991, 1,5% dos proprietários controlavam 81,3% da superfície. Com o advento da soja, a concentração não diminuiu. Segundo dados da coordenadoria nacional de direitos humanos do Paraguai, em 2008 2% das propriedades somavam 78% das terras.
A soja e o gado empurraram o Paraguai adiante, e o país chegou a registrar taxas chinesas de crescimento, como os 15,4% de expansão do PIB em 2010. Os dólares entraram no país, mas não nos cofres públicos: o Paraguai é o paraíso do Estado mínimo. Segundo dados do Banco Central local, a carga tributária atual é de 13% sobre o PIB, a mais baixa da América do Sul. O imposto de renda da pessoa jurídica só foi criado em 2004. O de pessoa física, a depender do Congresso, só começará a ser cobrado a partir do próximo ano.
No Paraguai, o Estado provedor não existe. As pessoas estão habituadas a cada um cuidar de si. De acordo com um levantamento da Cepal divulgado no ano passado, 69% dos lares paraguaios não contam atualmente com nenhum mecanismo de proteção social, nem mesmo de previdência contributiva. É o mais alto percentual entre os 13 países pesquisados, em uma pesquisa que não inclui o Brasil. Um terço da população está abaixo da linha de pobreza.
Foi neste contexto que o então bispo católico Fernando Lugo iniciou a irresistível arrancada que o levaria à Presidência em 2008. Sem estrutura partidária, ganhou ao catalisar as esperanças de desenvolvimento social e reforma agrária, tema de não pouca importância em um país com 40% da população no campo.
Em seus quatro anos de governo, o resultado da gestão de Lugo parece apagado. O presidente tornou-se foco de atenções por suas vicissitudes pessoais, como filhos do tempo de celibato reconhecidos tardiamente e a batalha contra um linfoma. Seu maior sucesso administrativo foi conseguir do Brasil a renegociação da venda da energia elétrica de Itaipu. O aumento de 200% na energia gerada pelo Paraguai por si só representou um acréscimo de 1% no PIB local. Do ponto de vista político, disciplinou o Exército, ao reformular a cúpula da instituição.
Sem maioria no Congresso, Lugo viu o seu projeto paraguaio de Bolsa Família, o “Tekoporá”, ser podado pelo Legislativo. O programa pagava 83 mil benefícios em 2011, muito aquém do que se previa. A estratégia de tocar um programa de reforma agrária com a compra de terras não funcionou. Os conflitos rurais, que caíram entre 2008 e 2010, voltaram a crescer no ano passado. Sem ter o que oferecer aos movimentos organizados, Lugo não os atende e não os reprime.
A anemia do Estado no Paraguai faz com que o poder público vá perdendo o seu poder mediador em meio a conflitos. É uma tendência que tende a se agravar, segundo Almada. “Lugo parece temer o mesmo destino que Manuel Zelaya teve em Honduras, que caiu em 2009 em um golpe patrocinado pelas forças políticas”, comentou.
Para os próximos anos, na opinião de Almada, episódios de violência devem se repetir. “A pobreza no Paraguai é explosiva”, comentou. O esgarçamento institucional em um país com uma fronteira terrestre notoriamente de baixo controle policial com o Brasil não deve ser uma questão menor para Brasília.
Um incipiente movimento insurgente, o Exército do Povo Paraguaio, tenta se estruturar desde o governo anterior a Lugo. Sua cúpula está presa, mas o governo não conseguiu romper a cadeia de comando da organização. De acordo com o que o próprio adido da Polícia Federal no Paraguai afirmou no ano passado, as principais organizações criminosas brasileiras estão presentes no país vizinho.
Não há qualquer evidência de que a ponta mais radicalizada da insurgência paraguaia se conectou com o submundo brasileiro, mas cabe em relação a esta hipótese funesta lembrar a frase do escritor francês Victor Hugo: “Nada é mais poderoso quando a uma ideia chega seu tempo”.
César Felício é correspondente em Buenos Aires. Escreve mensalmente às quintas-feiras

Qual é a qualidade das águas do Brasil?

Artigo da engenheira Ines Persechini revela alguns dados preocupantes que constam no documento Panorama das Águas Superficiais do Brasil 2012. Diversos indicadores foram utilizados para a análise dos dados coletados junto aos órgãos gestores de recursos hídricos: além do Índice de Qualidade das Águas (IQA) que reflete o grau de poluição por esgoto de um curso de água, estão incluídos também o Índice de Estado Trófico (IET) que indica quantidade de nutrientes originados de fontes humanas ou não, e do Índice de Conformidade ao Enquadramento (ICE) que permite avaliar o quanto a qualidade de um certo corpo d´água está distante do ideal necessário para atender os usos desejados pela sociedade.
Reproduzo a conclusão da autora, a seguir:


Uma das conclusões mais importantes é que em 47% dos pontos monitorados em áreas urbanas do País, a classificação da qualidade das águas em relação ao índice IQA está classificada entre ruim e péssima. Em contrapartida, foram identificados pontos em que houve melhoras na tendência da qualidade das águas, como em trechos dos rios Tietê, Sorocaba, Piracicaba e Paraíba do Sul em São Paulo, do rio das Velhas em Belo Horizonte, entre outros. No entanto, foram identificados também vários pontos de monitoramento onde a qualidade da água piorou no período compreendido entre 2001 -2010. As causas da piora podem ser identificadas como acréscimo no aumento das Pressões sobre os recursos hídricos sem que houvesse investimentos efetivos e suficientes para rever o quadro.