sábado, 30 de junho de 2012

Catolicismo em queda no Brasil

Demorei para analisar os dados do último Censo a respeito da religiosidade dos brasileiros. Estou mergulhado em vários projetos importantes, que demandam a articulação de vários profissionais. Mas o dado revelado em vários órgãos da grande imprensa (em especial, a Folha e Estadão, que debulharam vários aspectos dos dados divulgados pelo IBGE) indica que a emergência da Classe C já impacta nossa identidade social. A emergência do grande mercado consumidor (ou a ascensão pelo consumo) já libera seus frutos: o sentimento de exigência de garantias para a manutenção do novo status social (tanto na busca da educação - num sentido pragmático que vincula diploma com emprego mais qualificado  e não como aprofundamento dos conhecimentos pessoais -, como na escolha de candidatos que comprovadamente defendem o direito ao consumo de massas) e valores vinculados ao "espírito do capitalismo". Weber já sugeria a proximidade entre a ética protestante e a ética do trabalho, do esforço pessoal e do anúncio da escolha correta pelo sucesso profissional e a opulência. Riqueza, então, não seria mais pecado, mas aprovação religiosa.
Ora, analisando a curva ascendente dos evangélicos a partir dos anos 1980, mas mais acentuadamente a partir do ano 2000 (atingindo 22,2% da população brasileira), é possível que a tese weberiana encontre ilustração no Brasil Potência que emergiu nos últimos oito anos.

O que chama a atenção é a Geografia das Crenças, título das ilustrações que reproduzo acima que foi cunhado pelo jornal Estado de São Paulo. São dois mapas que criam certo paradoxo. Centro-oeste, região do crescimento econômico catapultada pelo agronegócio, tem média de evangélicos acima da média nacional. Por outro lado, o nordeste, Minas Gerais e região sul são as regiões que possuem maiores médias de católicos. Ocorre que se o nordeste foi (e é) região central de atuação da igreja católica, fartamente apoiada em ações assistenciais e ONGs (enfim, dois polos ideológicos de uma mesma organização confessional), também é a região com maiores índices de crescimento econômico do país, registrando o dobro da média nacional em relação ao crescimento do PIB (atingindo médias ao redor de 7%).
Enfim, os dois mapas sugerem um freio na hipótese weberiana que levantei no início desta nota.
O fato é que os evangélicos pentecostais crescem mais que os tradicionais (ou "de missão"). Algo que poderia ter sido explorado em relação às diferenças internas na Igreja Católica. Há forte projeção da Renovação Carismática no interior da Igreja Católica, o que inclui grande parte dos prefeitos católicos do PT em Minas Gerais. Os carismáticos, sintomaticamente, acreditam no Pentecostes e na relação direta daquele que tem fé com o toque do Espírito Santo. Uma relação individual com Deus, cujas manifestações são espetaculares.
Há algo que une as vertentes cristãs emergentes (Igrejas Pentecostais e Renovação Carismática): o peso do individualismo na obtenção do desejo (ou Graça) pessoal ou familiar. Esta é a nova ideologia brasileira: a ideologia da intimidade.

2 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Não só isso, podemos notar que existem dois catolicismos no Brasil: um deles está mais à esquerda - não em questões morais, mas sim em políticas "macro" - e é aquele que se vê no Nordeste e em Minas, enquanto existe outro mais conservador e tradicional no Sul. Um é Lulista, o outro é Anti-Lulista. No mais, dentre os estados de concentração evangélica, apenas o Rio não vota à direita, enquanto o Norte e o Centro-Oeste tendem claramente ao conservadorismo. Mas nesse sentido, São Paulo é paradoxal, pois a concentração maior de evangélicos está na periferia das metrópoles, que votam em massa no PT, enquanto as classes médias, em geral agnósticas ou católicas - praticantes o não -, são tucanas.

O Brasil que avança nos tempos do Lulismo é católico, o eixo Minas-Nordeste, exceto pelo Rio de Janeiro, que é um contraste barroco entre uma cultura libertária praiana e o pentecostalismo ascendente. Por outro lado, o velho catolicismo tradicional pertence ao Sul desenvolvido porém estagnado economicamente. Para pensar.

Bernardo disse...

Mas a faixa litorânea nordestina, exatamente nas capitais e áreas próximas em suas regiões metropolitanas (principalmente quando essas são eixos econômicos como Cabo de Sto Agostinho e Camaçari) possuem % de envangélicos maior que várias capitais do sudeste e rio grande do sul. Creio que estamos num momento de transição e a premissa weberiana terá sua viabilidade com o tempo.