Este tema já foi muito discutido no período anterior à 2a Guerra Mundial. E também depois da Grande Guerra. Lembro de um livro muito criticado, escrito em 1953 por Luckács, intitulado "A destruição da Razão", em que o autor procurava analisar o irracionalismo moderno à luz da guerra mundial.
Muitos outros autores caminharam por esta esteira que exige passos cuidadosos.
Mas há sinais evidentes que nossa institucionalidade de representação política moderna está em colapso.
A Rio+20 foi uma demonstração acabada de como os interesses econômicos nacionais são muito superiores ao debate sobre a paz e estabilidade mundial. Algo que as instituições multilaterais combatem desde seu nascimento. Aliás, uma divergência que leva como substrato até mesmo a existência da unidade regional européia. Enfim, estruturas supranacionais colocadas em xeque.
A queda de Lugo, ontem, no Paraguai, parecia uma pantomima de quinta categoria. Os formalistas dirão que se apoiou num arcabouço constitucional estranho, mas legal. Mas aprendemos, faz tempo, que nem tudo que é legal é legítimo e que o direito é a base da legitimidade legal. Ora, como é possível pensar de maneira tão formal se a decisão apoiada num suporte legal pode mergulhar o país numa luta fratricida? Para que uma Constituição que divide um país?
Finalmente, a coalizão presidencialista lulista, que avançou tanto que acabou gerando o neocoronelismo, onde o que conta é a vontade dos caciques e nem um naco de consulta aos militantes de base. O que dizer, então, da vontade do cidadão não filiado? Ou teria alguém, em são consciência, que ainda acredita que o voto é a maior expressão da vontade do cidadão? Como expressão do desejo se os candidatos são forjados no interior dos partidos comandados por caciques? Seria como se tivéssemos um restaurante sem cardápio ou apenas um restaurante com um minúsculo cardápio a oferecer em todo um município.
Não temos como discutir programas de governo, como barrar leis aprovadas na calada da noite (como o aumento estratosférico do teto do salário do funcionalismo público), como derrubar eleitos que não cumprem o que prometeram. A política formal virou comércio, se abraçou com o mercado, vive de e para os interesses econômicos. Não consegue, portanto, ser republicana.
O que tento dizer?
Que esta vergonha da ambição desmedida do lulismo pode ser reflexo de um tempo perdido. De uma promessa que não se cumpriu. Uma crise profunda do sistema de representação moderno.
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