Alguns petistas ainda não conseguem engolir a nova fase (lulista) por que passa o seu partido. Mas hoje tivemos mais uma demonstração nítida de que aquele PT outsider não existe mais. Hoje foi o dia de Recife.
O prefeito de Recife, João da Costa informou que o candidato à sua sucessão será o senador Humberto Costa --nome que foi imposto pelo partido. A imposição do nome senador tem relação direta com a possível aliança entre o PT e o PSB em São Paulo. Para apoiar o ex-ministro da Educação Fernando Haddad na capital paulista, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, teria vetado a candidatura de João da Costa. O atual prefeito de Recife ganhou as prévias realizadas no dia 20 de maio.
Ganhou e não levou. Por ordem de Lula.
Alguns petistas ainda acreditam que os militantes e filiados decidem os rumos do seu partido. Não decidem. Só carregam bandeiras em dia de comício.
3 comentários:
Rudá, com a devida vênia, o tom de algumas de suas postagens soa a fatalismo. Mesmo reconhecendo a influência sem igual de Lula no PT, é um pouco parcimonioso não analisar a conjuntura atual dentro de um campo forças no qual existe uma disputa permanente e dinâmica. Não há uma marcha linear na história. Se o Lulismo se consolidar, será via idas e vindas, erros e acerto, mudanças e continuidades. Esse é o fundamento da análise histórica. O fatalismo não é intelectualmente elegante. Enfim, se o Lulismo é mesmo uma marcha na história do Brasil contemporâneo, não é inexorável, fatalista e monolítica. É, antes, complexa, com algumas irresoluções, possíveis reveses e, claro, com uma grande presença, quase onipresente, do ex-soberano. Em outros termos, também vale a pergunta, para além de Lula, o que permanece de PT na política nacional. “Nada” me parece uma resposta, talvez, passional, pois personalisa demais o sistema partidário do país.
Gimenes,
Fatalidade se relaciona com destino. Não se trata disto, evidentemente. Se trata de termos a racionalidade de compreender que Lula montou uma estrutura e lógica políticas das mais poderosas e populares desde o fim da ditadura militar. Algo próximo do getulismo, que sabemos como seu criador acabou, mas que em muitas mentes ainda permanece como referência. O lulismo é poderoso porque, a partir de um Estado muito centralizador (e concentrador de orçamento público), financia grandes empresários (via BNDES), pobres, alavanca classes sociais pelo consumo, financia ongs e centrais sindicais e promove uma intransponível aliança partidária. Não dá para ser ingênuo para perceber o poder desta estrutura ou bloco no poder (para utilizar um velho conceito de Poulantzas). Eu não estou analisando as entranhas dos acordos e disputas. Seria fazer jornalismo e não sociologia. Não me interessa as idas e vindas, mas a tendência. No mais, concordaria com sua última frase. Contudo, me pareceu revelar que você é admirador do lulismo e não um crítico. Neste caso, acha politicamente normal um partido realizar uma prévia, desqualificá-la e impor outro candidato que não participou desta consulta às bases? Não lembra algo da tradição coronelística do Brasil?
Rudá, analisar as entranhas, conforme você disse, é jornalismo, mas é também história. Digamos que, antes de ser um simpatizante do lulismo, sou um observador que navega por um rio sinuoso e que se interessa por cada curva e meandro daquilo que está acontecendo e eu consigo perceber. Mais que isso, penso que história e jornalismo se diferenciam, pois a narrativa histórica, diferente do jornalismo, procura agregar algum tipo de teoria e articular os eventos temporalmente de uma maneira mais sofisticada.
Bem, Rudá, reconheço e admiro a inteligência de suas análises, inclusive sou muito grato a você, pois muitas das suas contribuições ajudaram-me a perceber aspectos que ainda não tinha percebido da política e da sociedade. Todavia, por identidade intelectual, não me satisfaço só com tendências. Ao invés de “linhas” (tendências), que são, indubitavelmente, do ponto de vista da razão, inestimáveis, prefiro os mosaicos, as imagens, as figuras. Com esses dispositivos mentais, consigo enxergar tendências e contra tendências, vitórias e derrotas, avanços e retrocessos. Esforço-me para fazer um contínuo desses aspectos nas minhas leituras da realidade. O mundo, assim, me parece mais realista, factível e plural. Eu não gosto de “oligopólios” de explicação do mundo ou de dicotomias. Penso que a razão está distribuída entre verdades conflitantes. Sou um pouco cético. Como um pretenso pensador, filio-me à tradição que entende a significação do mundo como uma combinação de possibilidades as mais variadas, exóticas e conflitivas possíveis. Enxergue, por exemplo, o descobrimento da América dessa maneira. Ou, para tratarmos da contemporaneidade, pense a descolonização africana do pós-guerra como algo desse tipo. Enfim, para além das tendências que você apresenta acertadamente sobre o Lulismo, sinto falta um pouco dessa multiplicidade em sua fala. Você entende? Essa é a diferença.
Respondendo as suas duas últimas perguntas, acho o cerceamento da autonomia partidária autoritarismo e não simpatizo nem um pouco com o coronelismo. Acho que as linhas que escrevi anteriormente evidenciam os motivos de eu pensar dessa maneira.
Bom feriadão!
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