domingo, 10 de janeiro de 2010

A migração se inverte: os nordestinos retornam à sua terra


O professor da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles, revela que nos últimos seis anos mais de 400 mil nordestinos retornaram à sua cidade de origem. Em parte, segundo Péricles, reflexo do Bolsa Família e da Previdência, mas não só. Muitos retornam com seu sonho de sucesso frustrado.
Segundo o PNAD, o trabalhador nordestino conseguiu contribuir para a diminuição das desigualdades de renda entre as regiões em 2008, mas ainda segue com o menor salário das cinco regiões brasileiras. A renda média mensal do trabalhador no Nordeste chegou a R$ 685 - pouco mais da metade da média nacional no ano, que ficou em R$ 1.036. No Piauí, que apresenta o pior índice entre os Estados, essa renda foi de apenas R$ 586. Em 2008, o trabalhador da região obteve o maior ganho de rendimentos, de 5,4%, enquanto no país esse aumento foi de 1,7%. Segundo o IBGE, a melhora na renda aconteceu em todos estratos sociais e pode ser explicada, entre outros motivos, pelo maior grau de estudo da população. Em 2008, a região Nordeste foi a que apresentou a maior redução no grupo de um a três anos de estudo dos trabalhadores (-12,9%) e segundo maior ingresso de pessoas no mercado de trabalho com mais de 11 anos de estudo (11,2%), só perdendo para a região Norte (11,9%). No país, esse crescimento foi menor (8,5%).
Mas a pesquisa revela que a concentração de rendimentos entre os que ganham mais cresceu entre 2007 e 2008 no Nordeste, ao contrário do que ocorreu no Sul, Sudeste e Norte. No Centro-Oeste, a Pnad aponta que não houve mudança significativa no índice.
Péricles avalia que os baixos salários do Nordeste ainda são reflexo da pouca qualificação profissional. Embora confirme o aumento da escolaridade nos últimos anos, sustenta que a maioria dos empregos gerados na região paga salário mínimo. Segundo Péricles:

"Esse aumento na renda dos trabalhadores teve impacto maior no segmento dos 10% mais remunerados, que, pesar de pequeno, recebe um volume maior de recursos. Mas, como o crescimento foi geral, o índice de Gini, que mede a concentração de renda, caiu suavemente. O impacto das transferências diretas de renda [Bolsa Família] e previdência social sobre a economia nordestina é muito grande. Juntas, elas cobrem mais de dois terços das famílias da região. A Previdência Social pagou em julho deste ano R$ 4 bilhões a 7,2 milhões de nordestinos. Desses, 3,8 milhões segurados formam a clientela rural. Já o Bolsa Família pagou em julho R$ 524 milhões a 5,8 milhões de famílias nordestinas. Todos esses recursos melhoram a renda familiar e, claro, vão diretamente para o consumo, gerando impactos na dinâmica regional. No Nordeste, nenhum setor produtivo isoladamente [seja indústria, serviços ou agricultura] engloba um conjunto tão numeroso de pessoas ou produz um volume de recursos tão alto de renda".

2 comentários:

AngelMira disse...

Rudá está uma celeuma danada em torno do novo Plano Nacional de Direitos Humanos...

Déia Poeta disse...

Como nordestina e pessoa do povo que sou, vejo todo esse impacto social, não sou através de estatísticas, mas na prática [ dia a dia].
Povo que trabalha exaustivamente, mas não é bem remunerado, e ainda temos que conviver com estigma social que diz que somos preguiçosos.
Haja paciência!
Vemos os nossos jovens se aprofundando nas drogas e nos filhos indesejados por falta de outras opções que preencham essa lacuna.
Não somos de todo vítimas, mas precisamos de políca séria aqui.