Recentemente, uma revista eletrônica solicitou que eu escrevesse sobre o impacto político do filme "Lula, filho do Brasil". Escrevi um artigo analisando o que significa o lançamento de um filme biográfico em ano eleitoral que é financiado indiretamente pelo governo federal. E tracei um paralelo do que o filme relata com a emergência da nova classe média (que decidirá as eleições de 2010).
Pois leio, agora, o comentário de Luis Nassif sobre o filme. Lá pelas tantas, ele afirma que seria inevitável que o filme fosse financiado por empresas que possuem contratos ou financiamentos do governo.
Como sou cientista político, a palavra inevitável não me atrai. É mais apropriada para jornalista, vidente ou político (discurso de político, bem dito).
Mas fui pesquisar algo a respeito. E, de fato, o lulismo criou uma política e fomento que enredou muitas grandes empresas brasileiras. Entre as 30 maiores multinacionais brasileiras (ranking de 2008), quase todas têm empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e 20 têm participação do Estado - ou são estatais, ou têm parcelas de capital detidas pelo BNDESPar ou por fundos de pensão de estatais, fortemente influenciados pelo governo. Incluindo-se as que têm associação indireta com o Estado - como parcerias com a Petrobras, ou que fazem parte de grupos com participação estatal em outras de suas empresas -, aquele total chega a 25 das 30 maiores multinacionais, com nomes bem conhecidos como Petrobras, Vale, Ipiranga, Usiminas, Embraer, Perdigão, Bertin e Klabin. Apenas 5 das 30 não têm no momento nenhuma associação (excluindo empréstimos) com o Estado - AmBev, TAM, Globo, Copersucar e Natura. Dados de estudo de Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que vê no avanço do Estado nas principais empresas brasileiras uma clara estratégia de formação de grandes grupos para competir nos mercados globais. Embora duas empresas - Gerdau Aços Longos e CSN - tenham participação do governo inferior a 5%, na maioria delas a parcela é superior a 10%, e em quatro é maior do que 20% (Perdigão, Bertin, Fibria e Klabin). Como o ranking é de 2008, a Perdigão, que se fundiu com a Sadia, e a Bertin (frigorífico), que se fundiu com a JBS, aparecem separadamente. Em ambos, a participação do Estado se manteve depois da fusão. Esses são exemplos de negócios que o governo ajudou a costurar e que mostram a estrutura de concentração da política industrial.
O governo está fazendo uma gigantesca injeção de recursos nos bancos estatais, concentrada no BNDES. Segundo números do Banco Central, o saldo dos empréstimos do Tesouro Nacional a essas instituições saiu de zero em 2005 para R$ 145,4 bilhões em agosto de 2009. Desse total, R$ 137,5 bilhões foram para o BNDES.
Inevitável, reforço, é desconsiderar que a história é feita por homens. Mas parece que Nassif não está totalmente equivocado. O que revela que o Brasil é o grande filho do lulismo (já sei... o trocadilho com o título do filme ficou infame).
2 comentários:
Babagem da oposição sem rumo, e das empresas de comunicação que as pautam.
Se não, vejamos...
Tive a curiosidade de verificar, e, sem grande surpresa, constatei que a Globo Filmes participa da produção.
Bom, pelo que sei, ter a Globo Filme por trás de uma produção como essa é meio caminho andado. Assim, estão dando uma no cravo, e outra na ferradura, e, também pelo que me consta, como as empresas que financiam esse tipo de produção no país são sempre as mesmas, é quase que certo que empresas ligadas ao governo iriam figurar como financiadoras da produção.
O resto é balela! Mas serve para tumultuar o quadro político, e - que ironia! -, fazer com que a própria Organizações Globo realize a crítica, à sua moda.
Concordo com o comentarista.
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