domingo, 3 de janeiro de 2010

A febre do planejamento estratégico situacional


Tive o desprazer de ver a introdução do PES (planejamento estratégico situacional) no Brasil. Eu era assessor nacional da CUT. O dirigente mais entusiasmado era Gilmar Carneiro, dos bancários paulistanos. Mas havia um problema grave com esta técnica desenvolvida por Carlos Matus: ela se baseia na teoria funcionalista. Como se sabe, o funcionalismo interpreta cada elemento que compõe uma instituição como funcional (daí a origem do nome) ao todo. Mas ressente-se da relação dinâmica com o meio social e até mesmo as contradiçõs e conflitos necessários para a saúde da própria instituição (como sugere Eugéne Enriquez, para citar um autor).
Na prática, o PES deu mais um empurrão para a CUT deixar a sua plataforma original e caminhar para a lógica "chapa branca". Porque todo seu planejamento tinha por objetivo a saúde da central sindical e não as conquistas sociais da sua base.
O pior é que o PES foi se reproduzindo nos ministérios (foi introduzido por Walter Barelli no ministério do trabalho) e em governos petistas.
Hoje, fico calado quando prefeitos e secretários me apresentam o resultado de um PES. O que dizer? Não servem para muito. Governos que adotam esta metodologia perdem a alma, o projeto, a visão de conjunto. Perdem a política e se tornam meros gerentes de mil e um projetos (ao invés de organizá-los a partir de uma estratégia geral). Governos locais se perdem no emaranhado de projetos e ações, criam mil fluxogramas e são impelidos a achar que o mundo real é cruel e desnecessário.
O PES tornou parte da esquerda brasileira manca.
As famosas tarjetas e árvores explicativas farão, um dia, um gestor virar arquiteto.

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