domingo, 10 de abril de 2011

Jornal Brasil Econômico: os 100 dias de Dilma


Nos primeiros 100 dias, Dilma se descola de Lula

Brasil Econômico - 08 de Abril de 2011

Assessores palacianos e líderes partidários aliados temiam que os números das primeiras pesquisas de popularidade não dessem margem para comemoração. Razões não faltavam para tanto zelo: embate com sindicalistas sobre o salário mínimo, corte de R$ 50 bilhões no orçamento e um noticiário focado na complexa teia de nomeações do segundo escalão.
Além disso, historicamente os números de aprovação em começo de governo sempre são menores que os registrados nas urnas. Diante da data redonda dos 100 dias, a comparação com Lula seria inevitável.
Foi esse conjunto de fatores que levou a presidente a participar de programas populares na TV e a intensificar a agenda pública e de entrevistas. A estratégia parece ter dado certo.
A primeira pesquisa de opinião do governo Dilma, feita pelo Ibope no final de março, registrou um índice de aprovação maior que sua votação no segundo turno das eleições do ano passado: 73%. Mais que isso: o desempenho da presidente no quesito "avaliação do governo" foi melhor que o de Lula e FHC em seus primeiros três meses.
Ainda assim, Dilma preferiu ignorar a data para evitar comparações. "Muita gente que não votou nela avaliou bem o governo até aqui. Dilma teve uma aprovação maior que os votos válidos do segundo turno. Não dá para falar mais em transferência de popularidade do Lula, que ficou bem afastado nesse período. Essa popularidade é só dela", avalia Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope.
"Ela herdou uma leitura positiva do governo anterior, mas parte dos eleitores da oposição enxergam nela diferenças em relação ao Lula. E acham isso bom ", pondera o cientista político Antonio Lavareda.
Ele foi contratado pelo PSDB para fazer uma bateria de pesquisas que serão usadas na definição da nova estratégia de comunicação do partido. Não lhe faltam, portanto, credenciais para avaliar o cenário.
"Os cem dias são um período de trégua. Para a oposição é difícil sair atirando antes de ter uma visualização razoável do governo. O jogo político começa a ser jogado agora", diz Lavareda.
Promessas
Embora tenha ampliado seu capital político e conquistado autonomia de voo em relação ao antecessor, nem todos os caminhos trilhados por Dilma foram fiéis aos prometidos durante as eleições.
"Durante a campanha ela não anunciou que adotaria um modelo de gestão igual ao do (Antonio) Anastasia (governador tucano de Minas Gerais). Esse modelo, que é inspirado no Reino Unido, monitora resultados com muita precisão. O objetivo é atingir resultados. Ela não falou sobre isso na campanha porque era o espelho do Lula. E a gestão dele era o posto disso", diz o cientista político Rudá Ricci, autor do livro "Lulismo: da era dos movimentos sociais a ascensão da nova classe média".
Essa mudança, segundo o autor, pode ser percebida com a simples checagem diária da nova agenda presidencial. "Dilma controla a agenda dos ministérios com mão de ferro. Ela também é muito discreta e, ao contrário de Lula, não manda recados pela mídia".
A relação do governo com os movimentos sociais também mudou nos primeiros cem dias de governo. O tom emocional e por vezes caricato de Lula no contato com suas "bases" históricas foi substituído pelo pragmatismo de resultados.
"Está sendo mais fácil conversar com a Dilma do que era com o Lula nos primeiros cem dias de governo. Nossa relação com ele só melhorou depois do "mensalão" . Antes disso, era igual ao FHC", diz o deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), presidente da Força Sindical. Mudanças a parte, alguns vícios do governo anterior permaneceram intactos.
Segundo dados do Portal da Transparência, o gasto mensal com cartão corporativo nos dois primeiros meses da gestão Dilma Rousseff aumentou 62% em relação a média mensal de 2010.
Depois de promessas de campanha de escolher nomes técnicos para comandar as estatais, as nomeações políticas continuam sendo majoritárias. E programas como o "Minha Casa, Minha Vida" foram severamente atingidos pelos cortes no orçamento.
"Em cem dias não há como cumprir todas as promessas de campanha. Mas Dilma mostrou autoridade política própria e capacidade para liderar a base governista", conclui o cientista político Aldo Fornazieri, diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

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