Virou um centro cultural. Mais uma ação de jovens, muitos deles articuladores das manifestações de junho na capital mineira.
Não por outro motivo, logo na entrada do casarão, aparece um cartaz onde se lê: "O espaço é horizontal" (assim como a Assembleia Popular Horizontal, principal organização criada durante as manifestações juninas).
Não há hierarquia por lá.
O nome, Luiz Estrela, é uma espécie de Amarildo mineiro. Morador de rua que participava do circuito cultural da capital, foi assassinado próximo da Praça da Estação. O crime nunca foi investigado.
Há uma pendenga com o governo estadual que havia decidido ceder o espaço para uma empresa. Uma ação de despejo estava em curso mas os ocupantes conseguiram uma liminar a seu favor. Agora, a decisão está nas mãos do governador Antonio Anastasia que solicitou um plano de ações culturais aos jovens.
Hoje, o jornal Hoje em Dia publica matéria sobre o passado deste espaço. Foi, do final dos anos 1940 ao final dos anos 1970, um hospital psiquiátrico infantil, palco de torturas.
Abaixo, reproduzo a matéria do jornal e, logo em seguida, um vídeo onde uma das ocupantes explica o que pretendem com o Centro Cultural Comunitário.
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Hospital psiquiátrico infantil abrigou salas de tortura em BH
Priscila Musa/Espaço Comum Luiz Estrela
Celas que dão para um corredor de 182 metros abrigaram centenas de crianças durante 32 anos
Mais que o glamour de um prédio de arquitetura neoclássica, o casarão construído na rua Manaus, 348, no bairro Santa Efigênia, esconde uma fase de clausura, terror e sofrimento de pequenos internos entre os anos 1947 e 1979 – período no qual a edificação abrigou um Hospital de Neuropsiquiatria Infantil.
“Eu só estou vivo porque consegui fugir pelo telhado. Eu ouvia os gritos das pessoas e muitas vezes passei pelo eletrochoque”.
Memória
Entre os escombros do casarão, que ficou fechado por quase duas décadas, há um corredor de 182 metros de extensão localizado no primeiro andar. Lá, são encontrados cômodos de aproximadamente 15 metros quadrados, com paredes cheias de rabiscos de pequeninas mãos, nomes e desenhos. Não há circulação de ar porque as janelas foram lacradas com tijolos. Um ambiente que causa desconforto físico e moral - tortura, segundo definição no dicionário da Academia Brasileira de Letras.
No final do corredor há outra pequena abertura. A partir dela, descobre-se um labirinto que chega em novas celas, algumas com grades nas janelas lacradas com cimento. Frascos de remédio, ferramentas, sapatos de criança e brinquedos estão espalhados pelo chão.
“Eu não apanhava tanto porque ficava muito quieto, mas as crianças mais agitadas iam para o primeiro andar. Algumas não voltavam mais. Os médicos diziam que a família os tinham buscado, mas eu nunca soube se isso era verdade”, conta o ex-interno.
O presidente da Fundação Mineira de Psiquiatria, Maurício Leão, afirma que ambientes insalubres, como os descritos acima, podem prejudicar a saúde mental. “É por isso que hoje a vigilância sanitária é tão severa em suas fiscalizações”.
Descoberta
Eletrochoques eram comuns
A partir dos anos 1930 e até o fim da década de 1970, tratamentos como a lobotomia e o eletrochoque eram comumente utilizados em hospitais psiquiátricos. O presidente da Fundação Mineira de Psiquiatria, Maurício Leão, reitera no entanto que ambos são tratamentos que contribuíram para a evolução da medicina. “Em alguns casos, evidentemente, esses tratamentos foram usados com recursos e de maneira distorcida, mas têm em sua essência o dever de contribuir para a qualidade de vida do ser humano”, explica ele. Hoje a psicocirurgia é considerada como a evolução da lobotomia e o eletrochoque ainda é utilizado em muitos casos.
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