domingo, 3 de novembro de 2013

As três correntes intelectuais da China

Li, recentemente, um interessante artigo publicado na revista Nueva Sociedad sobre as correntes intelectuais na China da atualidade. O artigo foi escrito por Emilie Frenkiel, cientista política da Universidade Paris 8.
O artigo é esclarecedor. Segundo a autora, três correntes disputam a interpretação sobre a China e os rumos que o país deve tomar: uma corrente liberal, uma corrente denominada de "nova esquerda" e uma corrente tradicionalista.

Os liberais se apoiam nos estudos de Hayek. Você deve ter se surpreendido, como eu me surpreendi quando li. Os expoentes desta corrente são Xu Younyu, Zhu Xueqin, Qin Hui, Ren Jiantao e Liu Juning. Consideram que a China colhe os efeitos das distorções marxistas (mesmo suas lideranças tendo a intenção a liberalizar a economia do país). Zhu Xueqin sustenta que não existiria um sistema de freios e contrapesos na política chinesa, o que exigiria o estabelecimento de um Estado de direito. Há diferenciações internas entre seguidores de Hayek e os de Rawls.

A nova esquerda se apoia nos estudos de Foucault e Lyotard, além de citar constantemente a Escola de Frakfurt e neomarxistas como John Roemer. Seus expoentes são Gan Yang, Sun Liping e Hu Angang. Seu foco é a superação da desigualdade social e os efeitos negativos das recentes reformas econômicas da China. Esta corrente considera que a China já é capitalista, origem dos problemas sociais atuais. Sua vertente pós-moderna dialoga com alguns liberais chineses (caso de Wang Hui, Wang Shaoguang, Gan Yang e Zhiyuan Cui, apesar de refutarem os conceitos de Hayek sobre a supremacia do mercado) e até mesmo com a terceira corrente de intelectuais, a tradicionalista (caso de Gan Yang, que admite a instauração de uma república socialista confuciana). O economista Hu Angang sugere que hoje existem quatro níveis de desenvolvimento chinês: a) o de países desenvolvidos, plasmado em Beinjing e Shangai; b) o de províncias que vivem processo de desenvolvimento acima da média mundial, como Cantão, Jiangsu e Zhejiang; c) as regiões centrais da China emparelhadas com o padrão dos países em desenvolvimento e; d) as províncias do Tibet e Ghizhou, cujo nível de desenvolvimento se aproxima dos países mais pobres.

Finalmente, a corrente tradicionalista, apoiada nos ensinamentos de Confúcio. Nacionalista, esta vertente sugere a modernização gradual da China, sem rupturas com suas tradições. Seu expoente maior é Kang Xiaoguang, influenciado pelo Choque de Civilizações escrito por Samuel Huntington. Esta corrente vem orientando parte das elaborações oficiais em relação ao desenvolvimento e chegou a introduzir estudos do confucionismo em programas escolares e concursos para seleção no serviço público. Pan Wei, outro intelectual desta corrente de pensamento, chegou a criticar publicamente a democracia eleitoral, a despeito de sustentar a necessidade de um "verdadeiro Estado de Direito" na China.
Emilie sugere que esta última corrente projeta um regime elitista e meritocrático que combina autoritarismo político, economia liberal de mercado, corporativismo e Estado de Bem-Estar Social, fundado na noção de renzheng (governo iluminado, na tradição confuciana).

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