Não só porque o Carnaval ocorrerá em fevereiro, mas porque será o ano dos grandes eventos. O maior, a Copa do Mundo de futebol. Mas em março ocorrerá a VI Cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o encontro dos executivos das principais empresas desses países (Fórum dos CEOs) e a reunião de ministros. O evento ocorrerá no Centro de Eventos do Ceará.
Já seria uma boa pauta. Mas será mais que isto.
Tudo o que se espera para a Copa do Mundo será testado neste encontro de cúpula. Incluindo as manifestações.
Vejam o texto de Isabelle Azevedo e Isabela Benício, militantes da Marcha Mundial das Mulheres publicado em outubro deste ano sobre o evento e percebam as discussões envolvendo organizações sociais em curso:
Os BRICS e a resistência à ofensiva do capitalismo patriarcal
31 de Outubro de 2013 por
A ligação entre os países BRICS é, portanto, meramente econômica e financeira, e se projeta sobre um aspecto desenvolvimentista, sem considerar as questões sociais. Além disso, esses países possuem uma enorme diferença econômica, política, cultural, social, jurídica e ambiental. A diferença fica evidente quando são comparados, entre os países BRICS, índices como o de pobreza, de concentração de renda e de desenvolvimento humano. Essas diferenças entre os países ampliam ainda mais a insegurança da sociedade sobre o projeto político que está sendo traçado para e por este bloco econômico.
Entretanto, há um dado ainda comum a todos os países BRICS: a desigualdade entre homens e mulheres ainda é persistente. Segundo estudo de Maria Silvério (2012) [2], publicado no Observatório das Desigualdades, a desigualdade de gênero tem diminuído nos países BRICS, mas as mudanças são lentas. Segundo a pesquisadora, a falta de oportunidade das mulheres, os baixos salários e a pouca escolarização são intensificados pela pobreza, pelas diferenças de cor e castas, pelas regiões geográficas e pelo próprio sistema patriarcal.
Diante do cenário apresentado, as organizações e movimentos sociais (incluindo Marcha Mundial das Mulheres do Ceará) estão se unindo em torno da “Articulação Regional Contracúpula dos BRICS”. A proposta é desenvolver uma série de atividades paralelas ao evento oficial, com o intuito de convocar a sociedade para pensar alternativas aos modelos de desenvolvimento e financiamento que aí estão postos.
E não apenas isso, a sociedade civil organizada reivindica ampliação de um maior diálogo dos BRICS com os movimentos sociais, já que inexiste esse tipo de diálogo, embora o bloco tenha aberto espaço para a participação de empresários e acadêmicos na discussão econômica.
Para nós mulheres, é o momento para denunciarmos mais uma vez as ofensivas do capitalismo patriarcal contra a natureza, os direitos das trabalhadoras, o controle sobre o corpo e a vida das mulheres. Essas ofensivas se materializam em propostas como as dos bancos de desenvolvimento multilateral, que financiam cada vez mais projetos nos quais as mulheres são expulsas de seus territórios pelos megaprojetos nas áreas urbanas, pelas empresas extrativistas e pelo agronegócio.
É o momento também de denunciar o neocolonialismo que está se configurando no modelo de desenvolvimento traçado para os países BRICS, e de propor uma economia feminista e solidária para combater a pobreza e as formas de opressão. Precisamos ainda debater sobre a despatriarcalização do Estado com uma proposta de políticas emancipatórias que possam acolher a agenda do movimento feminista, e através das quais possamos caminhar para quebrar a lógica da divisão sexual do trabalho e avançar na igualdade entre homens e mulheres.
*Isabelle Azevedo e Isabela Benício são militantes da Marcha Mundial das Mulheres do Ceará
[1] DIEESE. Os Brics e a ação sindical. São Paulo: São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível emhttp://www.dieese.org.br/notatecnica/2013/notaTec128BricsAcaoSindical.pdf
[2] SILVÉRIO, Maria. Brics: desigualdades sociais nos países emergentes. Observatório das Desigualdades, 2012. Disponível em http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=projects&id=123
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