Entrevista que concedi à estudantes de jornalismo da PUC-Minas:
Qual o papel da Juventude no atual cenário político?
Rudá Ricci: Não sei definir exatamente o papel, mas o ideário e a lógica da atuação da juventude. Digo isto porque o conceito de papel é definido pela expectativa social que se tem sobre um determinado sujeito. Mas a juventude atual tem algumas características muito bem definidas. Uma delas é a rejeição à hierarquias e comando externo. Isto já se verificava mundialmente em relação aos traços da Geração Y. As manifestações deste início de século (o início, talvez, tenham sido as Assembleias Populares, na Argentina, em 2001) tiveram uma participação ativa de jovens entre 20 e 30 anos, todos fortemente definidos por manifestações performáticas nas ruas e estruturas de comunicação e organização horizontais. Nas manifestações que ocorrem a partir de 2005, com o Occupy, Indignados e Primavera Árabe, o papel das redes sociais parecia evidente e absolutamente sincronizados com o ideário que citei anteriormente. Uma juventude, portanto, mobilizada contra estruturas de poder centrais que desconsideram a opinião da população.
Quais foram as maiores conquistas políticas alcançadas pelos jovens brasileiros?
R: As maiores foram simbólicas. Em primeiro lugar, a juventude percebeu sua força e todo país sabe disto. No momento, existe uma espera tensa sobre o que ocorrerá em 2014. O parlamento brasileiro se revelou acuado e os governos não souberam como agir. A lógica do "enxameamento" que foi empregada nas ruas não estabelece paralelos com a estrutura de poder atual, toda focada nos padrões do século passado. Nos EUA, se afirma que a imprensa deseja um resultado, dentro do que denominam de "produtivismo". Todas lideranças, contudo, afirmam que a questão não é exatamente criar uma alternativa, mas revelar o descontentamento e a força dos cidadãos. O que venho percebendo nas minhas pesquisas é que em todas situações de mobilizações juvenis deste século, não há comunicação das ruas com o campo institucional. A mobilização que destoa desta minha afirmação é a Revolução das Panelas, na Islândia, em 2008. Lá, a mobilização foi tão forte que conseguiu alterar a Constituição a partir de um colegiado formado por cidadãos (não parlamentares). Mas, um ano e meio depois, o partido que estava no poder conseguiu retornar. As mobilizações deste início de século não se importam em elaborar alternativas de poder, mas em contestar todas estruturas de poder e sistema representativo. Há algo de anarquista em todas manifestações até aqui registradas.
As manifestações que aconteceram em outros países (como no Egito e na Síria) possuem alguma relação com as manifestações que aconteceram aqui no Brasil?
R: Tunísia, Egito e Argentina mantêm, de certa maneira, mais identidade do que ocorreu no Brasil que Occupy (EUA), Indignados (Espanha) e Revolução das Panelas (Islândia). Estas últimas adotaram, desde o início, um discurso anticapitalista, vinculando as estruturas de poder político com os interesses das grandes corporações econômicas, em especial, do sistema financeiro. Já a Primavera Árabe e o Brasil foram explosões emocionais com agenda difusa, focadas numa crítica generalizada contra governantes. Não conseguiram estabelecer uma agenda mais unificada e tiveram pouca ou nenhuma participação no momento seguinte aos protestos de rua. Mesmo nas situações mais agudas de queda de governos autoritários no mundo árabe, os manifestantes pouco participaram. Na Tunísia, a central sindical UGTT teve um papel de destaque (aliás, sempre teve na história recente do país), mas não se transformou num efetivo canal de ligação das população em protesto e as negociações no campo institucional. Primavera Árabe, Argentina e Brasil foram, neste sentido, mais catarse popular, com menor incidência sobre o mundo político formal.
Houve alguma expectativa da comunidade internacional em torno das manifestações?
R: Houve muita perplexidade. Eu mesmo fui entrevistado por jornalistas estrangeiros que não entendiam os motivos de tantos brasileiros saírem às ruas justamente no momento em que se acabava com a pobreza e o país crescia economicamente.
Qual a sua opinião sobre a intervenção de representantes dos direitos humanos internacional nas manifestações que aconteceram no Brasil?
R: Temos que garantir o direito à manifestação pública e reagir à militarização da ação estatal. Não podemos retornar à máxima de Washington Luis para quem a questão social era caso de polícia. A atual geração de gestores públicos é a pior da história republicana do Brasil. Não sabem negociar, não empolgam, não lideram e temem tudo o que não está no planejamento estratégico que fazem no início de mandato. Não são políticos, de fato. São empresários e gestores. Não se formaram nas ruas, mas nos gabinetes. Temos que saber resolver a condução das nossas questões internas sem ajuda externa. Já somos uma democracia madura e somos uma das potências econômicas mundiais (estamos apenas atrás dos EUA, no que tange ao continente americano).
Um comentário:
Baderneiros, Vândalos?
Baderneiros, vândalos, é que dizem a todo momento os meios de comunicação, sobre os manifestantes que dia sim, no outro também andam agitando as coisas em SP e no RJ. Dizem que a policia a todo momento busca o diálogo e a turma só quer porrada. Quem diz é claro são os meios de comunicação. Já a algum tempo a classe politica do Brasil, vem manifestando um estranhamento contra qualquer manifestação de rua, pacifica ou não. Uma certa saudade da ditadura militar, fica patente em quase todos que dão declarações, pedindo repressão contra os tais manifestantes. O fato de usarem máscara, segundo nossos defensores da ordem pública seria um indicio claro de que a turma não quer coisa boa. Surpreende entre os defensores da ordem pública, o governador do RS, tido como grande formulador de politicas do PT, defender que a policia baixe a lenha nos manifestantes, bem ao estilo da ditadura militar, que o o governador se orgulha de ter combatido.
Atilio de Oliveira
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