Javier Toret, da Universitat Oberta de Catalunya coordenou uma interessante pesquisa sobre o 15M (ou Indignados) da Espanha. A pesquisa ganhou o título de "Tecnopolítica: la potencia de las multitudes conectadas. El sistema red 15M, un nuevo paradigma de la política distribuida".
O ensaio pode ser acessado na internet.
A pesquisa abre várias inovações metodológicas, mas a mais instigante é o estudo das emoções que emergiram nas redes sociais (em especial, no twitter) durante 2011 e 2012, período mais quente das manifestações espanholas.
A equipe de pesquisa de Javier definiu alguns indicadores de emoção disseminados durante as tuitadas, agregou palavras-chave a partir dos indicadores e mediu a carga emocional (proporção de tuits identificados pelas "etiquetas emocionais"), a viralidade (tuits replicados que carregam a etiqueta emocional), o impacto das mensagens pelo número de contas de Twitter que se envolveram e a velocidade em que as mensagens foram compartilhadas num determinada unidade de tempo.
Vejam os dois gráficos que a pesquisa produziu que reproduzo a seguir.
O primeiro, sobre a carga emocional capturada no Twitter entre maio e junho de 2011 (que os autores identificam como de 15% do total de tuits, em média, no período, com pico de 19%, o dobro da carga emocional das tuitadas não envolvidos com as manifestações):
O segundo gráfico é ainda mais interessante e retrata o que os autores denominam de "volume emocional":
O gráfico acima revela a evolução das emoções predominantes durante o período estudado (uma semana antes de 15 de maio de 2011, quando a mobilização 15M teve início) e o volume emocional, ou seja, quantas vezes uma emoção é tuitada no período. Empoderamento (linha verde, com quase 2.500 tuitadas no período, de um total de 7.729 perfis analisados) é o mais citado, seguido do indicador Indignação (336 tuitadas). Esta combinação pareceu explosiva e não foi verificada no Brasil (nem pelos estudos de Fábio Malini, nem qualquer outro que tive acesso). Faltou este elemento mais politizado, que na Espanha e nos EUA (também na Islândia) deram uma conotação anticapitalista (além do duro ataque ao vínculo dos partidos e governos com o sistema financeiro) dos protestos.
Termino estas observações com a sugestão muito interessante dos autores sobre a força dos vínculos débeis, ao contrário dos fortes vínculos estabelecidos pelas organizações sociais e políticas clássicas, orientados pela hierarquia e voz de comando central. Reproduzo as passagens a partir do original:
A força dos vínculos débeis
Queremos esclarecer la magia y “la fuerza de los vínculos débiles” (Granovetter,
1984), para la organización en tiempo real, modular y reconfigurable de una
multitud inteligente (Rheingold, 2004) de indivíduos que se e-sincronizan,
actuando en una especie de coreografía instantánea para defender o atacar a un
enemigo, para conseguir un objetivo específico. Estos fenómenos no funcionan
como las organizaciones estructuradas, configuradas por una identidad fuerte,
mecanismos de organización instituidos, dinámicas de ritualización, reiteración
y autoconservación de sí mismas (que dominan los partidos, sindicatos y en
parte a los movimientos sociales). Los fenómenos de enjambres son formaciones
que emergen en torno a lo que acontece, que se cuasiorganizan a partir de la
fuerza de los vínculos débiles y agrupaciones temporales de interés y deseos.
(p. 106)
Enxameamento
“Expresión inglesa que literalmente querría decir enjambramiento,
utilizada por John Arquilla y David Ronfeldt para caracterizar por primera vez
a finales de los 80 un nuevo tipo de conflicto multiagente y multicanal donde
las relaciones entre los actores parecen describir la topología de una red
distribuida. El swarming es la forma específica del conflicto en la sociedad
red: distintos grupos y tendencias, no coordinados explícitamente entre sí y
apenas centralizados más allá de una mínima doctrina común dentro de las filas
de cada uno de ellos, van aumentando el alcance y virulencia de sus acciones hasta
aislar y acantonar las posiciones del contrario sin dejarles posibilidad real de
respuesta. (p. 106)
Todavía según Gutiérrez, apoyándose en Kevin Kelly, los enjambres organizacionalmente:
… están formados por muchos (miles) de
miembros autónomos. Estos miembros autónomos están altamente conectados entre
ellos pero no a un hub central. Como no hay centro de control, la gestión y
corazón del sistema están descentralizadamente distribuidos, tal como funcionan
las colmenas (...) Anonymous es un enjambre. Un enjambre distribuido. Un
enjambre altamente interconectado. Un enjambre sin abeja reina. Un enjambre que
se comporta con una inteligencia colectiva en tiempo real, regida por
conexiones tenues y por valores éticos sólidos. Un enjambre imprevisible. (p.
107)
Al sintetizar elementos comunes, los enjambres son acciones
coordinadas en red, por nodos que no se conocen y que están agrupados en torno
a un objetivo concreto, expresan un tipo de conflicto en forma de red
distribuida sin autoridad central, en forma de comportamiento supra-individual
con sentido inteligente y autocoordinado em tiempo real. Más allá de esta
definición, haremos un repaso por los fenómenos del mundo animal para
finalmente afrontar los enjambres en el 15M. (p. 107)
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