Levantamento realizado pelo Ibope
(divulgado no primeiro dia de agosto) revela que as principais instituições do
País perderam boa parte de sua credibilidade com a população depois das
manifestações populares de junho. De acordo com o Índice de Confiança Social,
divulgado anualmente pelo instituto desde 2009, as pessoas confiam menos nos
três poderes desde então.
Das 18
instituições pesquisadas, todas, passando por Corpo de Bombeiros, partidos
políticos, igrejas, empresas, sindicatos e até Organizações Não Governamentais
(ONGs), se tornaram menos confiáveis aos olhos da população brasileira. Os
meios de comunicação da imprensa, o governo federal, as prefeituras, o
Congresso Nacional e o Judiciário também tiveram sua imagem prejudicada.
Apesar de
ter sido a instituição que mais perdeu pontos, a presidente da República
continua tendo mais credibilidade que os outros poderes, como o Congresso e a
Justiça do País. Durante o governo Lula, a presidência da República ocupava o
terceiro lugar no ranking, atrás apenas dos Bombeiros e das igrejas. De 2012
para cá, caiu da quarta para a 11ª posição. No primeiro ano do governo Dilma, o
índice caiu de 69 para 60, recuperou-se para 63 no ano seguinte e despencou
agora para 42.
O resultado
é pior para o lado dos políticos – representados pelo Congresso e pelos
partidos. Eles já eram os piores no ranking das instituições, mas caíram ainda
mais: de 36 para 29 pontos, e de 29 para 25, respectivamente. Desde 2009, as
duas instituições nunca deixaram a lanterna da lista. A saúde, um dos
principais alvos das manifestações de junho, sofreu a terceira maior queda: de
42 para 32 pontos. Enquanto o Judiciário caiu de 52 para 46 pontos.
Esta constatação me deixa
preocupado com a pobreza de análises pró e contra o lulismo. No campo das
críticas, o lugar comum: ataque ao estatal desenvolvimentismo baseado no
fomento ao mercado interno (por si só, uma diferença abissal em relação a todos
outros governos pós regime militar), ausência de investimento em infraestrutura
(em qual? na definida pelos setores econômicos oligopolizados?), dependência em
relação ao mercado externo (em especial, China, que não discutimos seriamente
como ocorria antes do regime militar, ou seja, um "vício" histórico
brasileiro), empregabilidade com baixa qualificação.
O fato é que a mudança provocada
pelo lulismo, conservadora economicamente, de tutela política e hipertrofia
estatal, gerou uma mudança na lógica societal brasileira. E é aí que me
incomoda esta gangorra analítica. Sinto que a crítica ao lulismo vem como se
quem critica tivesse algo melhor a apresentar. A grande imprensa sugere que o
melhor seria o liberalismo de antes do lulismo, o que se revelou um desastre.
Minha preocupação é que não conseguimos analisar o país com profundidade. A
pauta que parece técnica é superficial, vinda dos editoriais da grande
imprensa, quase que abatida por sua própria incompetência e partidarismo, ela
também enredada nesta pobreza mental.
As manifestações de junho – e a pesquisa
do IBOPE parece indicar esta direção – indicaram que parte significativa dos
brasileiros quer virar a página do país. E virar a página não é voltar à agenda
FHC. Nem nada próximo. Aliás, a queda dos índices de popularidade das
instituições não se relaciona apenas com os desejos difusos apresentados em
junho, mas com a percepção de insegurança econômica dos beneficiados pela
política de transferência de renda e aumento real do salário mínimo. Os dois
segmentos (manifestantes de junho e classes menos abastadas) possuem ideários
opostos. Só se somaram na frustração com os governos de plantão e nossas
instituições públicas, nada mais. E grande parte das análises apresentadas nem
de longe se preocupa com o que pensam os menos abastados, ficando presa à cantilena
da classe média descontente.
Esta incompletude faz das
oposições algo pouco popular e efetivo na mudança do país. Fragilidade fincada
na reflexão profundamente parcial e no temor em responder o que me parece
essencial: o que, afinal, motiva a maioria dos brasileiros em relação à
política? O que sustenta este pêndulo que vai do apoio irracional ao lulismo ao
quebra-quebra das manifestações de rua? O que faz índices estratosféricos de
popularidade de um candidato ou governo se revelar fumaça em poucos dias?
Não sei se estou sendo claro, mas
há algo de viciado, tanto nas bases do lulismo, quanto nos que o criticam.
Nenhum dos dois me convence.
2 comentários:
Depois de anos imersos em meias verdades a sede por mentiras inteiras é o primeiro passo para um acordo real com as instituições que estão expondo, por diversas circunstâncias, externas e internas, as verdades inteiras das suas mentiras. Da manipulação mediática a sonegação global o ciclo esta se fechando. Quem viver verá ? Se a página vira.
Com certeza, o atual governo federal não é perfeito, porém, sua oposição não oferece propostas ao que está errado. Pior é que, alguns que criticam os governos petistas, os fazem apenas porque são contra o PT. Muitos desses críticos nem conseguem reconhecer algum nome ou partido que possam votar e substituir o atual governo. Por aí é que vejo a razão do crescimento de Marina Silva, oferecida como algo novo na política, num partido que nem tem nome de partido, atraente para quem reclama do PT, mas lembra que quem foi governo antes, foi muito pior. Voltando ao que escrevi acima, o governo petista não é perfeito, mas faz um bom governo e, ao meu ver, fez crescer a dignidade de muitos brasileiros, que antes, apenas sobreviviam. É esse o tipo de política que julgo mais importante, neste País ainda tão injusto.
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