segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Movimentos Sociais do Século XX e sua leitura sobre as mobilizações do Século XXI

No último dia 5 ocorreu a Plenária Nacional dos Movimentos Sociais em São Paulo.
Na convocatória, assinada por João Pedro Stédile (MST-Via Campesina) e Paola Estrada (Sec. ALBA Movimientos), comentava-se as mobilizações de junho (e citavam a manifestação das centrais sindicais de julho). O importante da convocatória é que admitia a necessidade da elaboração de análise coletiva dos movimentos sociais frente ao novo momento, algo que a maioria dos partidos políticos não deixou explícito, reagindo de maneira conservadora à revolução molecular do final do semestre passado.
A preocupação explícita da convocatória, contudo, era para construir lutas unitárias de peso para influenciar a sociedade brasileira. E é aí que começa o escorregão.
A avaliação política geral sugeria que a jornada de lutas do dia 11 de julho (sindical) tinha sido um sucesso. Fundamentava a análise em virtude da maioria das capitais do país ter acolhido manifestações. Mas não cita o caráter formal e centralizado das manifestações, envolvendo pouca gente e não empolgando o país.
Na contramão do que poderia ser uma avaliação mais radical da mudança de lógica de mobilização, a análise contida na convocatória sugeria que a grande imprensa procurou desqualificar a jornada. Não foi apenas a grande imprensa, mas todos analistas sérios (grande parte de esquerda) do país. Apesar do ufanismo, o texto admite que a juventude não participou.
Vai além: afirma que o governo Dilma ficou "assustado" com as mobilizações de junho e procurou tomar a iniciativa que vem sendo, afirma a convocatória, sistematicamente derrotada pela própria base aliada.
Por outro lado, sugere que a direita também está atônita. Procura, sugere, desgastar o governo até 2014, mas não possui discurso ou candidato alternativo com força real.
Uma no cravo, outra na ferradura.
A partir daí, o documento sustenta (vou reproduzir na íntegra):

a) Estamos recém entrando num novo período histórico, de muita disputa politica e ideológica com a burguesia, seus poderes e os meios de comunicação. Será um período longo e de muita disputa, cujos desdobramentos e possibilidades de vitorias da classe trabalhadora ainda estão em aberto.
b) O governo Dilma havia tomado iniciativa politica nas mobilizações de junho, mas ao ser derrotado por sua própria base parlamentar, agora, esta estudando outros passos, que não estão claros. Por ora, há sinais nas seguintes direções: afastar-se mais do PMDB que lhe traiu publicamente, fazer uma mini reforma ministerial para recompor um centro de elaboração politica, e orientar os únicos três partidos que permaneceram aliados (PT, PDT e PCdoB) a insistirem com a tese de projeto legislativo para convocar um plebiscito. Porem, os termos colocado para o plebiscito que seria convocado por esse decreto são pífios, e propõem apenas pequenas mudanças eleitorais, sem alteração do quadro politico.
c) A Burguesia até agora, também deu sinais que não tem unidade, nem de que passos pretende dar frente as mobilizações.
d) É possível que as forças direitistas, se aproveitem da visita do Papa e da semana da pátria, de sete de setembro, para irem às ruas e levantarem bandeiras conservadoras.
e) Será um período que nos exigirá muita persistência,sabedoria, debate coletivo, para entendermos a cada momento, e uma certa ousadia para acertar nos passos que precisamos dar.
f) O MST e os movimentos do campo precisamos estar cada vez mais estar antenados e articulados com os trabalhadores da cidade. Nossa luta pelas mudanças no campo, com a reforma agraria e o projeto de agricultura familiar, camponesa, somente avançarão junto com eles. Porem, se abre um novo período propicio para retomada das lutas no campo.
Enfim, não caiu totalmente a ficha para os movimentos sociais que foram um marco nos anos 1980.
Ainda vivem a lógica mobilista e de organização do século XX. É compreensível, mas precisam ter a coragem de dar um salto mais ousado nas análises. As mobilizações de junho foram, em sua essência, típicas da Geração Y e do século XXI, este, das redes sociais.
Não dá para pensar em fazer plenárias locais (como sugere o final do documento), em grande quantidade e construir unidade no campo partidário e das centrais sindicais quando são estas as organizações atingidas pela crítica vívida das ruas.
O que foi, afinal, a mobilização nacional de 6 de agosto que este documento propunha?
E o que será o 30 de agosto, sugerida como data para nova paralisação nacional.
Se não der certo, qual será o fator que explicará que a população brasileira sai às ruas e/ou apoia manifestações (até mesmo violentas), mas não se emociona ou tem empatia com as convocatórias das organizações populares com um pé no século XX?
Temo que esta concepção de ações cumulativas a partir da organização central e vertical está perdendo seu apelo.
Ainda há chance para o plebiscito sobre a reforma política.
Mas se continuarem insistindo nas velhas fórmulas de mobilização, até mesmo esta agenda pode envelhecer precocemente.

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