domingo, 11 de agosto de 2013

Os sabores do palácio

Fui assistir, ontem, este filme que retrata com delicadeza as agruras dos escaninhos do poder palaciano (nada melhor que a França para retratar esta praga mundial), costurada por gastronomia.
O jogo de espelhos entre o poder e a gastronomia envolve o espectador. Hortense Laborie é uma cozinheira de Périgord, competente mas que rejeita o título de chefe e crava suas forças na tradição e qualidade. Surpreendentemente, é nomeada responsável pelas refeições particulares de Miterrand, no Palácio de Élysée, o que lhe põe em rota de colisão com os chefes oficiais do Palácio do governo francês.
A metáfora fisga a todos nós, reles mortais, que nos identificamos com a chef que vem do interior sem pedir, se impõe pela competência e rigor e se vê enredada na trama palaciana. Um paralelo e tanto com os dias atuais, de manifestações explosivas acidamente críticas ao status quo da política institucional ao longo do mapa mundi. O último empurrão é o ostracismo final, que me recuso a dizer de quem, mas que você já deve imaginar.


Um comentário:

kivas Arquitetura disse...

Este filme é um manual mordaz e lírico para qualquer político. O fato de ser ligado ao alimento só o torna mais cruelmente belo com interpretações magistrais. Não só da política, é um retrato das corporações e suas "corridas de rato corporativas" na expressão traduzida norte americana.O Medíocre como ditadura sobre o sincero e sua vitória momentânea. Adorei também.