Nada como uma matéria do Estadão para acabar com o domingo de vez.
A pesquisa IBOPE divulgada pelo jornalão paulista revela o que obviamente a quase totalidade dos militantes que desejam um canal institucional para a inquietação das ruas se transformar em mudança real já sabia: a quase totalidade dos brasileiros nem tem ideia do que seja a tal reforma política.
O caminho é longo e vai exigir militante maratonista nesta jornada.
1/3 já ouviu falar neste palavrão e só 7% se dizem bem informados pelo tema.
Vou ser sincero: pelas entrevistas que dou para jornalistas do país, achei o percentual dos que se sentem bem informados até alto. A quase totalidade dos jornalistas que cobre o tema não tem nem ideia do que pesquisar, quem consultar e nem sabe das articulações nacionais a respeito. No máximo, só sabe o que os partidos e parlamentares fazem a respeito, ou seja, quase nada.
A pesquisa do IBOPE indica, ainda, alguns temas mais conhecidos:
1) Acabar com o voto secreto no parlamento. O tema ganha ponto junto à galera (mas apenas 26% sabiam do que se tratava);
2) Acabar com suplente de senador ou mudar o financiamento de campanha ganhou a medalha de prata em popularidade (22% tinham alguma informação a respeito);
3) Acabar com alianças entre partidos nas eleições de deputados, voto distrital e permitir candidaturas avulsas ganham a medalha de bronze, quase empatados (grau de conhecimento: entre 16% e 20% dos entrevistados).
Só 7% dizem saber bem do que se trata a reforma política
Pesquisa Ibope/'Estado' mostra que assunto era novidade para 2 a cada 3 eleitores; voto aberto no Congresso é causa mais apoiada
25 de agosto de 2013 | 2h 04
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, DANIEL BRAMATTI - O Estado de S.Paulo
O Brasil acha a reforma política importante, mas sabe muito pouco sobre ela. Pesquisa Ibope/Estado mostra que dois em cada três brasileiros ouviram falar pela primeira vez do assunto ao serem interpelados pelo pesquisador - ou nem sequer conseguiram responder à questão - e menos de 1 em 10 entrevistados diz saber bem do que se trata.
Apenas 36% disseram ter conhecimento de que se discute a reforma política. Saber que o debate existe não significa estar por dentro do seu conteúdo. Tanto que só 7% dos entrevistados se declararam bem informados sobre a reforma política. Outros 34% disseram ao Ibope estar pouco informados, e a maioria absoluta disse estar "nada informado" (52%) ou nem sequer soube responder (7%).
Considerando-se apenas os 41% que têm alguma informação (a soma dos "bem" e "pouco" informados), a maioria é favorável à realização da reforma política no Brasil: 39% concordam totalmente, 33% concordam em parte e 7% discordam. O resto ficou no muro (nem concordou, nem discordou) ou não respondeu.
Mas nem todos desses 41% teoricamente informados sabem dizer, espontaneamente, do que trata a reforma política. Um em cada três (28%) não conseguiu dizer nenhuma medida específica que esteja sendo discutida para reformar a política brasileira.
Na prática, sobram 30% de brasileiros que dizem ter algum grau de informação sobre a reforma política e sabem citar um exemplo do que está em debate. Os pontos mais mencionados por eles foram: acabar com suplente de senador, com as votações secretas no Congresso, com as coligações partidárias e com o voto obrigatório - todas essas na faixa de 20% a 23% de citações.
A seguir, os exemplos de reformas mais lembrados foram a realização de um plebiscito conforme proposto pelo governo federal (18%), mudar a forma de financiar as campanhas eleitorais (12%), reduzir o número de partidos (12%), realizar uma constituinte sobre o tema (8%) e outros menos cotados.
O Ibope perguntou então aos entrevistados quão informados eles estavam sobre sete pontos específicos da reforma política. As opções de resposta ("bem", "pouco" ou "nada" informado) foram convertidas em uma escala de até 100 pontos, que mede o grau de conhecimento do brasileiro sobre cada uma dessas reformas.
Voto secreto. O tema que se mostrou mais popular entre os brasileiros foi "acabar com o voto secreto no Congresso Nacional, ou seja, permitir que todos possam saber como os deputados votam". Mesmo assim, marcou apenas 26 pontos num máximo de 100 na escala de conhecimento sobre o tema. Com os outros foi ainda pior.
"Acabar com suplente de senador" e "mudar a forma de financiamento das campanhas eleitorais" empataram em segundo lugar, com grau de conhecimento 22 em 100. Depois vieram "acabar com alianças entre partidos nas eleições de deputados" (20/100), "voto distrital" e "permitir candidatos não filiados a partidos nas eleições" (ambas com 18/100). A "lista fechada" para eleição de deputados e vereadores ficou em último lugar, com 16/100.
É levando-se em conta esse baixo grau de conhecimento dos eleitores sobre as propostas que se deve analisar o seu grau de concordância com cada uma delas. Usando-se a mesma escala de 0 a 100, o maior apoio dos entrevistados foi para acabar com as votações secretas no Congresso: 86 num máximo de 100. A seguir, com 85/100, vem o apoio ao fim dos suplentes de senador.
Acabar com as coligações partidárias nas eleições proporcionais marcou 81 pontos de apoio, e a permissão para candidaturas avulsas, ou seja, de pessoas sem filiação partidária nas eleições ficou com 72 pontos num máximo de 100.
Pelo baixo grau de conhecimento prévio das propostas, essas questões configuram o que se chama de imposição de problemática: a maioria dos entrevistados só toma pé do assunto após ser abordado. Isso significa que as taxas de apoio e rejeição estariam sujeitas a grandes variações caso a reforma política fosse popularizada via campanhas publicitárias durante a preparação para um plebiscito, por exemplo.
A pesquisa Ibope/Estado foi feita entre os dias 15 e 19 de agosto. Foram 2.002 entrevistas face a face, na residência dos entrevistados. A pesquisa tem abrangência nacional: foi feita em 143 municípios de todas as regiões do Brasil. Sua margem de erro máxima é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, num intervalo de confiança de 95%.
Um comentário:
Eles não estão sabendo sobre reforma eleitoral, imagina reforma política. Isso explica por que a direita ariscou em não dar concessões a "junho de 2013" em relação ao projeto da Dilma de reforma.
A direita brasileira, isso inclui mais da metade do governo, só apoiaria reforma eleitoral, ou seja, só perderia alguns elementos fundamentais no controle do jogo político, se ela visse que a totalidade do controle do jogo(que tira com reformas radicias como a política) estivesse muito ameaçado.
Se os brasileiros não sabem o que é reforma política (eleitoral), corre risco de lideranças que trabalharem muito em prol dessa acabarem serem derrotados e ainda se queimar politicamente diante das massas.
A população precisa entender, conhecer, fazer política, se não vai prevalecer questões como a pesquisa aponta: tem uma vaga a ideia de que é necessário mudar, mas não nem noção como que faz isso na prática. E ainda: como os políticos fazem.
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