quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Hannah Arendt, o filme

Hannah Arendt é um ícone para minha geração (da área de sociologia). Raciocínio arguto, radical e que aprofundou o diálogo entre filosofia e política. Fui assistir o filme de Margarth von Trotta e, por algum motivo, cada vez que a atriz Barbara Sukowa (que interpreta Arendt) aparecida na tela, me vinha à mente Ruth Cardoso (vá entender os labirintos da mente!).
O filme é mais que oportuno. O olhar original de Arendt sobre a desumanização embutida no argumento do nazista Adolf Eichmann (que dizia apenas cumprir ordens ao embarcar judeus para serem mortos em campos de concentração) nos remete aos argumentos dos torturadores do nosso regime militar (aqueles que confessam seus crimes nas audiências promovidas pela Comissão da Verdade). Mas acredito que se relaciona ainda com o estilo tecnocrático da atual geração de (des)governantes brasileiros, de todos os naipes e tamanhos, que mais se portam como yuppies e gerentões que funcionários públicos delegados pelo voto do cidadão.
O professor da Uni-Rio, Rodrigo Ribeiro, explicou a tese de Arendt, que cobriu o julgamento de Eichmann em Jerusalém (se ofereceu ao The New Yorker para fazer esta cobertura):

“Ela viu nele a encarnação máxima da ausência de pensamento. Quando alguém realiza algo por obediência a regras, está completamente desconectado do próprio mundo e é incapaz de pensar”.
Arendt foi combatida por esta linha de interpretação. Mas não só. Ela denunciava a colaboração (também pela desumanização ou ausência de autonomia do pensamento) de diversas lideranças judias.
A filósofa emoldurou esta constatação como "banalização do mal".
Eu roubo esta moldura para sugerir que vivemos a "banalização da gestão pública" em nosso país. Há um profundo desrespeito à lógica democrática em nome de uma tal capacidade gerencial focada nos resultados.

Um pouco de Hannah Arendt
Filha de família judia rica e intelectualizada, Hannah Arendt nasceu em 1906, em Hannover, na Alemanha. Entrou na faculdade em Berlim, em 1924, onde foi aluna de Heidegger, seu mestre e amante por um período. Em 1928, doutora-se em filosofia com tese sobre o conceito de amor em Santo Agostinho, orientada por Karl Jaspers. Em 1933, depois de ser temporariamente presa por causa do envolvimento com a resistência sionista ao nazismo, Hannah foge para Paris. Em 1941, refugiou-se nos Estados Unidos. Em 1951, obteve a cidadania americana e no mesmo ano publicou Origens do totalitarismo, um amplo estudo sobre o antissemitismo, nazismo e comunismo. Foi professora da New School for Social Research, em Nova York.
Em 1958, publica A condição humana e em 1961 viaja a Jerusalém, para fazer a cobertura do julgamento de Eichmann para a revista The New Yorker. 


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