As três fatias do bolo eleitoral |
Elio Gaspari
Faltam poucos dias para o desfecho da eleição municipal e são fortes os sinais de que o PT terá o que comemorar. Qual a explicação para o desempenho dos companheiros se a economia vai devagar, quase parando, e a cúpula do partido de 2005 está a caminho do cárcere?
Aqui vai uma tentativa: desde 2002, quando Lula assinou a Carta aos Brasileiros e venceu a eleição incorporando pilares da política econômica de Fernando Henrique Cardoso, o PT move-se livremente sobre o campo adversário (quem quiser, pode dizer que ele vai à direita, mas essa imagem é insuficiente).
Já a oposição, petrificada, não consegue sair do lugar. Em alguns momentos, radicaliza-se, incorporando clarinadas do conservadorismo europeu e americano.
O tema do aborto, do "kit gay" e a mobilização do cardeal de São Paulo ao estilo da Liga Eleitoral Católica dos anos 30, exemplificam essa tendência. (Registre-se aqui a falta que faz Ruth Cardoso. Com ela, não haveria hipótese de isso acontecer.)
Admita-se que o eleitorado se divide em três fatias. Uma detesta o PT e tem horror a Lula. Outra, no meio, pode ir para qualquer lado. O terceiro bloco gosta de Nosso Guia e não se incomoda quando ele pede que vote em seus postes. Se um bloco se move e o outro fica parado, sempre que houver eleição, o PT prevalecerá.
Some-se à paralisia da oposição uma ilusão retórica. Desde 2010 suas campanhas eleitorais estruturam-se como pregações aos convertidos. O sujeito tem horror a Lula, ouve os candidatos que o combatem e fica duas vezes com mais raiva. Tudo bem, mas continua tendo apenas um voto. Já o PT segue uma estratégia oposta. Sabe que os votos de esquerda vêm por gravidade e vai buscar apoios alhures.
A crença de que o julgamento do mensalão seria uma bala de prata para a oposição revelou-se falsa. Já as crendices petistas segundo as quais o Supremo se tornou um tribunal de exceção ou que o impacto de suas sentenças seria irrelevante são um sonho maligno.
As condenações podem ter sido eleitoralmente insuficientes para derrotar os companheiros, mas não foram irrelevantes. O PT deve prestar atenção à voz do Supremo, pois a corte não é uma mesa-redonda de comentaristas esportivos. Ela é o cume de um Poder da República.
Eleição não absolve réu, assim como o Supremo não elege prefeito. Se Lula e o PT acreditarem que o eleitorado respondeu ao Supremo, estarão repetindo o erro dos generais que viam nos resultados dos pleitos da década de 70 uma legitimação indireta do que se fazia, com seu pleno conhecimento, nos Doi-Codi.
O comissariado deveria ter a honestidade de admitir que acreditou na impunidade dos mensaleiros. Resta-lhe agora o vexame de reformar o estatuto do partido, que determina a expulsão dos companheiros condenados em última instância.
A oposição tem dois anos para articular uma agenda que lhe permita avançar sobre a plataforma petista. Ela não precisa se preocupar com a turma que detesta Lula, essa virá por gravidade, assim como os adoradores de Nosso Guia continuarão seguindo-o.
Fazendo cara feia para os programas sociais do governo, para as políticas de ação afirmativa nas universidades e para a expansão do crédito popular, ela organizará magníficos seminários. Eleição? É coisa de pobre.
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012
As três fatias do bolo
Sabe aquele texto que você lê e fica com raiva porque gostaria de ser o autor? Pois bem, aí abaixo está um texto que provocou este sentimento em mim. Foi publicado na Folha de hoje.
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3 comentários:
Como eu gostaria de ter o conhecimento que um Sociólogo, Mestre em Ciências Políticas e Doutor em Ciências Sociais como o mestre Rudá Rici, para que, como ele, sentisse inveja deste texto.
Tudo que sei, na minha ignorância, é que o jornalista autor do texto é mais um da grande imprensa a tocer contra governo popular. Não consigo enchergar no texto em questão e nem no jornalista, algo que que demostre sua isenção no que escreve. A cadeia deve ser para todos os ladrões. E ai eu incluiria o ladroes do psdb, assim como TODOS o ladrões.
Não gosto do autor do texto, mas ele me surpreendeu. Estava começando a achar que não havia vida inteligente na oposição. Mas ele conseguiu ver o real problema do PSDB, resta saber agora se o resto da mídia fará com que a oposição entre no debate de propostas ou continuará a caminhar pra extrema direita
Airton,
É que a gente lê de acordo com nossas emoções de momento. Veja como João Carlos (que também envia um comentário) leu o mesmo que eu. O eixo do texto do Gaspari não é o pito no PT, mas as três fatias. E as três fatias dizem respeito às 3 porções do eleitorado (pró-Lula, anti-Lula e indecisos). Gaspari sugere que o lulismo avança sobre os indecisos e a oposição fica presa aos anti-lulistas. O autor sustenta que, assim, os anti-lulistas tem vida curta, não ampliam. Sobre o pito, é algo totalmente marginal no texto e não tem nem relação com o título. Mas parece que tocar em ferida aberta dói como se fosse uma faca.
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