quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Minha participação do Entre Aspas que discutiu o impacto do julgamento do mensalão

Veja AQUI

Algumas observações complementares:

Não me sinto nada confortável, como fundador do PT que fui, de acompanhar esta tragédia que assola uma das promessas mais profícuas da política brasileira, em toda história republicana. Me angustia, ainda, ver o envolvimento de Genoíno, com quem convivi na década de 1980 quando das articulações que envolviam a esquerda petista, que surpreendentemente se contrapunham ao projeto de José Dirceu. Genoíno sempre foi absolutamente íntegro e cordato. Se deixou envolver por quem, um dia, combateu, possivelmente por cansaço de estar sempre do lado minoritário da direção do partido.
Este, contudo, não é o caso de José Dirceu e, muito menos, Delúbio Soares. Mas Delúbio é uma figura menor, um operador sem expressão própria.
É um péssimo recurso a fulanização da política, porque reduz uma ação nobre a um folhetim de quinta categoria. Para um sociólogo, seria mais importante compreender as motivações que levam um partido inovador a se tornar um esteio da ordem patrimonialista.
Mas sei bem o que Zé Dirceu representou na guinada do PT. Ele foi o principal motivador para meu afastamento (doloroso, confesso) do PT. Imagino que tenha me tornado mais cético desde então e o brilho da utopia que me guiou na juventude ficou mais opaco.
O que quero dizer é que, antes mesmo do mensalão vir à tona, Zé Dirceu já tinha desmantelado parte dos sonhos daqueles petistas que nunca sentiram atração pelo pragmatismo político e muito menos pela burocratização ou controle partidário desde cima. Ele foi o artífice da destruição da novidade que o PT representava. Sem dúvida, fez o PT ser uma das grandes legendas nacionais. Mas tal crescimento custou caro. Custou a novidade. Custou uma promessa de uma esquerda mais arejada, criativa, enraizada no mundo real dos bairros, comunidades e empresas. O PT virou governo, mas perdeu a hegemonia cultural porque se rebaixou á mesmice.
Seria fantástico se o julgamento provocasse um debate franco entre petistas e toda esquerda tupiniquim. Mas já não tenho mais 20 anos. Não tenho motivos para acreditar que o brilho da utopia seja mais forte que as cores reluzentes do poder absoluto e domesticador.

2 comentários:

Rudá Ricci disse...

Recebi um comentário de um internauta que pediu para que não publicassse suas observações. Contudo, gostaria de dialogar com ele e não me resta outro meio, já que não enviou por email. Adianto que vários dirigentes do PT enviaram comentários se alinhando com minha frustração. Posso adiantar que um deles é um dos quadros mais importantes do partido e ocupa uma função pública extremamente relevante. Enfim, quem conhece o PT profundamente (como nós, dinossauros), está profundamente deprimido.

kivas Arquitetura disse...

Rudá me pergunto se este teu artigo é só para dizer que é tudo verdade. O domínio do fato comprova uma desconfiança generalizada em relação a José Dirceu.Então ele é um mal terrível e maquiavélico a quem o povo pouco importa. Não tenho nenhuma simpatia ou antipatia em especial por ele. Só que sendo você quem é e, escrevendo o que escreveu; leva-me a pensar que JB é mesmo o gênio do quebra cabeças e ta tudo dominado (ha!)