quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Duas análises sobre as eleições em MG

O blog de Fernando Rodrigues (UOL) publicou, no intervalo de 10 horas, duas versões, diametralmente opostas, sobre os resultados das eleições municipais mineiras. Na primeira, análise de Fabiano Angélico (FGV-SP) sustentava que Aécio e o PSDB mineiro teriam saído derrotados das urnas. No início da noite, o presidente mineiro dos tucanos, deputado Marcus Pestana, apresentou dados que invertiam os sinais da análise de Fabiano.
Este me parece o espírito que falta à democracia brasileira e que a coluna de Fernando Rodrigues resgata: falta debate de visões e perspectivas. Estamos nos acostumando a tentar ganhar no grito.
Vejam as duas análises, na sequência:


Aécio perde força em centros urbanos

 11/10/2012 - 8:33


Principal nome do PSDB para 2014, tucano está quase isolado em Belo Horizonte
Dados como vitoriosos em MG, Aécio e PSDB tiveram agora presença reduzida em cidades relevantes
Estatísticas do primeiro turno das eleições municipais de 7.out.2012 mostram que foi fraco o desempenho do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do seu partido em solo mineiro.
Em 2008, o PSDB e seus aliados venceram as disputas pelas prefeituras de 4 das 10 maiores cidades de Minas Gerais. Agora, aecistas levaram só a capital do Estado e Betim.
Além disso, informa Fabiano Angélico em artigo especial para o Blog, aecistas e PSDB estão fora das disputas de 2º turno em Minas Gerais. Eis a análise:
Tido como grande vitorioso, Aécio Neves perdeu força nas maiores cidades mineiras
Por Fabiano Angélico, pesquisador da FGV-SP
Logo após a divulgação dos resultados das eleições de domingo passado, comentaristas apontaram o senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas Gerais, como um dos grandes vitoriosos.
É verdade que Aécio conseguiu reeleger seu candidato em Belo Horizonte sem a necessidade de segundo turno e contra um ex-ministro de Lula, Patrus Ananias (PT), que teve apoio de Dilma Rousseff. Mas a leitura de que houve um grande triunfo de Aécio Neves parece ter sido apressada.
Em entrevista à Folha publicada na segunda-feira, o cientista político Marcos Nobre já amenizava a vitória do neto de Tancredo: Aécio está acuado em Minas, disse o professor.
Os dados, porém, permitem uma leitura ainda mais desalentadora ao líder do PSDB de Minas: Aécio está acuado em Belo Horizonte.
Das 10 maiores cidades mineiras, que concentram 30% da população e 45% do PIB do estado apenas a capital mineira e Betim, cidade da região metropolitana, estarão no grupo aecista a partir de 2013. E nem mesmo será preciso esperar o 2º turno em Minas para se dimensionar o poder do PSDB e de seus aliados nas maiores cidades do estado: os tucanos e seus aliados estão fora das quatro disputas que ocorrerão no final deste mês.
A comparação do resultado de 20012 com a voz das urnas em 2008 e 2004 demonstra a redução da presença do aecismo nas dez maiores cidades mineiras.
A partir de 2013, os aecistas governarão 2,7 milhões de pessoas, novamente considerando-se as dez maiores cidades de Minas; enquanto os não aecistas administrarão cidades que somam uma população de 3,2 milhões, neste grupo.
Eis o quadro das 10 maiores cidades mineiras para as eleições de 2012:
Os dados, portanto, indicam para uma possibilidade de que o aecismo seja contido a partir de 2013 e que partidos de fora da órbita do PSDB  estejam mais bem posicionados para as eleições de 2014 em Minas.




Para PSDB, Aécio foi bem nas nas cidades de MG


Presidente dos tucanos mineiros diz que aecistas já ganharam em 37 das 59 maiores cidades do Estado.
O presidente do PSDB de Minas Gerais, Marcus Pestana, contesta a interpretação publicada no Blog sobre o desempenho dos tucanos e seguidores de Aécio Neves nas eleições municipais de 2012.
Para Pestana, que também é deputado estadual em MG, é errado considerar na análise as 10 maiores cidades mineiras, que concentram 30% da população do Estado –como fez o pesquisador Fabiano Angélico. Em um artigo para contestar essa interpretação, o presidente dos tucanos de Minas argumenta que o melhor é levar em conta os 59 maiores municípios que concentram 54% do eleitorado.
Nessas 59 cidades, diz Pestana, “as forças aliadas a Aécio Neves desde 2002 venceram em 37 delas e ainda se somam duas situações peculiares (Ubá e Pará de Minas) onde prefeitos eleitos do PT e do PMDB não alinhados, têm vices-prefeitos eleitos do PSDB”. Pestana enviou também arquivo com o resultado do primeiro turno nessas 59 maiores cidades mineiras e umquadro com o número de prefeitos eleitos em Minas por cada partido em 2008 e em 2012.
Eis o artigo do tucano Marcus Pestana:
Balanço das eleições municipais de 2012 em Minas Gerais
Por Marcus Pestana, Presidente Estadual do PSDB/MG
É curioso o raciocínio que se utiliza para identificar os vitoriosos ou derrotados em cada pleito eleitoral. Na verdade, a impressão que se tem muitas vezes é que se buscam argumentos para confirmar desejos ou teses pré-estabelecidas. Mas, felizmente, não há raciocínio que prevaleça sobre a realidade. Penso nisso ao ler uma análise publicada nesse prestigiado blog, que tenta apontar o PSDB-MG, e em especial o Senador Aécio Neves, como fragilizados politicamente pelos resultados eleitorais de Minas quando, na verdade, o resultado chama atenção justamente pelo oposto e que, quem tenha como eu, percorrido o interior de Minas nas eleições – estive em 114 municípios – tenha assistido uma verdadeira disputa de diversos candidatos na mesma cidade pelo uso associado da imagem do Senador Aécio Neves e do Governador Antonio Anastasia.
É compreensível que quem não faça parte do jogo político faça contas de vitórias e derrotas somando e subtraindo legendas. Com isso, na aritmética de quem está na arquibancada, o resultado linear é simples de ser alcançado. Mas, na verdade, a política não é linear, assim como vitórias e derrotas de forças políticas não se revelam unicamente através de legendas.
Alguém tem dúvidas de que a vitória do PSB em Belo Horizonte, enfrentando o ex-prefeito, ex-ministro e uma das maiores lideranças do PT em Minas, Patrus Ananias, com intensa presença de Lula e Dilma em sua campanha é, na verdade, uma vitória do PSDB? Vitória retumbante do ex-secretário de Desenvolvimento de Aécio Neves e atual Prefeito Márcio Lacerda, sendo a primeira vez na história política de Minas que a eleição na Capital é decidida no primeiro turno.
Na verdade, em Minas, desde 2002, o PSDB prioriza a política de alianças e apoio a candidatos da base do governo, diferentemente do PT que tem uma política exclusivista e autocentrada, e não necessariamente às candidaturas próprias da legenda. Basta dizer que cerca de 80% dos prefeitos eleitos dos 853 municípios fazem parte da base de apoio do governo do PSDB e do Senador Aécio Neves em Minas. O PSDB, propositalmente, só lançou candidatos próprios em menos de 40% dos municípios, como forma estratégica de fortalecer a base do governo.
Assim, no raciocínio estreito de quem está na arquibancada que entende como vitória do projeto do PSDB apenas as vitórias da nossa legenda, o PSDB estaria inevitavelmente sempre fadado ao fracasso. Afinal, mesmo que elegesse 100% dos seus candidatos, alguém distante da realidade sempre poderia dizer: o PSDB elegeu prefeitos em apenas 40% dos municípios.
Vou me restringir à analise das 59 maiores cidades de Minas Gerais que têm mais de 40.000 eleitores, concentrando 54% do eleitorado mineiro (conforme lista anexa). Nesses 59 municípios, 4 tiveram resultado adiado para o segundo turno e aliados de Aécio Neves e Antonio Anastasia poderão vencê-las.
Das 55 cidades restantes e com resultados já definidos, as forças aliadas a Aécio Neves desde 2002 venceram em 37 delas e ainda se somam duas situações peculiares (Ubá e Pará de Minas) onde prefeitos eleitos do PT e do PMDB não alinhados, têm vices-prefeitos eleitos do PSDB.
O PSDB de Minas, dentro de sua perspectiva política ampla e aliancista, sempre teve como estratégia fortalecer o Partido sem atropelar seus aliados históricos. Costumo brincar com os amigos da Imprensa, com base em experiência concreta que, para além das fronteiras do PSDB existe o Partido de Minas, o PAA (Partido de Aécio e Anastasia).
Análises de vitórias e derrotas eleitorais, assim como de vitórias e derrotas políticas,precisam ser feitas, mas precisam respeitar a lógica política concreta e os elementos verdadeiros da realidade.
Quadro enviado ao Blog por Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas Gerais.

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