sábado, 3 de setembro de 2011

Entrevista à Tribuna do Planalto


P: Através de levantamento constatado pela equipe de política aqui do jornal, constatamos que há pouquíssima renovação na política goiana. Este é um fato exclusivamente do estado de Goiás, ou é uma realidade nacional?
R: O índice de renovação de governadores é de 66% a 73%, aumentando em 2006. Para prefeitos gira ao redor de 69% a 72%. No caso do parlamento, o índice de renovação é menor: 40% a 50% nas últimas duas décadas, mas aumentam nas regiões sul e sudeste do país.

P: A população não se cansa de ter sempre os mesmos políticos disputando eleições?
R: Há toda uma estrutura de troca de favores entre deputados federais e prefeitos/vereadores. Com a concentração orçamentária na União (entre 54% e 60% do orçamento público) há grande mediação de parlamentares para liberação e conquista de verbas e convênios federais. Assim, trata-se de uma lógica em que se limita a lista de opções para os eleitores escolherem seus representantes. Daí não ser surpresa que de tempos em tempos surja um outsider com grande votação como foi o caso de Tiririca.

P: Alguns cientistas políticos afirmam que o eleitor brasileiro (e, em especial os goianos), ainda são muito conservadores, e por isso mesmo, acabam optando por votar em figuras conhecidas, tidas como tradicionais. Isso ocorre?
R: O eleitor brasileiro está se tornando muito pragmático. Vota em quem lhe concede favores nítidos e claros. É conservador neste sentido, mas se distancia do velho curral eleitoral. É mais pragmático que antes. É o padrão da classe C, que representa 55% da população brasileira.

P: Também constatamos que os políticos de renovação são, quase que em sua totalidade, apadrinhados. Existe alguma maneira do cidadão comum fugir do apadrinhamento para inserção no meio político? Qual é o impacto dessa prática para a política brasileira?
R: Há várias tentativas de mudança deste padrão. As mais importantes estão inscritas na Plataforma dos Movimentos Populares para a Reforma Política. Ali se sugere o veto popular (quando eleitores não concordam com alguma votação do parlamento). Já se discute a limitação de reeleição de parlamentares para apenas uma consecutiva, como ocorre no caso do Executivo. Há, ainda, iniciativas criativas como o “adote um vereador” ou “adote um deputado”, que acompanham diariamente as ações do parlamentar e publicam em site.

P: Outro dado interessante é a quantidade de jovens políticos que se tornaram políticos porque os pais já estão inseridos nesse meio. Como a população enxerga esse tipo de político? Estes jovens possuem um desafio maior em ter que se desvincular ou atender às expectativas em relação às imagens familiares?
R: São vistos como “profissionais da política” e sabem os escaninhos que deve percorrer para conseguir obras e benefícios. Este é o caso de ACM Neto, mas também de Rodrigo Maia, Rodrigo de Castro e tantos outros. Nem todos, contudo, têm sucesso garantido.

P: O que pode ser feito para mudar essa realidade, que apenas permite a entrada de filhos de políticos, empresários e apadrinhados na política?
R: Que ampliemos formas de escolhas políticas. O Partido Socialista francês, ao menos uma ala do partido, já sugere a retomada do sorteio no processo democrático, como ocorria na Grécia Antiga. Algo como criar uma mescla entre voto e sorteio. Aumentaria, obviamente, a alternância. Um caso meio extremado, mas muito interessante. 

Nenhum comentário: