P: Através de levantamento constatado pela equipe de política
aqui do jornal, constatamos que há pouquíssima renovação na política goiana.
Este é um fato exclusivamente do estado de Goiás, ou é uma realidade nacional?
R: O índice de
renovação de governadores é de 66% a 73%, aumentando em 2006. Para prefeitos
gira ao redor de 69% a 72%. No caso do parlamento, o índice de renovação é
menor: 40% a 50% nas últimas duas décadas, mas aumentam nas regiões sul e
sudeste do país.
P: A população não se cansa de ter sempre os mesmos políticos
disputando eleições?
R: Há toda
uma estrutura de troca de favores entre deputados federais e
prefeitos/vereadores. Com a concentração orçamentária na União (entre 54% e 60%
do orçamento público) há grande mediação de parlamentares para liberação e
conquista de verbas e convênios federais. Assim, trata-se de uma lógica em que
se limita a lista de opções para os eleitores escolherem seus representantes.
Daí não ser surpresa que de tempos em tempos surja um outsider com grande votação
como foi o caso de Tiririca.
P: Alguns cientistas políticos afirmam que o eleitor
brasileiro (e, em especial os goianos), ainda são muito conservadores, e por
isso mesmo, acabam optando por votar em figuras conhecidas, tidas como
tradicionais. Isso ocorre?
R: O eleitor brasileiro está se tornando muito pragmático. Vota em quem
lhe concede favores nítidos e claros. É conservador neste sentido, mas se
distancia do velho curral eleitoral. É mais pragmático que antes. É o padrão da
classe C, que representa 55% da população brasileira.
P: Também constatamos que os políticos de renovação são,
quase que em sua totalidade, apadrinhados. Existe alguma maneira do cidadão
comum fugir do apadrinhamento para inserção no meio político? Qual é o impacto
dessa prática para a política brasileira?
R: Há várias tentativas de mudança deste padrão. As mais importantes
estão inscritas na Plataforma dos Movimentos Populares para a Reforma Política.
Ali se sugere o veto popular (quando eleitores não concordam com alguma votação
do parlamento). Já se discute a limitação de reeleição de parlamentares para
apenas uma consecutiva, como ocorre no caso do Executivo. Há, ainda,
iniciativas criativas como o “adote um vereador” ou “adote um deputado”, que acompanham
diariamente as ações do parlamentar e publicam em site.
P: Outro dado interessante é a quantidade de jovens políticos
que se tornaram políticos porque os pais já estão inseridos nesse meio. Como a
população enxerga esse tipo de político? Estes jovens possuem um desafio maior
em ter que se desvincular ou atender às expectativas em relação às imagens
familiares?
R: São vistos como “profissionais da política” e sabem os escaninhos que
deve percorrer para conseguir obras e benefícios. Este é o caso de ACM Neto,
mas também de Rodrigo Maia, Rodrigo de Castro e tantos outros. Nem todos,
contudo, têm sucesso garantido.
P: O que pode ser feito para mudar essa realidade, que apenas
permite a entrada de filhos de políticos, empresários e apadrinhados na
política?
R: Que
ampliemos formas de escolhas políticas. O Partido Socialista francês, ao menos
uma ala do partido, já sugere a retomada do sorteio no processo democrático,
como ocorria na Grécia Antiga. Algo como criar uma mescla entre voto e sorteio.
Aumentaria, obviamente, a alternância. Um caso meio extremado, mas muito
interessante.
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