Entrevista l Ricardo Kotscho
“‘Veja’, hoje, é panfleto”
Jornalista e ex-assessor de imprensa de Lula não crê na
existência de complô golpista da mídia, apesar dos ataques ao PT, diz que falta
repórter no Brasil, contesta Ignacio Ramonet e Luís Nassif e descarta a morte
do impresso
Jornalista Ricardo Kotscho,
que assessorou Lula, diz que seis famílias controlam a mídia no Brasil e que
elas detestam Dilma e seu ex-chefe
Renato Dias
Especial para o Jornal Opção
Especial para o Jornal Opção
“Caso Dirceu: o que Veja
fez não é jornalismo e
muito menos ético”
Ricardo Kotscho
fez não é jornalismo e
muito menos ético”
Ricardo Kotscho
O
jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de imprensa do ex-presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva, diz, com exclusividade ao Jornal
Opção, que a revista semanal “Veja” não é mais um veículo de
imprensa. Trata-se de um instrumento comercial, político e claramente
partidário, alfineta o autor de 20 livros. Apesar de suas críticas, ele não
acredita na existência de um suposto Partido da Imprensa Golpista, o PIG,
anunciado pelo polêmico apresentador Paulo Henrique Amorim. Kotscho contesta
ainda Ignacio Ramonet, francês que decretou que a internet não é mais livre, já
que os grandes conglomerados de comunicação a controlariam. Repórter de fôlego,
ele não concorda também com Luis Nassif, que reduziu a produção jornalística de
qualidade a apenas dois veículos: “Carta Capital” e “Valor Econômico”. O
autor de “Aventura da Reportagem” acha que não falta espaço para reportagens na
mídia no Brasil. Segundo ele, falta “repórter”. Aos 63 anos de idade e 47 de
exercício profissional, Kotscho está, hoje, na Record News, no R7 e na revista
“Brasileiros”.
O jornalista Paulo Henrique Amorim diz que existe no Brasil o
suposto Partido da Imprensa Golpista (PIG). Essa acusação tem fundamento?
Não gosto dessas conversas de conspiração, de PIG. Mas, o que nós sabemos, é que a imprensa brasileira tomou partido. Mas não acredito que os donos de meios de comunicação se reúnam para conspirar contra o governo federal. Sou colega de Paulo Henrique Amorim na Record News, um canal de notícias, onde conversamos bastante. A posição dos donos de meio de comunicação, que na realidade, são meia dúzia de famílias, é a mesma. Quase todos têm o mesmo pensamento político, contra o PT, contra o Lula e a Dilma. Mas não é que seja uma coisa combinada. Não acredito nisso. Outra coisa é que eles estão querendo jogar a Dilma contra o Lula. Querem mostrar a diferença entre os dois. O que eles não admitem, em hipótese alguma, é que o Lula volte em 2014. E vão fazer o possível para impedir isso, como fizeram em todas as eleições em que Lula disputou. Eles sempre apoiam quem é contra o PT, desde a época do Collor.
Não gosto dessas conversas de conspiração, de PIG. Mas, o que nós sabemos, é que a imprensa brasileira tomou partido. Mas não acredito que os donos de meios de comunicação se reúnam para conspirar contra o governo federal. Sou colega de Paulo Henrique Amorim na Record News, um canal de notícias, onde conversamos bastante. A posição dos donos de meio de comunicação, que na realidade, são meia dúzia de famílias, é a mesma. Quase todos têm o mesmo pensamento político, contra o PT, contra o Lula e a Dilma. Mas não é que seja uma coisa combinada. Não acredito nisso. Outra coisa é que eles estão querendo jogar a Dilma contra o Lula. Querem mostrar a diferença entre os dois. O que eles não admitem, em hipótese alguma, é que o Lula volte em 2014. E vão fazer o possível para impedir isso, como fizeram em todas as eleições em que Lula disputou. Eles sempre apoiam quem é contra o PT, desde a época do Collor.
Bernardo Kucinski também bate na mesma tecla e afirma que a mídia
latino-americana tem o DNA golpista.
Hoje, vivemos uma época no Brasil em que não cabe mais golpe. Não tem mais golpe naqueles moldes que sabíamos. Isso não existe mais no Brasil. Conversava há pouco, com Delúbio Soares, que a gente tem de parar de reclamar do outro lado. Nós temos o nosso lado e a grande imprensa tem o lado dela. Nós temos de ocupar os espaços que existem e que são muitos. Hoje, com a internet, não tem mais dessa de “o dono da opinião pública”. Não há mais o formador de opinião pública, que eram meia dúzia de jornalistas ou meia dúzia de empresas. Hoje, nós temos milhões de formadores de opinião. Nas igrejas, nos sindicatos, nas escolas, ou seja, em todos os lugares. Então, acho que vivemos hoje um processo de democratização da informação contra a vontade dos barões da imprensa.
Hoje, vivemos uma época no Brasil em que não cabe mais golpe. Não tem mais golpe naqueles moldes que sabíamos. Isso não existe mais no Brasil. Conversava há pouco, com Delúbio Soares, que a gente tem de parar de reclamar do outro lado. Nós temos o nosso lado e a grande imprensa tem o lado dela. Nós temos de ocupar os espaços que existem e que são muitos. Hoje, com a internet, não tem mais dessa de “o dono da opinião pública”. Não há mais o formador de opinião pública, que eram meia dúzia de jornalistas ou meia dúzia de empresas. Hoje, nós temos milhões de formadores de opinião. Nas igrejas, nos sindicatos, nas escolas, ou seja, em todos os lugares. Então, acho que vivemos hoje um processo de democratização da informação contra a vontade dos barões da imprensa.
Ignacio Ramonet diz que não há liberdade mais na internet e que
ela seria, hoje, controlada por grandes conglomerados de comunicação. O sr.
concorda com essa tese?
Não concordo. Eu sou muito otimista, pois sou de uma geração que veio da ditadura militar no Brasil. Comecei a trabalhar em 1964, então eu peguei todo aquele período de censura, ditadura, aquele negócio todo. Acho que hoje vivemos o período mais longo de liberdades públicas na história do Brasil. Eu não posso me queixar, trabalho faz 40 anos no jornalismo. Em todo lugar que trabalho, conquisto minha liberdade. Eu uso a minha liberdade. Nunca fui demitido. O jornalista profissional tem de se dar ao respeito. Tenho os meus princípios dos quais não abro mão. Temos que parar de reclamar das coisas. Eu não sei sobre esse controle da internet, pois trabalhei muitos anos no IG, que é um grande portal. Saí nesse ano porque recebi um convite da Record. Hoje, eu trabalho na televisão e no portal R7 e, hoje, escrevo exatamente as mesmas coisas que escrevia nos principais meios de comunicação do Brasil.
Luis Nassif disse ao Jornal Opção que apenas “Valor Econômico” e “Carta Capital” fazem um jornalismo ético e de qualidade hoje. O sr. concorda?
Não concordo. Luis Nassif é meu amigo. Mas acho que você tem bons profissionais e liberdades e espaços que tratam a realidade em todos os veículos. Acho que se trata também dos profissionais. Quem foi chefe de redação em determinada época fazia o jogo do patrão. Em todos os veículos, como “O Globo”, “Estadão”, “Folha” têm profissionais que conquistaram espaço, que utilizam isso e fazem jornalismo. Ao mesmo tempo, tem um monte de colunistas que querem virar líderes da oposição. Sempre acreditei no trabalho de cada um, já que temos de conquistar os nossos espaços e utilizá-los na internet, na televisão, na grande imprensa.
O futuro do jornalismo é a internet?
Isso todo mundo está falando. Eu não sei como vai ser o futuro e nem sei se estarei aqui. Qualquer que seja o suporte ou a plataforma, o que importa é o conteúdo. A tendência cada vez mais é o conteúdo da mídia impressa passar para os meios eletrônicos. Porque o que ainda sustenta a internet e os grandes portais é a mídia impressa. Não é o portal que sustenta a empresa, é pelo contrário. No meu caso, onde trabalho, na Record, há várias mídias, como rádio, portais — no caso o R7 — e a Record News, que é um canal de notícias. Tudo faz parte de um processo de horizontalização da informação. E cada um tem de cuidar de seu conteúdo, e isso vale para a empresa e para o jornalista também.
Não concordo. Eu sou muito otimista, pois sou de uma geração que veio da ditadura militar no Brasil. Comecei a trabalhar em 1964, então eu peguei todo aquele período de censura, ditadura, aquele negócio todo. Acho que hoje vivemos o período mais longo de liberdades públicas na história do Brasil. Eu não posso me queixar, trabalho faz 40 anos no jornalismo. Em todo lugar que trabalho, conquisto minha liberdade. Eu uso a minha liberdade. Nunca fui demitido. O jornalista profissional tem de se dar ao respeito. Tenho os meus princípios dos quais não abro mão. Temos que parar de reclamar das coisas. Eu não sei sobre esse controle da internet, pois trabalhei muitos anos no IG, que é um grande portal. Saí nesse ano porque recebi um convite da Record. Hoje, eu trabalho na televisão e no portal R7 e, hoje, escrevo exatamente as mesmas coisas que escrevia nos principais meios de comunicação do Brasil.
Luis Nassif disse ao Jornal Opção que apenas “Valor Econômico” e “Carta Capital” fazem um jornalismo ético e de qualidade hoje. O sr. concorda?
Não concordo. Luis Nassif é meu amigo. Mas acho que você tem bons profissionais e liberdades e espaços que tratam a realidade em todos os veículos. Acho que se trata também dos profissionais. Quem foi chefe de redação em determinada época fazia o jogo do patrão. Em todos os veículos, como “O Globo”, “Estadão”, “Folha” têm profissionais que conquistaram espaço, que utilizam isso e fazem jornalismo. Ao mesmo tempo, tem um monte de colunistas que querem virar líderes da oposição. Sempre acreditei no trabalho de cada um, já que temos de conquistar os nossos espaços e utilizá-los na internet, na televisão, na grande imprensa.
O futuro do jornalismo é a internet?
Isso todo mundo está falando. Eu não sei como vai ser o futuro e nem sei se estarei aqui. Qualquer que seja o suporte ou a plataforma, o que importa é o conteúdo. A tendência cada vez mais é o conteúdo da mídia impressa passar para os meios eletrônicos. Porque o que ainda sustenta a internet e os grandes portais é a mídia impressa. Não é o portal que sustenta a empresa, é pelo contrário. No meu caso, onde trabalho, na Record, há várias mídias, como rádio, portais — no caso o R7 — e a Record News, que é um canal de notícias. Tudo faz parte de um processo de horizontalização da informação. E cada um tem de cuidar de seu conteúdo, e isso vale para a empresa e para o jornalista também.
O impresso está com os dias contados?
Lembro-me de quando se falava que, com o surgimento da TV iriam acabar o cinema e o rádio. E isso não aconteceu. O meio mais antigo de comunicação que conhecemos é o livro. Nunca se vendeu tanto livro no Brasil como agora. E o livro tem na internet. Hoje, temos tablet, iPad, iPhone e todos esses equipamentos tecnológicos. Mas nunca se vendeu tanto livro. Eu vivo disso também. Tenho 20 livros publicados, lancei um agora e sinto que existe mercado, sim, para o impresso. Mas tem de ser um impresso de qualidade.
Qual análise que o sr. faz da “Veja”, sobretudo na cobertura dos oito anos do governo Lula?
A “Veja” já há bastante tempo deixou de fazer jornalismo. Esse negócio que vimos agora do império Murdoch, ou seja, que não é sério nem responsável, não é jornalismo. Na verdade, é outra coisa. Eu não considero a “Veja” um veículo de imprensa. Ela é um veículo comercial, político e claramente partidário. As coisas mudam. “Veja” tomou um caminho que não deu certo. Eles acabaram de contratar, na semana passada, um dos maiores banqueiros do país, Fábio Barbosa. Ele era presidente do Santander e da Febraban, e chegou a ser convidado pelo Lula, em seu primeiro governo, para ser presidente do Banco Central. Fábio Barbosa foi contratado para dar sobrevida àquela empresa. E espero que ele consiga mudar a revista. A Abril é uma grande empresa, que emprega um monte de gente, é a maior editora do Brasil. Só que está muito mal administrada, perdeu o rumo, eles estão sem direção. Contudo, acho que ainda tem conserto, pois tudo tem reparo.
Lembro-me de quando se falava que, com o surgimento da TV iriam acabar o cinema e o rádio. E isso não aconteceu. O meio mais antigo de comunicação que conhecemos é o livro. Nunca se vendeu tanto livro no Brasil como agora. E o livro tem na internet. Hoje, temos tablet, iPad, iPhone e todos esses equipamentos tecnológicos. Mas nunca se vendeu tanto livro. Eu vivo disso também. Tenho 20 livros publicados, lancei um agora e sinto que existe mercado, sim, para o impresso. Mas tem de ser um impresso de qualidade.
Qual análise que o sr. faz da “Veja”, sobretudo na cobertura dos oito anos do governo Lula?
A “Veja” já há bastante tempo deixou de fazer jornalismo. Esse negócio que vimos agora do império Murdoch, ou seja, que não é sério nem responsável, não é jornalismo. Na verdade, é outra coisa. Eu não considero a “Veja” um veículo de imprensa. Ela é um veículo comercial, político e claramente partidário. As coisas mudam. “Veja” tomou um caminho que não deu certo. Eles acabaram de contratar, na semana passada, um dos maiores banqueiros do país, Fábio Barbosa. Ele era presidente do Santander e da Febraban, e chegou a ser convidado pelo Lula, em seu primeiro governo, para ser presidente do Banco Central. Fábio Barbosa foi contratado para dar sobrevida àquela empresa. E espero que ele consiga mudar a revista. A Abril é uma grande empresa, que emprega um monte de gente, é a maior editora do Brasil. Só que está muito mal administrada, perdeu o rumo, eles estão sem direção. Contudo, acho que ainda tem conserto, pois tudo tem reparo.
O sr. acha que “Veja” faz um ensaio de aproximação com a
presidente Dilma Rousseff?
É um jogo complicado. Todas as empresas, ao mesmo tempo que criticam o governo e procuram mostrar a suposta “herança maldita” do Lula para Dilma, também têm abertura, ou seja, conversam com a Dilma. E é claro que Lula é diferente de Dilma, não precisa ser um gênio para perceber essa diferença. Mas eles fazem parte do mesmo projeto político. Trata-se do criador e da criatura. Eles procuram às vezes agradar Dilma para indiretamente atacar Lula.
Como o sr. viu a cobertura e a capa da “Veja” com José Dirceu?
Acho que foi a gota d’água. A revista se desmoralizou.
Há jornalismo ético nisso?
Não é nem jornalismo, muito menos ético.
Projeto de novo livro?
Acabei de lançar um agora. O próximo que pretendo fazer é um livro infantil junto com a minha neta Laura.
Qual o nome do livro?
“Vida que Segue”, é um livro de crônicas.
Como anda a saúde financeira da revista “Brasileiros”?
Eu não sei, pois não cuido da parte financeira. Sou repórter e escrevo reportagens toda semana. É difícil porque é uma empresa pequena, está há quatro anos no mercado fazendo um trabalho muito bom.
Não falta espaço para reportagens na imprensa brasileira?
Na realidade faltam repórteres. Espaço a gente conquista.
É um jogo complicado. Todas as empresas, ao mesmo tempo que criticam o governo e procuram mostrar a suposta “herança maldita” do Lula para Dilma, também têm abertura, ou seja, conversam com a Dilma. E é claro que Lula é diferente de Dilma, não precisa ser um gênio para perceber essa diferença. Mas eles fazem parte do mesmo projeto político. Trata-se do criador e da criatura. Eles procuram às vezes agradar Dilma para indiretamente atacar Lula.
Como o sr. viu a cobertura e a capa da “Veja” com José Dirceu?
Acho que foi a gota d’água. A revista se desmoralizou.
Há jornalismo ético nisso?
Não é nem jornalismo, muito menos ético.
Projeto de novo livro?
Acabei de lançar um agora. O próximo que pretendo fazer é um livro infantil junto com a minha neta Laura.
Qual o nome do livro?
“Vida que Segue”, é um livro de crônicas.
Como anda a saúde financeira da revista “Brasileiros”?
Eu não sei, pois não cuido da parte financeira. Sou repórter e escrevo reportagens toda semana. É difícil porque é uma empresa pequena, está há quatro anos no mercado fazendo um trabalho muito bom.
Não falta espaço para reportagens na imprensa brasileira?
Na realidade faltam repórteres. Espaço a gente conquista.
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