Os posseiros forneceram uma lição de resistência
A fotografia se espalhou pelo mundo rapidamente: mostra os moradores do Pinheirinho, favela no estado de São Paulo, vestindo capacetes, escudos e barricadas para resistir a uma ordem de despejo. (...)
Pinheirinho foi ocupado por oito anos, sem nenhum esforço do governo para regularizar a área ou desenvolver uma infra-estrutura adequada. Lar de cerca de 6.000 pessoas, a terra pertence a um fraudador do mercado financeiro, preso em 2008. Estimulado pelo boom imobiliário do Brasil, a administração local tornou-se recentemente ativo na prossecução do despejo, com a cumplicidade de juízes que pareciam querer que isso acontecesse o mais rápido possível.
Depois da primeira imagem do despejo ser divulgada, o governo federal prometeu intervir através da compra de terra e devolvê-la para os ocupantes. Pelos fundamentos expostos, um juiz federal suspendeu o despejo, apenas para ser rapidamente anulado por um outro, que declarou ser uma questão de estado. O Poder Judiciário estadual, em seguida, agiu rápido antes que os advogados dos favelados ' pudessem reagir. No domingo, as redes sociais estavam zumbindo com relatos de guerra, como cenas de brutalidade e contos, incluindo a proibição da mídia e bloqueio de celular na área, além de rumores da possível detenção de um deputado federal e um senador que tentaram intervir (mais tarde foi esclarecido que não foram detidos, mas estavam num local fechado, tentando negociar). Até sete mortes foram relatadas, incluindo um bebê, embora nenhum deles confirmado oficialmente até o momento.
Foi principalmente graças aos meios de comunicação social que informações sobre os despejos pôde ser encontrado. No Twitter, a hashtag # Pinheirinho se tornou um top durante um par de horas. Durante todo o dia, a mídia corporativa do Brasil, que tem ligações históricas ao partido no poder [em SP], tanto em nível estadual e local, relatou a história em tons suaves: manchetes destacando uma van incendiada enquanto relevava as casas das pessoas em chamas.
Em lugares como Irã e Egito, a mídia social tem funcionado como uma ferramenta contra o controle estatal da informação. No Brasil, tem ajudado a contornar um monolítico setor de mídia privada, que é sub-regulamentada e altamente concentrada (90% da indústria está nas mãos de 15 famílias). Como outros meios de produção e circulação de informação tornou-se mais facilmente disponíveis, a mídia corporativa do país começou a perder credibilidade. Os meios alternativos foram veementes em sua condenação do Governo do Estado de São Paulo no último domingo, e com razão. Mas em outra parte da esquerda política há indícios de dissimulação.
O quadro mais amplo por trás da história Pinheirinho é boom econômico do Brasil, em que a construção e a propriedade estão jogando um papel crescente. Este processo foi acelerado pelo Brasil ser escolhido como sede da Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016. Um dossiê produzido pela Coordenação Nacional de Comitês Mundial estima que cerca de 170.000 pessoas em todo o país serão expulsas devido à eventos esportivos (os números oficiais nunca foram anunciados). Em última análise, significa o estado entregando áreas públicas - aquelas ocupadss pelos pobres -, enquanto contribuintes bancam todo o processo. Talvez o pior caso até agora tenha sido no Rio , onde os despejos têm sido tão autoritários e unilaterais como a do Pinheirinho, espetacularmente militarizados. Em comparação, as vozes na esquerda têm sido muito mais baixas para denunciar isso.
O desenvolvimentismo que caracteriza o governo de esquerda Rousseff, com sua ênfase no crescimento econômico e indicadores quantitativos em vez de participação proteção ambiental e redistribuição da riqueza, encontra-se em um impasse político. Muitos na esquerda têm encontrado dificuldade para articular uma crítica desses processos. Há agitações que sugerem que isso pode estar mudando, como as campanhas recentes contra a Petrobrás (empresa estatal de petróleo), Vale do Rio Doce (mineração) e construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Eles são pequenos sinais, até agora ainda um pouco isolados, mas pode ser o começo de algo. Se assim for, Pinheirinho poderia revelar-se uma lição, uma acusação e uma inspiração.
Um comentário:
A esquerda no Brasil esvaiu-se após o fim da ditadura.É como se tudo já tivesse sido resolvido com o simples toque de recolher dado pela sociedade civil aos generais de plantão.Tivemos a meia anistia, depois a quase anistia e por fim a anistia integral que perdoou ofensores e ofendidos. Na sequência tivemos as eleições restabelecidas e finalmente voltamos a escolher o presidente do país.Como projeto político de esquerda que pensa uma Nação, chegar ao poder é muito pouco, é pífio. É preciso implementar mudanças que beneficiem interesses legítimos. E o detentor dessa legitimidade é o POVO. Não vou abrir aqui a caixa de ferramentas e pronunciar nomes obscenos, mas é essa vontade que dá.Não precisamos mais de discursos, precisamos de ATITUDE, AÇÃO. E o que eu pensava ser esquerda representado pelo PT, jaz na inércia. Meia dúzia de programas sociais paternalistas, populistas e assistencialistas, não irão fazer deste País uma grande Nação. Isso é muito pouco.Precisamos de governantes capazes de ligarem os motores do desenvolvimento e propiciarem ao povo condições de crescimento reais, efetivas, sólidas.Já nem me interessa mais qual o partido que será capaz de represetar essas aspirações que aqui descrevo, porque no Brasil os partidos não tem uma linha ideológica pautada pelos grandes conceitos da filosofia política. Vivemos uma coisa mesquinha do toma lá da cá. Isso é a baixa política, navegamos nessas águas.Os denominados "de direita" já decepcionavam e agora os que considerávamos de "esquerda" estão rezando pela mesma cartilha suja é sórdida. A esquerda no Brasil perdeu o foco e despersonalizou-se. Estamos à deriva.
Postar um comentário