terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Falecimento de Gildo Marçal Brandão
Recebo mensagem do professor José de Souza Martins comunicando o falecimento de Gildo Marçal Brandão, professor do Departamento de Ciência Política e coordenador científico do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Democratização e Desenvolvimento, da Universidade de São Paulo. Reproduzo o início de um simpático artigo que ele escreveu quando do aniversário do CEDEC, centro de estudos sociológicos que tive o prazer de ter sido membro:
Idéias e Intelectuais: modos de usar
Relutei quando Amélia Cohn me convidou para tomar parte nesse evento em torno do aniversário do Cedec. Pois não se trata de um aniversariante qualquer. Com efeito, em um país onde as instituições costumam durar o tempo de interesse de seus fundadores, quantas podem comemorar 25 anos? Em um país que tem sido submetido a mudanças aceleradas em concentrado período de tempo, quantas instituições universitárias deixaram marca no debate público? Em um país no qual a vida acadêmica tem se confrontado com tanta burocracia e risco de taylorização, quantas instituições de pesquisa conseguiram renovar o seu projeto? Em um país em que as transformações ideológicas e as trocas de campo político foram tão generalizadas e intensas, quantas instituições intelectuais foram capazes de reafirmar seu compromisso de nascença com a esquerda, e de rejuvenescê-lo?
(...)
Se minha periodização não é simplificadora, diria que a radicalização da crise na virada dos anos 90 provocou uma reação de autodefesa e distanciamento da práxis anterior, logo traduzida no esforço de incorporação dos problemas e das formas de abordagem da ciência política institucionalizada e na reflexão crítica sobre a situação e as políticas sociais implementadas pela nova democracia. O acento aqui se deslocou da “política instituinte” - um termo originário da filosofia política francesa e que denotava o horror à positividade - para os processos de construção institucional em que o país e a América Latina mergulhavam. Mas, mesmo nessa fase, permaneceu a ponta de desconfiança tanto diante do Estado como em relação a uma perspectiva estritamente maquiaveliana da política, como se o Cedec, reconhecendo malgré tout a centralidade da ética da responsabilidade, insistisse sempre no elemento de convicção, com receio de que o cálculo racional das conseqüências da ação derivasse em mero instrumentalismo e que o compromisso do ator com o caminho escolhido se reduzisse à mera accountability.
(...)
Na impossibilidade de aprofundar aqui esses argumentos, limito-me a assinalar sumariamente alguns de seus efeitos no modo pelo qual se vem analisando o Brasil. O primeiro é uma das conseqüências mais complicadas da transformação do intelectual em especialista, das ciências sociais em técnicas de racionalização das demandas sociais, do trabalho acadêmico em reprodução dos interesses e programas das agências estatais e financeiras. É que, por maior que seja sua dimensão democratizante comparada com o antigo mandarinato, a tecnificação da atividade intelectual e a fragmentação da pesquisa científica numa miríade de disciplinas e subdisciplinas fechadas e especializadas no exame de limitados objetos, acabam por bloquear a possibilidade de pensar o conjunto, reduzem a reflexão à expressão reificada do próprio processo social.(...)
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Um comentário:
Que perda!
Faço ciencias sociais na USP, aonde tive aulas com Gildo. Um ótimo professor, sua aula era uma verdadeira palestra.
Que Deus o tenha.
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