sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Eleição 2010: a disputa pela interpretação dos números
A campanha pela sucessão de Lula está tão desorganizada que agora chegamos ao absurdo de reeditar os números de pesquisas. O jogo de cena chega a ser imoral, revelando um profundo desrespeito ao cidadão. Este é o caso da interpretação dos resultados da última pesquisa IBOPE. Se compararmos a pesquisa anterior do IBOPE com a divulgada nesta semana, a diferença entre Serra e Dilma caiu significativamente. Mas comparando com a pesquisa Sensus/CNT (que indicou empate técnico entre os dois) a diferença é maior. Este fato levaria, de cara, a se questionar a metodologia de um e outro instituto de pesquisa. Mas o que fizeram alguns editores da grande imprensa? Compararam o resultado das duas pesquisas (IBOPE e Sensus) e tiraram as conclusões de baixa qualidade intelectual: "Dilma e Serra estagnaram", "Serra mantém diferença", e assim por diante. Em nenhuma das pesquisas é possível tirar tais conclusões.
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Um comentário:
Caro Rudá,
No início do século passado um russo chamado Andrei Kolmogorov, criou uma série de regras matemáticas, que se tornaram os fundamentos da teoria de probabilidade e estatística. Estas regras são chamadas de axiomas. Entretanto a ciência que Kolmogorov criou era puramente teórica e não tinha nenhuma conexão com a realidade. Posteriormente diversos matemáticos estudaram o chamado "o primeiro teorema fundamental de probabilidade" que foi a (Na realidade existiam trabalhos sobre esse tema mesmo antes dos axiomas de Kolmogorov). Esta lei tentava conectar o mundo teórico da probabilidade e estatística com eventos reais tais como um jogo de azar por exemplo.
Traduzindo, quando o Sr joga um dado não viciado, qual a probabilidade de tirar qualquer número? A resposta lógica é 1/6. Quer dizer que se o Sr jogar o dado 6 vezes, deveriam aparecer todos os números, sem que haja repetição (o que na realidade não ocorre). Porém, caso o Sr jogasse esse dado 5 mil vez o Sr notaria que a aparição dos números do dado convergiriam para 1/6, com uma certa margem de erro. Caso o Sr jogasse os dados 15mil vezes, veria que os valores estariam próximos de 1/6 de aparições para cada face do dado novamente, mas com o erro igual ou menor (menor, mas muito próximo do erro de 5mil amostras). Isto é a “Lei dos Grandes Número” que afirma que a medida que um experimento é repetido várias vezes, a probabilidade observada se aproxima da real.
Nas pesquisas eleitorais é um processo semelhante a esse que ocorre. O fato da Vox Popoli e da CNT apresentarem resultados semelhantes apenas confirma que as duas têm metodologias de colher as amostras semelhantes. Enquanto que o valor da Ibope destoa de ambas, se analisarmos todas as pesquisas realizadas até agora, podemos observar que Vox Popoli e CNT sempre apresentam valores próximos, enquanto que a Ibope sempre aparece com uma porcentagem um pouco maior para o candidato do PSDB. Caso fossem comparadas as metodologias de amostra dos institutos talvez fosse possível identificar a razão de tal diferença.
Eu analiso essa situação da seguinte forma, mas isso é uma análise particular minha, eu posso estar errado, mas se dois institutos realizam uma pesquisa e os valores destes convergem isso significa que toda essa viagem matemática que eu descrevi brevemente está certa.
Com relação a análise de resultados futuros e tendências ai já fica mais complicado e não me arrisco a dizer nada, apenas espero ansiosamente que minhas expectativas sejam confirmadas.
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