Entrevista aos estudantes de Jornalismo Político da PUCMinas
1) O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido apoia "todos os presidentes que governam a favor do povo e não aceitam a hegemonia imperialista", citando os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Peru, Ollanta Humala. O que faz com que o PT se identifique com esses governos?
R: Não é o PT como um todo. É importante ressaltar a trajetória e preferências de Rui Falcão, que já foi o principal apoiador de José Dirceu, depois se afastou, para se reaproximar. Ele foi da VAR-Palmares, pró-soviética. A grande maioria do PT sempre se declarou anti-soviética e está estampado no manifesto de criação deste partido. De qualquer maneira, existe uma evidente diferença entre os governos citados e o governo colombiano, para citar um exemplo. Seria possível dizer mais. Peru, Paraguai, Uruguai, entre outros, tiveram apoio explícito, material e técnico, do PT nas campanhas que elegeram os atuais Presidentes da República. Há, sem dúvida, uma articulação nesta região.
2) O PT sofreu inúmeras mudanças ao longo de sua trajetória política. O partido está tentando reafirmar sua identidade originária com esse tipo de discurso e apoio? Por quê?
R: Não. É um exercício de identidade, mas também de geopolítica. Este "bloco" ideológico não é assim tão coeso, mas se une contra governos de centro e de direita. Há uma nítida diferença entre o fordismo lulista e a tendência mais populista do justicialismo argentino, ou ainda o populismo mobilizador e com forte inspiração militar do chavismo. Não são iguais. Mas formam uma frente ampla contra o que consideram forças neoliberais.
3) Quais ganhos políticos Chavéz pode ter com o apoio do PT?
R: Com o PT haveria poucos ganhos, embora pudesse contar com apoio logístico. Mas com a imagem do lulismo, poderia amenizar seu ímpeto beligerante. O lulismo combateu a pobreza e catapultou o país para o 6o PIB mundial. Também construiu uma ponte ideológica, atraindo o alto empresariado. Contudo, se a relação se estreitar, Chávez ficará refém do lulismo, algo impensável oito anos atrás.
4) Como o senhor avalia as relações políticas entre o Brasil e a Venezuela hoje?
R: Já foram muito tensas, embora a grande imprensa brasileira não tenha explorado esta análise. Chávez e Lula disputaram a América Latina. Inicialmente, Chávez avançou mais, principalmente quando propôs o Banco del Sur e todos investimentos e suportes venezuelanos à Argentina, Bolívia, Equador, entre outros. Pouco a pouco, as estatais brasileiras e a crise aberta com aumento de desemprego e do custo de vida venezuelanos convergiram para o Brasil tomar a dianteira. Se o apoio do PT/Lula for realmente necessário à manutenção do chavismo, a balança penderá ainda mais para o Brasil.
5) Embora a declaração do partido não signifique que o governo de Dilma ou o ex-presidente Lula tenha se declarado a favor da reeleição de Chavéz, alguns jornais venezuelanos estão associando os nomes e as imagens dos presidentes brasileiros à reeleição de Chàvez. Na sua opinião, qual o interesse da imprensa com esse tipo de assimilação?
R: A imagem vitoriosa e menos beligerante do lulismo em relação ao chavismo. E a capacidade de gestão de Dilma.
6) Na sua opinião, em que pode se assemelhar ou diferenciar o Chavismo de outros populismos latino-americanos, como o Lulismo?
R: O lulismo não é populista. O conceito de populismo não é preciso, mas significa uma relação direta do líder carismático com as massas, desrespeitando as organizações sociais. O lulismo não opera assim. Pelo contrário, ele atraiu as organizações empresariais, sindicais e da sociedade civil para o interior do Estado. Em muitos casos, promoveu o que em sociologia se denomina neorcorporativismo, ou o ingresso de representações corporativas em arenas estatais para definição ou negociação de políticas públicas. Este é o caso do CDES e vários outros fóruns e câmaras setoriais ou de definição de políticas governamentais. É muito mais complexo que o populismo. O chavismo, como já afirmei, tem um pé no militarismo, origem de Chávez. É algo mais conflitivo, ameaçador, que namora com práticas (não mais que isto, até o momento) totalitárias, de mobilização e vigília permanente de amplos setores populares.
7) Os governos petistas (de Lula e Dilma) e o governo Hugo Chavéz compartilham alguma decisão ou postura política? Por quê?
R: Nenhuma. As origens são distintas, a história de seus partidos e da construção da imagem das suas lideranças, a forma de enraizamento social, o bloco de poder montado, o programa de governo. Os pontos divergentes são muito maiores que os convergentes. A despeito de algumas alas e correntes petistas desejarem que o PT abrace o castrismo e o chavismo.
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