segunda-feira, 21 de maio de 2012

Entrevista do novo líder da esquerda grega: Alexis Tsipras


Alexis Tsipras entrevista: «A Grécia está em perigo de uma crise humanitária"


O líder da Syriza, o partido lidera a reação anti-austeridade, diz Grécia está descendo em "inferno social"
  • guardian.co.uk , 
Alexis Tsipras
Alexis Tsipras: "não podemos insistir em um programa que se revelou catastrófica e ineficaz." Fotografia: Yorgos Karahalis / Reuters
Vou fazer um comentário sintético da entrevista de Alexis Tsipras ao The Guardian. A grande imprensa o rotula de extrema-esquerda ou líder radical. Na verdade, ele se apresenta como um enfant terrible, um Daniel Cohn-Bendit contemporâneo.
Em sua entrevista, ressalta que não houve negociação política na Europa antes da tomada de medidas de austeridade na zona do Euro e, destaca, muito menos em relação à decisão a respeito da crise fiscal grega. Sustenta que o povo grego não foi consultado.
A partir daí, ataca a tutela de seu país pelo FMI e sua consequência: aumento de desemprego e coesão social em colapso (o que nós, sociólogos, denominamos de anomia), colocando a Grécia em "crise humanitária". Afirma que o Estado social se desintegrou, metade dos jovens desempregados e que o clima psicológico é de pessimismo, ocorrendo suicídios. 
Até aí, você percebe algo de extrema-esquerda?
O líder grego dá uma pista e informa que visitou a Venezuela para supervisionar as eleições. Desde então, se encontra com o ministro das Relações Exteriores de Hugo Chávez. Questionado se o presidente venezuelano seria seu ídolo, adota um discurso muito próximo das lideranças sociais dos anos 1980 no Brasil: não existem heróis ou salvadores. Porque quem salva uma Nação, sugere, é o coletivo.
Cita, como referência, o movimento de mudança política em seu país ("allagi"), depois de 1980. A forte expectativa com as esquerdas de seu país foi minada por escândalos, interesses privados, a ausência de meritocracia na estrutura estatal [isto é discurso de extrema-esquerda?]. 
Sustenta, sobre este período:
A Nova Democracia e o PASOK, os dois partidos que estavam à frente do destino do país durante todos esses anos, nos levaram para a zona do euro, trabalharam na base do lucro fácil na bolsa de valores, empréstimos fáceis. (...) Por mais de uma década, entre 1996 e 2008, a Grécia registrou crescimento positivo. As taxas de crescimento anteriores aos Jogos Olímpicos de Atenas estavam em 7% ou 8%. Para onde foi este crescimento? Foi para os bolsos de alguns corruptos e para os bancos, fruto de subornos para construções dos Jogos Olímpicos. 
Alexis parece movido por um certo desespero, rancor e decepção com este período. Porque quando tenta entabular uma plataforma, não consegue.
Afirma não ser contra o euro ou a ideia de uma Europa unificada ou união monetária. Mas sustenta que os países membros precisam assumir o custo de empréstimos, quando um dos países desta união se encontra em crise. Sustenta que a "guerra" que estão vivendo não é entre povos e nações (aqui, responde ao conflito com o governo alemão), mas entre os povos e o capitalismo. A Grécia, em sua visão, estaria na linha de frente desta guerra, contra o choque neoliberal. Afirma que a atual encruzilhada é a mesma de 1929 (a Grande Depressão) e destaca que a Europa precisa de um novo New Deal e um novo Rossevelt. Mais adiante, cita Keynes como referência. 
Finaliza pregando algo extremamente vago:
Syriza [seu partido] acredita na justiça social, na  democracia e igualdade, numa sociedade onde não há exploração do homem pelo homem. (...) Temos uma visão do socialismo no século 21 (...). E uma sociedade justa pode ser criada a partir de medidas positivas. É por isso que acreditamos que esta espiral descendente tem que parar.
É evidente que se trata de um discurso defensivo, vago, pouco agressivo, inclusive, em relação ao establishment. Mais um líder carismática que surge num momento de crise e desesperança social. De tudo o que diz nesta entrevista, o mais acertado é que é um personagem de uma nação anômica. 

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