De volta à BH. Fiz um giro de três dias por várias cidades onde desenvolvemos consultoria. Ontem, em São Paulo, tive algumas reuniões com entidades sindicais, como Sinesp e Fecomerciários. Foi tão intenso que não consegui atualizar o blog.
Para quebrar os momentos em que revisava o planejamento do dia seguinte, comecei a ler três livros.
O primeiro que comento é o mais impressionante, de tirar o fôlego: Memórias de uma Guerra Suja, relato do policial assassino de militantes da esquerda, Cláudio Guerra. O livro não é bem estruturado. Os dois autores fazem uma introdução (cada um, uma) desnecessária. O de Marcelo Netto é uma babação de ovo em ex-patrões que cria a impressão de culpa ou autopromoção. O relato, na primeira pessoa, também é desorganizado, mas as informações são, por si só, muito importantes.
Cito o caso que me chocou mais: a queima de corpos de militantes nos fornos da Usina Cambahyba, em Martins Lage, distrito de Campos de Goytacazes/RJ, cujo proprietário era Heli Ribeiro Gomes, ex-vice governador do Rio de Janeiro e membro da TFP. Imagine a possibilidade do açúcar que utilizamos num inocente cafezinho ter sido produzido com o combustível que veio de brasileiros assassinados cruelmente.
Comentarei os outros dois livros mais adiante: "Nelson Rodrigues por ele mesmo" e "A Era de T.S. Eliot". Os dois livros, de certa maneira, se cruzam, embora adotem estilos muito distintos. O livro sobre Nelson Rodrigues foi organizado por sua filha, Sonia Rodrigues, que faz uma apresentação comovente. Nelson aparece relatando momentos de sua vida, muitas vezes adotando um tom mais comedido que o que acostumamos a ler. Já o livro sobre Eliot, escrito por um importante autor conservador norte-americano, Russell Kirk, aprofunda uma época louca e confusa. Época e autores (Nelson Rodrigues e Eliot) se cruzam por absorverem as tormentas de sua época. Kirk é tão venerado como crítico e acadêmico em seu país que as primeiras 104 páginas do livro são dedicadas a ele (embora o livro seja dedicado a Eliot!). Daí a peculiaridade deste livro. Porque o autor não retrata, apenas, mas aprofunda o conceito de "imaginação moral" criado por Edmund Burke. Uma crítica ao que o autor denomina de "racionalidade refinada", arrogante, "apartada das grandes fontes da sabedoria".
Farei um breve comentário em outra postagem.
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