Boron afirma que a esquerda se pergunta por qual motivo não é uma efetiva alternativa de governo. A partir daí, faz um chiste, sugerindo que há dois fantasmas errantes que atormentam este "Hamlet". Um, é a fragmentação e desorganização do universo popular e sua subordinação às políticas clientelistas implementadas por Cristina Kirchner (sejamos sinceros, não é algo apenas da Era Kirchner!). Cita que dados de várias fontes (consultorias e universidades) indicam que um quarto da população argentina estaria mergulhada na pobreza.
O outro "Hamlet" seria o fatalismo ou "a verdade da revolução". Sem dúvida, esta a esquerda brasileira já ultrapassou. Ao menos, parte significativa. É algo que alenta aqueles que não conseguem, de forma alguma, qualquer significado eleitoral. Talvez, por aí, se entenda a fantasia do posadistas de imaginarem que a revolução viria da bondade de extra-terrestres. Homero Cristali, o nome de origem de J.Posadas, era.... argentino. Não é mera coincidência. Na Argentina há ramificações trotskistas (J.Posadas era trotskista) que vão do PST (Partido de los Trabajadores Socialistas) ao MAS (Movimento al Socialismo) e LIT-QI e Partido Obrero.
Mas Boron não aprofunda estas peculiaridades e exotismos. Atilio prefere detalhar os dois Hamlets. Sugere que o kirchnerismo fragmentou toda esquerda argentina, fiel à tradição peronista. Teria dividido, segundo o autor, a poderosa Central de Trabajadores Argentinos, em uma ala pró-K e, outra, anti-K. O mesmo teria ocorrido com organizações das pequenas e médias empresas articuladas na Unión Industrial Argentina. E vai listando: movimento estudantil, Partido Radical, socialistas...
Boron sugere que se utilizou a lógica "primeiro divisão e depois a fagocitação".
O rosário de erros vai se desdobrando.
O Partido Comunista teria decidido pelo apoio crítico à Cristina, pelo caráter progressistas de algumas políticas como a prisão de envolvidos com a ditadura militar, a reorientação latinoamericana da política externa, a "asignación universal por hijo" (uma política similar à anunciada no 1o de Maio pela Presidente Dilma) e extensão de benefícios previdenciários. Já os trotskistas se alinham em oposição radical ao goveno, tal como fazem na Bolívia, Equador e Venezuela. Obtiveram, nas últimas eleições presidenciais, pouco mais de 2% dos votos (Cristina obteve 54% do total).
O que interessa é perceber que a esquerda argentina gravita ao redor da "Era K". Para o bem ou para o mal, não conseguem ser protagonistas. No máximo, juízes.
Talvez seja uma imagem que poderíamos nos ater, nós brasileiros.
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