Maquiavel ensinava que entre ser amado e temido, melhor o segundo sentimento.
Nas minhas andanças como consultor de governos (há vinte anos), percebi que a grande maioria dos gestores públicos não aprendeu com esta máxima. O pragmatismo que granjeia nosso país-continente diminui ainda mais a inteligência política. É lugar comum a noção que em final de mandato, o chutão para frente é o melhor negócio. Mas não é. Anunciar e inaugurar obras á rodo pode ser um tiro no pé. Primeiro, porque o cidadão distante do mundo da política formal não consegue criar uma visão de conjunto. Assim, percebe a obra que aparece e aquele que lhe convém. Mas não percebe lógica administrativa e raramente pensa a cidade como um todo. Se o gestor for muito pragmático, não consegue explicar ou traduzir o que faz. A partir daí, inaugura não apenas obras, mas uma corrida maluca onde quem faz mais é melhor. Imagine se fosse assim em nossa casa! Seria um show de arte kitsch. Quantidade pode saciar, mas pode reforçar uma lógica pedinte, sem construção de cidadania, o que só alimenta o status quo tupiniquim.
E é aí que voltamos à máxima de Maquiavel: o que os políticos pragmáticos desejam é o amor. As obras anunciadas se transformam em capitulação à ânsia de ser amado. O líder abandona sua função pedagógica. Ao cair nesta vala comum sentimental, desconhece que terá que alimentar eternamente este amor com dádivas. E amor não correspondido pode gerar ingratidão. Ao menos nesta lógica. Isto é que ensina Maquiavel. Tornando-se ingrato, o objeto do desejo do político ofenderá sem dó. Algo que não acontece com quem teme. Porque estará sempre temendo o castigo ou punição. Quem teme é mais precavido, pensa mais antes de ofender.
Enfim, a política tupiniquim está mais infantilizada. E mais carente.
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