quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Partidos e corrupção: minha entrevista ao jornal O Popular (Goiás)
1) A que se devem, em sua opinião, os movimentos anti-corrupção recém-organizados no Brasil?
R: Trata-se de uma organização legítima de uma parcela diminuta da população brasileira, quase sempre oriunda da classe média tradicional (não a emergente), sempre mais afeta ao discurso moralista. Envolve os antigos formadores de opinião que, hoje, não têm o peso que tiveram antes da emergência da Classe C. Esses formadores não conseguem influenciar os emergentes no Brasil, como revelam as recentes pesquisas eleitorais.
2) Esses movimentos, frequentemente, levantam a bandeira "contra a corrupção". Mas não citam nomes, casos ou instituições específicas envolvidas em corrupção. Haveria um descolamento entre esses movimentos e os problemas institucionais brasileiros?
R: Não se trata de movimento social, mas uma mera mobilização extemporânea. Movimento social é um conceito que sugere perenidade mínima, o que não é o caso. O grande problema dessas mobilizações atuais (incluindo as manifestações de cunho religioso) é que não conseguem construir uma leitura global sobre o país e, portanto, não apresentam um projeto ou proposta para o país. Já vimos este filme nos anos 1980, quando movimentos sociais pujantes questionaram a institucionalidade pública, mas não conseguiram construir alternativas reais.
3) Qual é a origem da corrupção? Qual a melhor forma de combatê-la?
R: Há várias motivações e não apenas uma. A política diz respeito ao grau de competividade que envolve os grandes partidos. Uma campanha eleitoral, hoje, é milionária, o que motiva a construção de redes de apoiadores e financiadores. Mas financiador não visa ideologia, mas negócios futuros. Combatemos publicamente os políticos corruptos, mas o foco está neste circuito fechado que envolve grandes empresas. Um grande empresário ou executivo corruptor na cadeia seria um sinal de mudança que abalaria todo este sistema.
4) Em Goiás, os principais movimentos que se intitulam anti-corrupção estão ligados a instituições públicas (CGU, MPF...) e seitas, como a Maçonaria, movimentos religiosos. Como envolver a sociedade não-institucionalizada?
R: O tema não atrairá, no curto e médio prazos, a grande massa da população brasileira. Por um motivo muito simples: a maioria da população brasileira é Classe C, emergente, que está consumindo como nunca. O mundo da vida privada está apartada deste mundo político. E os emergentes sabem disto e sabem como uma dimensão - das suas vidas privadas - se articula à dimensão política: pelo voto. E o voto, hoje, gera o imperativo da sustentabilidade do consumo desta classe emergente. Em outras palavras: se um político não falar em consumo e crédito, perde instantaneamente o voto da maioria da população. Assim, a corrupção passa ao largo do que interessa aos emergentes. É tema marginal, coisa de entendidos, daqueles que participam do circuito político como profissão.
5) Listas para criação do PSD tiveram denúncias de assinaturas falsas. Por que os partidos parecem não representar os anseios da sociedade?
R: Porque todo sistema é apoiado numa concepção de partido-empresa. São emrpesas de captação de votos, organizada por estruturas burocráticas que vendem imagem, articulam acordos e constróem caixas eleitorais poderosas. Esses operadores ou administradores partidários não são conhecidos do grande público, mas são os que de fato fazem a máquina funcionar. Assim, votamos em fetiches, em imagens, e não no reflexo real do mundo partidário. Na medida em que os partidos se nivelaram por baixo, os militantes partidários foram substituídos pelos políticos profissionais (assessores de parlamentares e quadros da burocracia partidária). E esse pessoal administrativo dos partidos não estão nas ruas. Perceba que os verdadeiros comandantes dos partidos são, hoje, parlamentares. Não são lideranças sociais. Os vasos que comunicam partidos à sociedade estão interditados.
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