quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O nome forte do governo Anastasia

Discreta e competente. Estes são os predicados que mais se ouve a respeito da Secretária da Casa Civil e Relações Institucionais do governo Anastasia, Maria Coeli Simões Pires. Trata-se do nome forte do governo Anastasia que eclipsou as estrelas Danilo de Castro e Andrea Neves, os articuladores que, somados ao próprio Antonio Anastasia, formavam o núcleo duro da gestão Aécio Neves.
Em palestra recente, Coeli destacou o papel da gestão em rede, que seria, em suas palavras, a difusão do poder decisório da esfera pública em rede articulada de governança. Arrisco dizer que seria a vertente mais social-democrata da concepção da Nova Gestão Pública que Anastasia implantou em Minas Gerais. Menos tatcherista e mais próxima da fase inspirada em Osborne & Gaebler.
Em outras palavras: a Nova Gestão Pública, adotada no Reino Unido e Nova Zelândia, teve início com a gestão Margareth Tatcher numa vertente ultra-liberal que adotava conceitos da iniciativa privada na gestão pública. A privatização e noção de cidadão como cliente foi a tônica e chegou a alterar completamente o perfil dos gestores. Em hospitais, o dogmatismo gerencial alterou o currículo dos médicos que geriam os departamentos como empresa. Em seguida, esta concepção, que no Brasil foi cunhada inicialmente pelo então ministro Bresser Pereira de Estado Gerencial, a reestruturação do aparelho de Estado ganhou as contribuições de Tom Peters e, com ela, a famosa reengenharia (que Deus a tenha!). Finalmente, num momento de maior abertura (ou queda da ânsia ultraliberal), chegou-se a retomada da noção de cidadão como cidadão (e não como cliente). E aí surgiram relações mais abertas com a sociedade. De um lado, na filiação mais próxima da lógica empresarial, emergiram os paramercados (estruturas de gestão semi-autônomas que coordenam a lógica do serviço público com critérios empresariais). No Brasil, o mais próximo desta sugestão são as agências reguladoras. De outro lado, numa lógica mais societal e participativa, nascem estas elaborações de gestão em rede. 


6 comentários:

Lingua de Trapo disse...

Rudá, bom dia.
Eu confesso que tenho imensa dificuldade para entender como alguns acadêmicos de alto nível com você se arrepiam tanto ao fazer uma mínima menção ao verbete REENGENHARIA. Que raio de preconceito é este?

Rudá Ricci disse...

Justamente porque sou acadêmico (e não político) que tenho a obrigação de esclarecer. A reengenharia foi responsável pela desestruturação de uma imensa gama de empresas em todo o mundo. Ninguém com bom senso e informação técnica continua a pregar esta que foi uma erva daninha no mundo empresarial. Imagine, então, a desmontagem da máquina estatal que pode fazer?
Trata-se de um excesso que fez até Tom Peters recuar.
Portanto, não é preconceito de minha parte. É conceito, mesmo.

Rudá Ricci disse...

Vou citar um estudo para fundamentar minha resposta.
Leia C.K. Prahalad, professor da Universidade de Michigam e consultor da Kodak, da AT&T e da Colgate-Palmolive. Para Prahalad,a reengenharia, bem como todos os sistemas que têm como ponto central a eliminação de níveis, hierarquias e, sobretudo, empregos, representariam simples escoras. No livro “Competindo pelo Futuro”, escrito com Gary Hamel, ele investe contra a prática predatória da reestruturação. O sucesso estaria na redução de cortes, mas não na melhoria do faturamento líquido. No Brasil, João Bosco Lodi é um dos expoentes da crítica à reengenharia. Geraldo Caravantes, também no Brasil, sugere que a reengenharia é um plágio de outras técnicas.
Enfim, a lista é enorme. Acadêmica.

Lingua de Trapo disse...

Ok. Algumas (muitas) empresas entraram pelo cano com a Reengenharia assim como outras tantas entraram pelo cano ao seguirem, cegamente, o guru da vez. Muitas ainda entrarão pelo cano fazendo a mesma coisa. Eu sou Administrador e, você há de convir comigo, independentemente de matiz ideológico, o que interessa mesmo no mundo corporativo é atender os interesses dos acionistas, geralmente resultados, ponto final. Eu não acredito que a autofagia cometida por algumas empresas e que serviram de base para estudos que condenaram a Reengenharia tire o caráter inovador desta técnica de gestão que, embora o nome não seja mais dito, seu paradigma permaneceu e muitas empresas tiraram proveito disso e se reinventaram.

Rudá Ricci disse...

Bom. Agora parece que você entendeu o ponto de vista de quem critica esta receita de bolo. Porque virou marketing e não proposta administrativa. E quem tem anos de estrada (como eu) sabe que não existe receita de bolo nesta área. É preciso enfrentar cada problema com soluções concretas e refletidas à luz da situação real. Algo como o Barcelona que jogou hoje: adota todo um modelito que faz apenas o arroz com feijão, mas na hora certeira é a genialidade e criatividade que produzem o gol.
O que mais me preocupa é utilizarem conceitos da gestão privada em órgãos públicos. Não há qualquer similaridade entre os dois ambientes. A começar pela ênfase na gestão política, de interesses difusos, partidários, sindicais, de eleitores desorganizados e organizados, parlamento etc.

Lingua de Trapo disse...

Concordo parcialmente com você a respeito da administração pública (já trabalhei nela), justamente pelo que você escreveu no seu último parágrafo, mas vou deixar para outra hora esta discussão, talvez no dia em que nós, contribuintes, agirmos com os políticos assim como agem os acionistas com os Administradores no setor privado.

Um abraço, boas festas e feliz 2012 e, parabéns por mais um título do seu Corinthias pois, para mim restou somente a compensação dos 6x1 pelo ano medíocre do meu Cruzeiro.