domingo, 5 de junho de 2011
Entrevista com Vladimir Palmeira: "a luta armada foi um erro"
Entrevista Exclusiva | Vladimir Palmeira*
Renato Dias
Especial para o Jornal Opção
Quais as diferenças de estilo entre Lula e Dilma Rousseff?
É cedo. Pelo visto até agora, a presidente é mais administrativista e mais dura que seu antecessor.
Qual o seu balanço dos oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva?
O governo Lula foi um governo convencional. Dentro desta ótica, foi o maior governo do Brasil. Três elementos fundamentais: política externa independente, grande avanço na distribuição de renda entre assalariados e crescimento econômico sem aumento da inflação. Faltaram as reformas. Não avançou na reforma agrária, não tocou no sistema financeiro, não conseguiu liderar a reforma política. Finalmente, a diferença na distribuição de renda entre assalariados e empresários continua enorme. Nunca os banqueiros ganharam tanto.
Antonio Palocci deve prestar explicações sobre a sua evolução patrimonial?
Claro. Como todos os políticos.
A Comissão da Verdade sairá do papel?
Creio que sim.
Quem deve vencer a queda de braço no governo Dilma Rousseff: monetaristas ou desenvolvimentistas?
Sei lá! Mas as coisas não são tão preto e branco. Por exemplo, o superávit primário grande é uma necessidade. É o contraponto de uma baixa substancial da taxa de juros absurda que o BC estabelece.
A luta armada foi um erro?
Foi. Eu já criticava aquele estilo de luta armada na época. Sempre acreditei na revolução como manifestação das massas. Mas louve-se que nosso pessoal pelo menos acabou com aquela história de só papo. Praticou suas convicções.
O modelo chinês — economia de mercado, monopólio do poder pelo PCC e controle do Estado pela velha guarda da nomenklatura — deve ser o futuro de Cuba?
Cuba marcha para isso. Só não foi mais longe pela burrice dos EUA.
Qual foi o tema de sua tese de doutorado?
A estratégia leninista até 1917 e a concepção leninista de Estado.
Ela será publicada em livro?
Não. É muito grande. Quando tiver tempo,talvez publique partes.
Há algo de atual em Karl Marx?
Enquanto houver capitalismo haverá algo de atual em Karl Marx
O socialismo ainda é uma possibilidade histórica?
O socialismo de Marx está ultrapassado. Muita coisa mudou no próprio capitalismo. Mas, como o capitalismo produz e reproduz antagonismos, não é impossível a conquista de uma sociedade mais justa, sem a propriedade privada dos meios de produção.
Qual o principal legado de 68?
Consciência crítica, não aceitar nada a priori, lutar pelo que se acredita.
O que o sr. faz, hoje?
Sou professor de história e de economia.
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Um comentário:
Ele é bem direto nas respostas.
E tinha outra alternativa? Claro que tinha, mas devemos respeitar ao militantes que optaram por esse caminho, teve gente que nem isso fez.
E como pode dizer que a luta armada pode ser erro, se a não luta armada não conseguiu derrubar a ditadura?
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