Nas duas últimas postagens que fiz neste blog (abaixo), reproduzi duas obras que foram analisadas por Fredric Jameson no seu livro sobre o pós-modernismo (a lógica cultural do capitalismo tardio). Jameson sugere que Warhol e Van Gogh trabalham sobre o mesmo conteúdo: sapatos. Mas no caso de Van Gogh, a obra é intensa, carregada de humanismo, expressivo, angustiado e solitário. Já na obra de Warhol os sapatos são jogados na tela sem história, sem humanidade, indiferente, algo que se parece com o mundo da mercadoria exposta numa propaganda de televisão. Diamond dust shoes, segundo o filósofo norte-americano, é gélido e petrificado e poderia representar sapatos em prateleira da ante-sala de uma câmara de gás nazista.
Do mundo autoral para a estética a-histórica, os simulacros pós-modernos.
Pois é. Mas um pouco mais abaixo, postei obras de Dalí, Miró e Portinari. Nos dois primeiros, a expressão surrealista. No último, o realismo demarcadamente político de um genial artista comunista.
Fico me perguntando se quanto mais próximo da dimensão onírica, mais próximos estaríamos da estética sem lastro histórico (ou, ao menos, da história social, já que os sonhos se relacionam com a história individual e o inconsciente).
E me pergunto se não vivemos na política contemporânea justamente este jogo da estética pós-moderna que consome as histórias sociais. O simulacro como essência do sucesso político.
2 comentários:
Quanto a isso, avançar um ponto: há quem se dê conta da era do simulacro, e a viva, a defenda, a torne "tese" e livro; e há quem se depare com ela, e resista, e a enfrente. Esperar para ver o que sairá do outro lado desses dias, e quem, e como.
Quanto ao homo aestheticus, recorremos a Terry Eagleton, que abre seu The ideology
of aesthetics com este enunciado: a “Estética nasceu como um discurso do corpo” (Eagleton
1978: 13), significando uma oposição ao pensamento, à razão, ao conceito; não que a estética
não seja uma ciência.Segundo Emmanuel Lévinas (1906-1995), a originalidade da filosofia encontra-se no solo da ética, e não em uma atitude estética.De acordo com Nietzsche (1844-1900), a vida confunde-se com a arte.Será possível uma harmonia entre ética e estética?O conceito de simulacro envolve uma discussão sobre igualdade e diferença, semelhança e disparidade, representação e criação. Deleuze (1998, p.259-271), quando analisa o simulacro definido por Platão, propõe uma reversão, uma ruptura direcionada à criação, positivando a noção de simulacro, potencializando a diferença e a dessemelhança, ou seja, apontando rupturas com modelos, identidades, processos de representação e de identificação.
O platonismo funda o domínio da representação, definido numa relação intrínseca ao modelo e fundamento. A representação consiste na adequação entre a idéia e a coisa, o abstrato e o real, a fim de discernir o verdadeiro do falso. Platão introduz uma distinção entre cópia e simulacro. Para tanto, erige um modelo, uma espécie de identidade pura, existente no Mundo das Idéias que serve de fundamento (original) para selecionar e classificar as cópias, as coisas que pertencem ao Mundo Sensível. Modelo ou fundamento constitui uma abstração que ocupa o primeiro lugar.A política contemporânea está imersa nessa conceituação que voce suscita Rudá.Vivemos a era do simulacro.Grande abraço.
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