sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Minha exposição no seminário de hoje da Band

Hoje, às 9h00, eu e o professor Otávio Dulci abrimos o seminário O Jeito de Minas, no hotel Mercure Lourdes, em BH. O seminário é organizado pela Band News e Instituto Cultiva.
Abaixo, reproduzo a estrutura da minha exposição:












O JEITO MINEIRO DE FAZER POLÍTICA

a)     Uma teoria para explicar Minas
        Há consenso nacional que o jeito político mineiro é o mais distinto e peculiar do país
        Não há como reduzir esta peculiaridade à análise de embate entre classes sociais ou escolhas racionais de agentes políticos
        Houve, por algum tempo, alguns teóricos que procuraram interpretar tal peculiaridade. Teorias deterministas, como as de João Camilo de Oliveira Torres, para quem as montanhas de Minas definiriam um padrão de comportamento; ou teorias que procuraram estabelecer a mescla contraditória entre modernidade e tradição. Mas não há continuidade de estudos e análises mineiras sobre aquilo que atrai tanto o Brasil: o enigma mineiro;
        A situação é  ainda mais instigante quando percebemos que o comportamento político e social mineiros foram os que mais se alteraram, nos últimos vinte anos, em toda região sudeste;
        O que restou em Minas da Crônica da Casa Assassinada?

b)     O Jeito Mineiro
                     Estado com maior influência da alma portuguesa. Mais que Bahia, envolvida na cultura africana. Melancolia e intimismo, personalismo e espírito comunitário, são marcas significativas
                     Há, ainda, a lógica matriarcal, advinda do êxodo dos ciclos econômicos mineiros que deixou viúvas de maridos vivos em várias regiões do Estado. O jeito mineiro de fazer política é o mais feminino do país. Xica da Silva, Dona Beija são ícones do que se encontra, ainda hoje, no meio rural mineiro: a mulher que administra a família.

c)     A estrutura básica
        O jeito mineiro possui uma estrutura básica de comando: um líder que depende de chefetes locais ou regionais. O peculiar é que o que conta são as negociações e movimentos regionais e quase nunca o discurso e compromissos do líder.
        Aécio Neves foi pródigo em atualizar esta lógica. Sua liderança era absolutamente apoiada em pequenas lideranças regionais. Daí a liberdade para afirmar que apoiava candidatos definidos por seu partido que não surtia efeito algum prático. Em seu governo proliferaram acordos eleitorais que deram lugar à figuras exóticas como Lulécio ou Dilmasia;
        O que faz da prática política mineira assunto para pequenos círculos e conversas reservadas. São múltiplos acordos locais e regionais que compõem, de fato, a expressão pública. Em Minas, é o privado que fala mais alto.

b)     A mudança recente
                    A nuance atual nesta prática foi provocada pela emergência do lulismo
                    O lulismo possui uma lógica que se aproxima do fordismo: trata-se de um pacto desenvolvimentista, sob o comando de um Estado centralizador e concentrador de recursos
                    Até o último ano do governo Lula, Aécio Neves tinha lugar especial no projeto lulista por quebrar a unidade tucana, o que facilitava a construção da coalizão presidencialista;
                    Mas o desafio, desde a vitória de Dilma Rousseff, passou a ser o avanço sobre as bases eleitorais tucanas, em especial, São Paulo e Minas Gerais
                    O que rompe com o pacto de convivência até aqui estabelecido em Minas Gerais. E o que transforma as regiões mineiras em palco de um jogo de xadrez dos mais agressivos e dinâmicos, tendo alianças petistas e tucanas como pivôs do conflito;
                    Mas a essência do jeito mineiro permanece: a disputa é regional, tendo a região metropolitana e o sul do Estado como as regiões mais cobiçadas. E tendo nas lideranças regionais sua ponta de lança. Daí os partidos serem, hoje, totalmente comandados por parlamentares, deputados estaduais e federais.
                    Lideranças sociais têm pouca expressão política real nos partidos. A militância partidária é acessória. E os projetos partidários reduziram-se aos processos eleitorais. Não há projeto global para Minas.
                    Daí, parece comum que a emergência de novas lideranças partidárias serem, comumente, parentes diretos de lideranças antigas, clãs políticos ou apadrinhados diretos (ex-assessores de lideranças).


2 comentários:

Dulcinéa disse...

Rudá, adoraria ter ouvido sua exposição.
Não tem um vídeo que eu possa adquirir? Pago para ter esse vídeo.
Porque não escreve um livro sobre o tema?
Abraço.

Dheborah alves disse...

Gostaria de ter assistido, apesar de discordar com um ponto: os líderes sociais são também a base que os partidos e seus militantes têm e buscam como apoio.