Comecei a entabular as leituras para meu próximo livro que terá como tema a política mineira e suas transformações recentes. Desde que cheguei à Minas Gerais me surpreendi com a falta de reflexão sistemática sobre a política mineira, tão distinta das práticas do restante do país. A maioria dos núcleos de pesquisa acadêmica da área trabalha com temas nacionais (algo parecido com o que ocorre no Rio de Janeiro) ou só chegam até a primeira metade do século XX. Não entendo.
Comecei minhas leituras pelo último livro de Frei Betto, "Minas do Ouro". É um romance histórico que me parece um início mais leve. Na sequência, "O home e a montanha" (de João Camillo de Oliveira Torres, sobre as influências da geografia sobre a alma mineira), "No tempo mais que perfeito" (de Jader de Oliveira, sobre vida de BH nos anos 1950) e "História, arte e sonho na formação de Minas" (de Mauro Werkema).
Além deste futuro livro, tenho planos para produzir um segundo livro, mais didático, sobre o que venho denominando "Fordismo Lulista". Estou cada vez mais convencido que os oito anos de governo Lula possuem uma linha de continuidade com o getulismo e conformou um modelo fordista tupiniquim (obviamente que estou empregando o conceito da Escola da Regulação francesa). Não foi um governo qualquer, com uma gama de mudanças, erros e acertos muito superior aos outros governos pós-regime militar. Infelizmente, o envolvimento partidário e ideológico está obstaculizando um debate mais profundo e crítico sobre o lulismo.
Uma palavra sobre o didatismo. Embora seja um risco em se cair no reducionismo e numa mera descrição acrítica, parece cada vez mais fundamental tentarmos traduzir reflexões críticas e conceitos para uma leitura mais ampla. Paulo Freire me dizia (quando eu ainda era estudante da PUC-SP) que intelectual deve pensar difícil e falar fácil. Somente assim sua fala está aberta à crítica e observações do outro. Caso contrário, o risco é cair numa espécie de cabotinismo, um auto-reconhecimento que impele ao reconhecimento dos pares (também herméticos). É mais que óbvio que não se filosofa apenas em alemão. O cuidado, neste caso, é manter o rigor conceitual e procurar criar um percurso da redação que se inspira na fenomenologia: começa pela percepção, caminha pela tentativa de diálogo com a percepção do outro (pela polêmica, pela desconstrução ou pela sistematização) e gradativamente se constrói o conceito. É exatamente o caminho inverso dos teóricos polemistas e algo totalmente distinto da sofisticação moderna (quase sempre presa ao impacto e discurso personalizado, idiossincrático), mas também distante do relativismo pós-moderno. É puro diálogo, tentativo de reconhecimento e estímulo à reflexão, à troca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário