Porto alegre, 2012: de volta para o futuro
André Marenco, Professor de Ciência Política da UFRGS
Porto Alegre é uma cidade parada no tempo. Enquanto o Brasil todo cresceu com prefeitos que souberam aproveitar a expansão da economia impulsionando investimentos, obras e modernização, nos últimos 10 anos Porto Alegre ficou uma cidade mais pobre, mais provinciana, mais decadente. O trânsito saturado, o cais do porto que não sai do lugar, o metrô que não temos, a educação fundamental que apresenta índices cada vez piores, o lixo nas ruas, os buracos que fazem aniversário, serviços públicos distantes, uma administração esclerosada. Porto Alegre merece mais, nós merecemos mais.
Quem pode mudar isto?
Nos anos 90, o PT foi o responsável por inovar a agenda de políticas públicas na cidade, introduzindo o Orçamento Participativo, a inversão nas prioridades de investimentos, a organização do Fórum Social Mundial. Com a administração popular Porto Alegre transformou-se em referência internacional de uma política de esquerda, renovada em escala local. Contudo, a última administração petista (2000/04) já revelava sinais de esgotamento, que Fogaça e os eleitores perceberam em 2004. Passados quatro anos, o PT continuou sem conseguir inovar sua agenda, e foi novamente derrotado por Fogaça.
O PT no governo federal foi capaz de formular políticas que resultaram em crescimento econômico, redução da pobreza e ampliação do acesso ao ensino superior. O Ciência sem Fronteiras, por exemplo, deve produzir à médio prazo resultados significativos em conhecimento científico e inovação tecnológica. O PT de Porto Alegre, em contraste, parece ser um partido preso ao passado: suas lideranças são as mesmas de 20 ou 30 anos atrás. Suas idéias, também. Isto não é um fenômeno novo. Nos anos 80, o trabalhismo viu suas lideranças envelhecerem cultuando seus feitos, sempre no passado.
Eleitores são mais racionais do que supõe o saber convencional. Quando o PT representou inovação para a cidade, obteve o apoio de eleitores que nunca chegaram a ser petistas. Desde que sua fórmula se esgotou, e não foi mais capaz de reinvertar-se, viu seus votos serem reduzidos a menos da metade:
Para tirar Porto Alegre da inércia que a domina há 10 anos, o primeiro passo será reeditar a aliança que permitiu a vitória de Tarso Genro no primeiro turno em 2010. Mas para isto, temos de saber quem pode melhor representar a alternativa de uma esquerda arejada e inovadora em 2012? Quem pode reaproximar o eleitorado de Porto Alegre de uma candidatura de esquerda, após as derrotas de 2004 e 2008? Quem pode melhor falar de futuro e não, apenas, do passado? Quem é o nome mais forte para representar em Porto Alegre as mudanças que Lula e Dilma fizeram no país?
Manuela não é apenas a candidata de esquerda melhor colocada nas pesquisas. Seus índices de intenção de votos refletem o reconhecimento de ela não é apenas mais do mesmo, mas a candidata com inteligência e criatividade para reinventar uma agenda de inovação para a cidade.
Uma agenda de inovação deve se assentar sobre dois eixos: (1) agregar tecnologia à administração, como forma de incrementar transparência, mecanismos de participação individual de cada cidadão, eficiência e qualidade na prestação de serviços públicos; (2) atração de investimentos, necessários para modernizar a cidade e ampliar a oferta de empregos, especialmente de maior qualificação.
Porto Alegre, que foi referência internacional de participação coletiva, deve ser agora exemplo internacional de uso da tecnologia para monitorar a qualidade na prestação de serviços públicos e oferecer mecanismos de participação individual do cidadão nos assuntos públicos. É importante incentivar a participação das pessoas em assembléias deliberativas; mas não se deve criar a figura de um cidadão de segunda classe que –como a maioria- por não participar de reuniões não tenha a possibilidade de expor suas opiniões, direitos e reclamações.
Governos de esquerda bem sucedidos –de Lula aos antigos welfare-state europeus- foram marcados por um trade-off entre Estado e mercado. Preservaram o dinamismo econômico do mercado, mas corrigiram seu caráter anárquico e regressivo, não abrindo mão do papel indutor e regulador das instituições públicas. O mesmo vale para um município como Porto Alegre, suas administrações devem ser ousadas e agressivas para trazer investimentos à cidade, sem abrir mão de planejamento e responsabilização sobre impactos urbanos e ambientais.
“Manuela não tem experiência no Executivo”. Mas Olívio Dutra a tinha em 1988 quando começou a promover as mudanças que colocaram Porto Alegre no mapa-mundi? Aliás, não foi justamente esta a crítica que os conservadores sempre dirigiram a Lula, antes de 2002, que ele nunca havia dirigido sequer uma carrocinha de pipoca? “O PT tem história em Porto Alegre, e por isto não pode abrir mão de candidatura própria”. Sim, o trabalhismo também tinha uma história ainda maior, não soube se renovar, não foi capaz de dialogar com outras forças e quase desapareceu.
Esta é a hora da Manuela. Ela tem a força eleitoral e o espírito inovador para tornar Porto Alegre, novamente, uma referência internacional, agora de uso da tecnologia para promover a qualidade dos serviços públicos e a participação de cada cidadão na gestão pública.
P.S. Manuela foi minha aluna no curso de Ciências Sociais da UFRGS, antes de eleger-se pela primeira vez. Chamou minha atenção pela seriedade, aplicação e, sobretudo, inteligência. Obteve conceito A na disciplina. Alimentei a expectativa de convencê-la a candidatar-se a uma vaga no Pós-Graduação em Ciência Política. Perdemos uma pesquisadora, mas o Brasil ganhou uma liderança política inteligente e promissora.
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