Acabo de ler As Esganadas. Acho que é o melhor livro do Jô Soares. Mais um thriller com toques de humor. O momento mais cômico é o que ronda as páginas em que Caronte (se quer saber quem é, leia o livro), dopado, começa a declamar sobre os caixões de duas gordinhas assassinadas. É hilário Caronte recitar: "esta menina gorda, gorda, gorda... tem um pequenino coração sentimental..", enquanto salta de um lado para o outro, resvalando nos caixões e fugindo dos sopapos e rasteiras dos presentes que não suportam a blasfêmia.
Novamente um português aparece na trama - Tobias Esteves -, ex-detetive exilado no Brasil e mais inteligente que os pragmáticos policiais tupiniquins. Acho que Jô Soares quer dizer alguma coisa com esta insistência, mas me escapa...
Aliás, são muitos recados, já que destaca o getulismo e a censura do Estado Novo e, o mais intrigante, o preconceito que os gordos (no caso, as gordas) sofrem e que são objeto central do serial killer. A epígrafe do capítulo 13 é revelador:
Dentro de cada mulher gorda
há uma mulher magra suplicando para sair.
Fora de cada mulher gorda
há uma mulher mais gorda ainda
suplicando para entrar.
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