sábado, 2 de julho de 2011

Falecimento de Itamar Franco



Itamar Franco, presidente da República de 1993 a 1994, morreu aos 81 anos neste sábado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado desde o dia 21 de maio, quando foi diagnosticado com leucemia. Itamar foi eleito, assim como Eliseu Resende, em virtude do apoio de Aécio Neves. Já não tinha força política no Estado de Minas Gerais. Não era um personagem de destaque nas articulações políticas. Quando Presidente da República, outro momento de sorte em sua carreira política, um jornalista do alto clero da Folha de São Paulo me disse que ele era um político que se preocupava com a quantidade de clipes gastos, ou seja, ficava nas miudezas da ação pública. Fui consultor da área educacional da gestão dele como governador mineiro. Ele era muito irritadiço e rancoroso. Foi por este motivo que decidiu atacar a gestão FHC até mesmo dissimulando um confronto entre a PM e o Exército quando da possível privatização de Furnas. Exagerado, pouco mineiro, foi um político de sorte. Nada mais que isto.

Itamar foi mais um político de Minas Gerais que nasceu na Bahia (assim como Newton Cardoso). Foi do Centro Acadêmico da Faculdade de Engenharia de Juiz de Fora, auxiliar de estatística do IBGE, topógrafo do DNOS e auxiliar do SESI. Ingressou na política aos 23 anos e perdeu a eleição para vereador em 1954, pelo PTB.  Perdeu as eleições municipais de 1960, quando se apresentou como candidato a vice-prefeito de Juiz de Fora. No MDB teve mais sorte, se elegendo prefeito em 1966, em pleno regime militar. Em 1972 reelegeu-se. Em 1975 foi eleito senador e se tornou vice-líder do MDB. Em 1976 propôs a união política contra a minoria radical (era o momento em que uma bomba havia explodido na ABI do RJ). Em 1978 defendeu a adesã0o do MDB à Frente Nacional pela Redemocratização, que lançava a candidatura de Euler Bentes Monteiro à Presidência da República. Logo depois, declarou-se (esta foi sua prática constante) decepcionado com Euler Bentes. No mesmo ano, compôs a CPI do acordo militar do Brasil com a Alemanha. No ano seguinte, defendeu a legalização do PCB (daí sua relação afetiva, durante anos, com os comunistas cariocas que aportaram em Juiz de Fora, vários deles instalados na universidade federal sediada naquele município).

5 comentários:

Angeline Coimbra disse...

Creio que ficará para sempre marcado na trajetória de Itamar Franco a sucessão ao presidente Collor, após um impeachment. Por isso, simboliza a conquista de estabilidade política, que de uma forma ou de outra, foi fundamental para que o Plano Real prosperasse com a consequente estabilidade econômica.

Karla Radd disse...

Prezada colunista,

O que faz um colunista de respeito divulgar em seu blog a tragetória de um ex-presidente, por "sorte" ou divulgar em sua home page uma tragetória incompleta de um dos melhores políticos que o Brasil teve a "sorte" de conhecer. Divulgando principalmente as derrotas ou "sortes" que o mesmo obteve, quando até mesmo seus adversários políticos divulgam nota de consternação e sentimento de perda que o Brasil vive hoje.
Aliás o Brasil em que se vive hoje, por grande mérito do nosso ex-presidente, que em tão pouco tempo de mandato realizou mais proezas que muitos presidentes em até oito anos.
Homem honesto, de caráter e corajem como poucos vistos em nossa política atual.

Rudá Ricci disse...

Karla,
Não entendi seu comentário. Dá a impressão que não gostou de meu comentário. O que posso dizer é:
1) Homem público deve ser avaliado com rigor. Não sou de bajular. Sou analista político;
2) Não analiso a vida particular e nem idolatro. Analiso a vida pública, aquilo que pode ou não ter contribuído para a vida daqueles que procurou representar;
3) Não faço coluna social. E me sinto obrigado a contribuir na informação e reflexão política em qualquer fato político que analiso. Por vários motivos. Um dele é a falta absoluta de informação da população brasileira. O segundo é tentar superar o que Sérgio Buarque denominou de "homem cordial", que tenta se relacionar com as lideranças e homens públicos pelo afeto. É preocupante que se perca o espírito crítico sobre um homem público apenas em função de sua morte.
No mais, sua mensagem sustenta que ele era homem de caráter e coragem. Releie meu texto e veja se há algo que contradiga isto. E perceba que seu texto também não contradiz o que escrevi.
O Brasil precisa ser menos íntimo com os políticos. Precisa urgentemente ser mais crítico. E deixar de idolatrar ou odiar. Itamar foi um político mediano. Nada mais. Em dez anos, vamos saber qual seu tamanho histórico. Tenho a impressão que como pessoa foi maior que como político.

Valéria Borborema disse...

Meu caro Rudá,

Bravíssimo,

Existe um costume no Brasil de beatificar quem morre, seja ele quem for. Fiquei espantada com comentários de políticos sobre Itamar Franco. Está certo que se trata de um ex-presidente, ex-governador, etc e tal, mas daí conceder a ele um status maior do que realmente foi sua trajetória pública é um pouco demais. Aliás, Rudá, li, acho que em seu Twitter, um comentário a respeito da demagogia de alguns políticos em relação a Itamar. Tentei acessar o link quando descobri seu novo endereço eletrônico. Você fez um post aqui em seu blog e depois retirou? O que houve?

Rudá Ricci disse...

Eu não postei nenhum comentário além deste que você acessou. Pensei em escrever um artigo a respeito, mas poderia parecer provocação ou até mesmo oportunismo (pela negação, mas poderia parecer que estou querendo me aproveitar e aparecer). No twitter eu tive uma troca de mensagens um pouco ríspidas com o presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana. Ele foi um dos que exagerou nas, digamos, lágrimas por Itamar. A questão é que pouco antes de morrer, Itamar manifestou mágoa por ninguém ter lhe rendido homenagens pelos 80 anos, tal como recebeu FHC. Estes que tanto "sentiram" a morte dele, estavam onde quando do aniversário dele?
Sobre meu novo endereço, a mudança ocorreu no final da semana passada.